O Sermão da Montanha (Sermão do Monte): Estudo Nº 73: Os Falsos Profetas: Lobo em Pele de Cordeiro

Dois bois pastando em uma subida íngreme e ao fundo montanhas com neve, ilustrando o sermão da montanha

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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – Lobo em Pele de Cordeiro

Mateus 7:15 Estudo Teológico e Comentário Bíblico Nº 73

Por Markus DaSilva, Th.D.

Dando sequência a esta longa série, Jesus está para terminar o Sermão da Montanha e agora é o momento para o Senhor deixar claro para os discípulos a parte prática de tudo aquilo que lhes foi ensinado neste dia histórico em Israel. Nos últimos estudos o foco foi em nós mesmo; Jesus nos censurou em várias áreas: juntar tesouros nesta terra passageira (Mat 6:19-24); preocupar desnecessariamente com o amanhã (Mat 6:25-34); julgar erroneamente as pessoas (Mat 7:1-5); ter discernimento ao pregar o evangelho (Mat 7:6); orar corretamente (Mat 7:7-12); e estar disposto a entrar e caminhar no caminho difícil que leva à salvação (Mat 7:13-14). Neste e nos próximos quatro estudos, no entanto, Jesus não nos censura, mas sim nos alerta quanto a dois grupos de pessoas que durante toda a história do povo de Deus tem sido pedras de tropeço para muitos dos seus filhos: os falsos profetas e os falsos adoradores. O perigo destes indivíduos está na influência que exercem sobre os irmãos e irmãs na igreja. Os falsos profetas ensinam trevas como se ensinassem luz e os falsos adoradores adoram a si mesmos como se adorassem a Deus. Neste segmento, lidaremos com o alerta de Cristo sobre o primeiro grupo: “Guardai-vos dos falsos profetas, que se achegam a vós disfarçados de cordeiros, mas interiormente são lobos devoradores” (Mat 7:15).

“Os profetas de Deus não têm feriados nem férias e, na sua maioria, os verdadeiros profetas de Deus também não têm salário, pois eles são sustentados pelo próprio Deus.”

Profetas ou Mestres: O Dom de Revelação e Presciência

A palavra “profeta” e termos relacionados, ocorrem aproximadamente 300 vezes no Velho Testamento [Heb. נביא (naví) s.m. profeta] e 130 vezes no Novo Testamento [Gr. προφήτης (profítis) s.m. profeta], sendo que o próprio Jesus utilizou desta palavra em torno de 40 vezes nos quatro evangelhos, o que obviamente demonstra a seriedade do tema. Quando ouvimos a palavra “profeta”, o primeiro pensamento que vem à mente é o de alguém que consegue prever o futuro; mas a realidade é que o dom da revelação e o da presciência, são apenas duas das características do chamado profético. Aliás, é bom esclarecer logo de cara que nem todos os profetas possuem o dom divino de visão apocalíptica (revelação), e mesmo entre aqueles que possuem tal dom, não é sempre que Deus vê a necessidade de revelar a eles aquilo que está para acontecer. Esta verdade coloca os verdadeiros profetas em uma situação delicada, pois eles precisam estar sempre atentos e serem capazes de determinar se uma aparente revelação que surge na mente realmente veio de Deus, de Satanás ou da sua própria imaginação. Talvez por isso, o verdadeiro profeta raramente exerce a habilidade de revelar aquilo que ainda não ocorreu: “Quando o profeta falar em nome do Senhor e tal palavra não se cumprir, nem suceder assim, esta é a palavra que o Senhor não falou; com presunção a falou o profeta; não o temerás” (Deut 18:22).

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Profetas ou Mestres: Os Instrutores de Deus

