O Sermão da Montanha: Estudo Nº 42: Orando o Pai Nosso: Introdução: Como Devemos Orar

Lago refletindo árvores e gramado com uma montanha ao fundo. O sermão do monte.

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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – Como Devemos Orar

Mateus 6:5-6 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 42 da série: O Sermão da Montanha. Introdução da série:  Orando o Pai Nosso

Por Markus DaSilva, Th.D.

Neste e no próximo estudo sobre o Sermão da Montanha, abordaremos o preâmbulo da passagem na Bíblia mais conhecida no mundo, que é a oração do Pai Nosso. Antes de ensinar aos seus discípulos (e a todos nós) como devemos orar, Jesus nos alertou contra duas armadilhas que todo o cristão deve se prevenir. A primeira, e que lidaremos neste estudo, é a oração exibicionista que rouba do Senhor a sua glória. Um comportamento oposto ao de João Batista, que exaltou a Cristo e diminuiu a si próprio: “é necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). A segunda armadilha, é o conceito errado de que para se obter uma resposta de Deus a oração precisa conter certas palavras ou precisa ser repetida várias vezes, como uma espécie de mantra. Ambas as armadilhas de Satanás têm como objetivo retirar aquilo que é a mais importante parte na oração: a fé. O cristão que exclui a fé da sua oração, deixa de ser um guerreiro em sua armadura e espada flamejante e passa a ser um menino lutando contra os demônios com um cabo de vassoura: “pois as armas que usamos nesta batalha não são humanas, mas são poderosas em Deus, para demolição de fortalezas” (2Cor 10:4).

“Existe algo misterioso e poderoso quando estamos a sós com o nosso Criador.”

O Perigo de Imitarmos os Maus Exemplos dos Nossos Líderes

Mais uma vez, no Sermão do Monte, o Senhor utilizou dos maus exemplos dos religiosos da sua época para nos ensinar de uma forma bem clara que o nosso relacionamento com Deus é algo pessoal e íntimo: “E, quando orardes, não sejais como os hipócritas [Gr. υποκριτής (ipocrités) s.m. hipócritas, atores]; pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens [Gr. άνθρωπος (ánthropos) s.m. homem, ser humano]. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa [Gr. μισθός (misthós) s.m. recompensa, pagamento, salário]. Mas tu, quando orares, entra no teu quarto (falaremos sobre esse cômodo mais abaixo) e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto [Gr. κρυπτός (kriptos) adj. secreto, oculto, escondido]; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mat 6:5-6). O fato de Jesus ter alertado os seus ouvintes quanto aos costumes dos escribas e fariseus de orar em pé nas sinagogas e de orar nas esquinas demonstra que havia entre os seus discípulos uma tendência de imitar os líderes religiosos, como se tudo aquilo que faziam recebesse a aprovação de Deus. Este é um aviso para que todos nós sejamos cautelosos na nossa avaliação do comportamento daqueles que são nossos superiores na igreja. Muito embora sempre devemos respeitar a autoridade que Deus os deu, não devemos de forma alguma imitar aquilo que fazem se não estiver de acordo com a Palavra (Mat 23:3). No juízo final ninguém poderá argumentar para Deus: “Sou inocente deste pecado porque apenas imitei o comportamento dos meus líderes!”

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O Mandamento de Jesus Não se Trata de Postura Física ou Local das Orações

Nos dias de Jesus os líderes das sinagogas tinham por hábito prestar honra a certos membros da congregação os convidando para irem à frente e orar em pé, enquanto a congregação ficava ajoelhada ou prostrada. Desta forma, não apenas a sua voz seria mais facilmente ouvida como também todos poderiam ver quem era a pessoa que orava. O fato de que a pessoa orava em pé, e não de joelho ou prostrada, obviamente não é o que Jesus condena, pois essa era uma posição comum de se orar nas sinagogas e posteriormente nas igrejas. Lembrando que até a reforma protestante no início do século XVI, quando o ponto principal da liturgia passou a ser o sermão ou homilia, as igrejas não possuíam assentos e o público ficava em pé ou de joelho, mas se o local estivesse cheio as pessoas não teriam como se ajoelhar e as orações eram então feitas em pé. O Próprio Jesus fez referência à oração em pé no seu mandamento sobre o perdão: “Quando estiverdes em pé orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que também vosso Pai que está no céu, vos perdoe as vossas ofensas” (Mar 11:25). [Gr. και όταν στήκητε προσευχόμενοι (ke otan stikete prosirrômene) Lit. E quando vocês ficarem em pé orando]. E pelo fato de Jesus ter mencionado que os fariseus faziam as suas orações nas sinagogas e esquinas, não devemos entender com isto que Jesus está nos dizendo que as nossas orações só podem ser feitas em alguns lugares específicos, pois a Bíblia relata Jesus e seus discípulos pregando e orando em vários locais diferentes. O ponto do mandamento não é a posição do corpo ou o local onde as orações são feitas, mas sim a motivação de quem está orando.

A Motivação dos Escribas e Fariseus nas Suas Orações

Mais uma vez, assim como Ele o fez alguns versículos antes quando nos alertou sobre como devemos fazer as nossas boas obras, Jesus aqui neste estudo nos instrui sobre qual deve ser o verdadeiro motivo das nossas orações. Os fariseus e escribas eram condenados por Cristo porque possuíam a motivação errada: “pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa” (Mat 6:5). O verbo no grego [φαίνω (feno) v. brilhar, espalhar luz, se destacar, glorificar] traduzido no português e em várias outras línguas como: “para serem vistos” (NVIport, ARC, NVT, TAR, NAA, ARA, NTLH, TB2010), poderia ter sido melhor traduzido como: “para se destacarem” ou ainda melhor: “para brilharem”, pois esse foi o significado mais provável das palavras de Cristo. A Bíblia de Jerusalém em português [BJport] (mas não a em espanhol [BJesp] ou inglês [NJB]), captou bem o significado com a tradução: “Para serem glorificados”.

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Uma Melhor Tradução do Verbo no Grego

Este detalhe da tradução acima pode a princípio soar como algo simples, mas quando vemos que este mesmo verbo é usado repetidamente se referindo ao Messias, podemos ver que Jesus estava nos alertando quanto a algo bem mais sério do que simplesmente querer ser visto orando. A implicação é a de que a intenção real, ainda que inconsciente, dos fariseus era roubar a glória que pertence somente a Deus: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; a luz brilha [φαινει (fêni) brilha {presente do indicativo}] nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (João 1:4-5. Ver também João 5:35; Apo 1:16). Um outro uso comum deste verbo é se referindo à luz que os fiéis seguidores de Jesus devem brilhar neste mundo em trevas: “para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e perversa, entre a qual brilhais [φαινεσθε (fênesthe)] como lâmpadas no mundo” (Fil 2:15). Em ambos usos do verbo, podemos ver que o alerta de Cristo é bem mais sério do que muitos pensam e ensinam. A oração aceita por Deus deve deixar bem claro a nossa posição de seres carentes da sua misericórdia. Nossas orações não devem conter sequer uma gota de auto-engrandecimento, se queremos que elas cheguem até o coração de Deus: “Mas o publicano [Gr. τελώνης (telonis) s.m. cobrador de impostos, publicano], estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu [Gr. ουρανός (uranós) s.m. céu], mas batia no peito, dizendo: ó Deus, tem misericórdia [Gr. ἱλάσκομαι (iláskome) v. ser misericordioso, ser apaziguado] de mim, um pecador! [Gr. αμαρτωλός (amartolós) adv. pecador, mundano, rebelde, malvado]” (Luc 18:13).