Apesar de que o dom de revelar o futuro seja o dom que mais nos chama a atenção quando se fala de profetas, a realidade é que a área que Deus mais utiliza os seus servos é como mensageiros, ou instrutores, para o seu povo. Esta verdade pode ser facilmente comprovada bastando observar que os três profetas mais famosos da Bíblia: Abraão (Gen 20:10), Moisés (Deut 34:10) e João Batista (Mat 11:9), foram muito mais líderes e instrutores do que reveladores do futuro. Todo o profeta de Deus é um líder, e como líder, sobre os seus ombros pesa a responsabilidade de guiar corretamente todas as almas a quem o Senhor lhe confiar. Desde que o ser humano foi criado ele precisou de liderança e instruções quanto à maneira correta de viver de acordo com os princípios divinos estabelecidos para toda a sua criação. A princípio, quando a raça humana ainda possuía um coração livre da corrupção do pecado, o próprio Deus instruía os nossos pais no Jardim do Éden, lhes alertando em relação à importância de uma vida em completa harmonia com os desejos do Criador (Gen 2:16-17). Não muito tempo depois que Adão e Eva se rebelaram contra Deus, no entanto, o Senhor delegou as suas instruções ao próprio homem, se assegurando que sempre haveria aqui na terra os profetas como instrutores de Deus (2Pe 2:5).

Pastores e negociantes de ovelhas em pé com várias ovelhas em Israel
Pastores e negociantes de ovelhas perto do Portão de Herodes em Israel. Cenas como esta eram comuns nos dias de Jesus quando ele disse no Sermão da Montanha: “Guardai-vos dos falsos profetas, que se achegam a vós disfarçados de cordeiros, mas interiormente são lobos devoradores” (Mat 7:15).

Profetas ou Mestres: Intimidade Com Deus

Se observarmos os muitos detalhes nas Escrituras sobre a vida dos profetas, notaremos que todos eles possuíam um grau de intimidade com Deus que os diferenciavam dos demais, e exatamente esta intimidade fazia com que recebessem mais nitidamente os comunicados do Senhor: “E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Que é que vês, Jeremias?” (Jer 1:11. Ver também: Abraão: Gen 15:1; Natã: 2Sam 7:4; Salomão: 1Re 6:11; Elias: 1Re 18:31; Isaías: 2Re 20:4; Davi: 2Cr 22:8; Ezequiel: Eze 3:16; Jonas: Jon 1:1; Zacarias: Zac 4:8). A razão que Deus falava e ainda fala com os profetas com este grau de intimidade é porque não existe competição na sua vida. Ou seja, o verdadeiro profeta de Deus vive somente para o Senhor; ele verdadeiramente morreu para este mundo e o único foco na sua vida é ser um fiel mensageiro do Reino. Este é um ponto muito importante, pois fica bem claro que não existem profetas de fim de semana. Os verdadeiros profetas são pessoas que vivem 24 horas, 7 dias por semana, a serviço de Deus. Os profetas de Deus não têm feriados nem férias e, na sua maioria, os verdadeiros profetas de Deus também não têm salário, pois eles são sustentados pelo próprio Deus (2Re 5:15-16; 2Re 17:4-6). Talvez seja por todo este abandono do eu e dedicação a Deus, que lemos nas Sagradas Escrituras sobre homens que não desejavam este título; como foi o caso de Amós (Amós 7:14) e como foi o caso de Jeremias: (Jer 1:5-6).

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Profetas ou Mestres: Ensinando o Povo de Deus

Quando Jesus nos alertou sobre os falsos profetas [Gr. ψευδοπροφήτης (psevdoprofítis) s.m. falso profeta] no Sermão da Montanha, o alerta foi somente em relação aos ensinos destes autodenominados instrutores de Deus, e não em relação a poderes sobrenaturais que pudessem exibir. Sabemos disso porque neste contexto Jesus não fez nenhuma menção de falsos sinais e maravilhas ou de falsas previsões, como foi o caso quando Cristo nos revelou sobre os falsos profetas que surgirão nos últimos dias (Mat 24:24). Um pouco antes do fim deste mundo, aí sim veremos os falsos profetas aparecerem no nosso meio com força total; manifestando sinais e maravilhas tão incríveis que se possível fosse enganariam até os escolhidos. No Sermão do Monte, no entanto, o alerta está ligado aos seus ensinos diabólicos. Diabólicos no seu resultado, mas santos na sua aparência. O apóstolo Pedro também nos alertou sobre os ensinos destes homens: “…como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (2Pe 2:1).