Uma Forma Segura de Fazermos as Nossas Orações

Jesus, então ensina uma forma de orar que nós, os seus seguidores, podemos usar sem que corramos o risco de cair no erro da auto-exaltação e assim tentar roubar a glória que pertence somente a Deus: “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mat 6:6). A palavra traduzida como quarto [ταμείον (tamíon) s.n. despensa, cômodo interno] neste verso na realidade significa “despensa” ou “armazém”. Na época de Jesus, a maioria das casas possuía um pequeno aposento reservado para guardar alimentos, secos ou conservados no sal, para o uso da família. Normalmente era pequeno, sem janela e o único cômodo interno com uma fechadura, ou tramela: “Considerai os corvos, que não semeiam nem ceifam; não têm despensa [ταμείον (tamíon)] nem celeiro; contudo, Deus os alimenta” (Luc 12:24. Ver também Mat 24:26). Esta “despensa” era o local que o Senhor nos diz que devemos nos retirar, fechar a porta e orar.

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O Nosso Momento de Intimidade Com Deus

O mandamento de Jesus de que quando orarmos devemos nos trancar em um cômodo de despensa é bem gráfico e claro quanto ao seu significado: a oração é acima de tudo um momento íntimo entre a criatura e o seu Criador. É neste local isolado de tudo e de todos que o homem carente se vê face a face com o único ser no universo que pode satisfazer as suas mais profundas necessidades. É neste local separado que ele, sem se preocupar com os olhares condenadores das pessoas, pode derramar a sua alma e implorar pela misericórdia, pelo perdão e pela restauração do seu relacionamento com o Pai: “Esconde o teu rosto dos meus pecados [Heb. חטא‎ (rret) s.m. pecado], e apaga todas as minhas iniquidades [Heb. עָוֺן‎ (avon) s.f. iniquidade, pecado, culpabilidade]. Cria em mim, ó Deus, um coração [Heb. לב (lêv) s.m. coração] puro, e renova em mim um espírito [Heb. ‏רוח (rruack) s.f. espírito] firme. Não me lances fora da tua presença, e não retire de mim o teu Santo Espírito [Heb. רוח הקודש (rruack kôdesh) np.div. Santo Espírito]; me devolva a alegria da tua salvação [Heb. ישע (yeshá) s.m. salvação, libertação, vitória], e sustém-me com um espírito obediente [Heb. נדיב (nadiv) adj. nobre, generoso, voluntário]” (Sal 51:9-12).

O Elemento Sobrenatural nas Nossas Orações Pessoais

Queridos, existe algo especial, sobrenatural, nos minutos ou horas que passamos em diálogo com o nosso Pai. Infelizmente, a grande maioria dos cristãos não utiliza dessa arma contra o pecado e as forças do mal com a frequência e duração que deveria usar, e como consequência muitos dos nossos irmãos estão imersos em todos os tipos de ofensas e passando por todos os tipos de sofrimentos desnecessariamente. Existe algo misterioso e poderoso quando estamos a sós com o nosso Criador. Podemos confirmar isto até mesmo na forma que o evangelista Mateus descreveu o secretismo que ocorre quando nos fechamos em um local para a oração: “ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mat 6:6). Notemos o uso em dobro do adjetivo “secreto”. O segundo uso do termo se trata do emprego normal da palavra: “e teu Pai, que vê em secreto” [Gr. και ο πατήρ σου ο βλέπων εν τω κρυπτώ (ke o patir su o vlepon en to kripto) Lit. e Pai teu que vendo em secreto]. Esta é a mesma construção gramatical no grego usada no versículo quatro, quando Jesus nos alerta em relação às nossas ofertas, já explicada no estudo anterior. Ou seja, o nosso Pai, Deus, é um ser espiritual (João 4:24) e não podemos vê-lo, ou mesmo identificar a sua presença em nenhum lugar, mas, sendo Ele onipresente sabemos que não existe um local onde Ele não se encontra, e portanto é certo que mesmo no mais isolado e privativo dos locais Ele vê e ouve as nossas orações: “Tu me cercaste em volta, e puseste sobre mim a tua mão. Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não o posso atingir. Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua presença?” (Sal 139:5-7).

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A Misteriosa Frase de Mateus

Acima falamos do segundo uso do adjetivo “secreto”, mas o primeiro uso do adjetivo no versículo seis é um uso misterioso e além da possibilidade de um completo entendimento pelo ser humano: “teu Pai que [está] no secreto”, [Gr. πατρί σου τω εν τω κρυπτώ (patri su to en to kripto)]. Este versículo em Mateus é a única passagem na Bíblia que lemos esta construção gramatical. Estudiosos debatem por séculos o que Mateus quis dizer com essa frase sem chegarem a um acordo. Lembrando que a frase original não possui o verbo “estar”, ou qualquer outro verbo, e então se lê: “Pai teu no secreto”. As publicadoras de Bíblia então optaram por adicionar o verbo “estar” (ARA, TAR, NAA, NVIport, KJV, RSV, RVA, BJesp, NVIesp, RVA2015, LBLA) ou o verbo “ver/observar” (ARC, NVT),  para dar um sentido na frase, mesmo sem saber o que o autor queria de fato expressar. Considerando o contexto das palavras de Jesus, o que entendo ser o significado da frase de Mateus é que os eventos que ocorrem durante as orações dos seus filhos fiéis não foram revelados e não podem ser compreendidos por nenhum ser criado, seja ele físico ou espiritual, mas apenas pela Trindade. O secretismo da oração também tem a ver com o mistério da fé. Quando o filho obediente de Deus começa a dialogar com o seu Pai totalmente pela fé — pois ele está se dirigindo a um ser invisível e inaudível — confiando que Ele está ouvindo cada palavra que é dita e disposto a atender aos seus pedidos, então eventos além do entendimento de homens, de anjos ou de demônios, começam a se desdobrar de tal forma que o desejo de um simples mortal se une aos desejos do Criador onipotente, e de fato aquilo que é pedido ocorre, de acordo com as palavras do profeta: “E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Isa 65:24) e como também nos disse o apóstolo João: “e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos [Gr. τηρέω (tiréo) v. guardar, vigiar, manter, preservar] os seus mandamentos [Gr. εντολή (endolí) s.f. ordem, comando, regra, mandamento], e fazemos aquilo que lhe é agradável” (1Jo 3:22). E também o próprio Senhor: “Por isso vos digo que tudo [Gr. πάντα (panda) adj. s.n. πας: tudo, todo, qualquer] o que pedirdes [Gr. αιτέω (etéo) v. pedir, rogar, exigir] em oração [Gr. προσεύχομαι (proséfrrome) v. orar, rezar], crede [Gr. πιστεύω (pistévo) v. crer, confiar, estar persuadido] que o recebereis [Gr. λαμβάνω (lamvâno) v. pegar, receber, tomar], e tê-lo-eis” (Mar 11:24).

O Mistério do Agir de Deus

Quando consideramos tudo isto, vemos então que o “Pai no secreto” de Mateus, não se refere à presença invisível de Deus, mas sim à sua forma de atuar em resposta às nossas orações, que é incompreensível para qualquer ser criado. A maneira que Deus cumpre os seus propósitos, a série de eventos que Ele faz ocorrer para atingir os seus objetivos, a sua escolha de instrumentos físicos e espirituais, é uma maneira “no secreto”, conforme o próprio Senhor disse a Jó quando este questionou a sua forma de agir: “Quem é este que obscurece o meu conselho com palavras sem conhecimento?” (Jó 38:2). Ao qual Jó, sabiamente respondeu: “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido. …por isso falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosas demais, e que eu não conhecia” (Jó 42:2-3). E também conforme José respondeu a seus irmãos no Egito, quando eles temiam que agora que o seu pai Jacó morreu, José iria se vingar do que fizeram contra ele anos atrás: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; Deus, porém, intentou o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida” (Gen 50:20). Espero te ver no céu.
 
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