Profetas ou Mestres: Lobo em Pele de Cordeiro

Algo terrível sobre este alerta, é o fato de que Jesus não disse que forças externas sanguinárias surgiriam de todas as direções para atacar a igreja de Cristo, armas em punho, com o objetivo de eliminá-la da face da terra — isso também ocorreria com frequência, como a nossa história demonstra muito bem — mas sim o fato de que estes inimigos de Cristo, os anticristos (1Jo 2:18), surgiriam no nosso meio como pessoas inocentes querendo se unir a nós e interessados em promover o nosso bem-estar: “Guardai-vos dos falsos profetas  [Gr. ψευδοπροφήτης (psevdoprofítis) s.m. falso profeta], que se achegam a vós disfarçados de cordeiros [Gr. πρόβατον (próvaton) s.n. ovelha], mas interiormente são lobos [Gr. λύκος (lucos) s.m. lobos] devoradores” (Mat 7:15. Ver também: Miq 3:5; João 10:12; Atos 20:29; 2Pe 2:1).  Os nossos inimigos declarados, por mais perigosos que sejam, expressam os seus objetivos malignos às claras e exteriormente. Eles possuem a inconfundível aparência de lobos, se movimentam como lobos, cheiram e uivam como qualquer lobo cheira e uiva na sua alcateia, o que nos dá plenas oportunidades de defesa ou retirada. Todos estes inequívocos sinais, no entanto, não se enquadram no aviso de Jesus, pois os lobos do seu alerta pertencem a uma outra classe de predadores. Eles são astutos e utilizam de uma tática muito mais eficaz e devastadora do que os lobos comuns: “se achegam a vós disfarçados de cordeiros”.

Quem São Os Falsos Profetas, ou Falsos Mestres

Agora que temos um entendimento melhor do alerta de Jesus, a pergunta que naturalmente vem à mente é sobre como poderemos identificar estes lobos devoradores se eles se disfarçaram de ovelhas? Se quando olhamos ao nosso redor na igreja tudo o que vemos são cordeiros circulando saudando e conversando amigavelmente uns com os outros sobre assuntos de cordeiros, como Jesus espera que saibamos quem é quem? No próximo estudo, se Deus quiser, entraremos em detalhes sobre este ponto quando abordaremos a segunda parte deste segmento do Sermão da Montanha, no qual Jesus responde exatamente a esta pergunta: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mat 7:16).

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É interessante observarmos que Jesus combinou duas metáforas bem diferentes para ilustrar o perigo dos falsos profetas: lobos e frutas. As duas ilustrações, obviamente, são naturais do período, da região e da cultura de Jesus, onde grande parte da população consistia de pecuaristas e agricultores. Qualquer morador da antiga palestina, ainda que ele mesmo não fosse um pastor ou um lavrador, se identificaria imediatamente com os problemas dos lobos e dos tipos e qualidades das frutas locais. Além do Sermão da Montanha, podemos ver outras situações em que tanto lobos (Mat 10:16; João 10:12; Atos 20:29) como frutas (Mat 3:8; Mat 12:33; Mat 21:43; Mar 12:2) foram usadas como ilustrações.

Evitando as Áreas dos Predadores

Expandindo a metáfora de Jesus sobre os lobos devoradores, se existe algo bem óbvio é que lobos não se encontram sempre na mesma quantidade e em todos os lugares. Neste sentido, o povo cristão não está totalmente à mercê dos seus ataques. Existem certos agrupamentos de cristãos que mesmo antes de se fazer uma visita já se tem uma boa ideia daquilo que os seus líderes ensinam e da forma que vivem o seu cristianismo. Se um cristão se interessa por alguma coisa que se ofereça nestes agrupamentos e resolve se aventurar no local, mesmo ciente do perigo, então quando ele se desviar das verdades do evangelho de Cristo não terá como culpar a ninguém se não a si mesmo. Notemos que Jesus foi bem claro que os falsos mestres não demonstram aquilo que realmente são, muito pelo contrário, fazem questão de exibir uma aparência de inocência; ou seja, a aparência de alguém que nada temos a temer.

As Mensagens dos Falsos Profetas ou Mestres

Na maioria dos casos os falsos profetas são considerados falsos não por aquilo que pregam, mas por aquilo que não pregam. Isto deveria ser óbvio para todos, pois se eles querem aparentar pessoas agradáveis de se ouvir, as suas mensagens também deverão consistir de coisas agradáveis: “Pois este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor; que dizem aos videntes: não vejais; e aos profetas: não profetizeis para nós o que é certo; dizei-nos coisas agradáveis, e profetizai-nos ilusões (Isa 30:10). Todos os profetas pregam sobre o amor de Deus, mas apenas os verdadeiros também pregam sobre a sua justiça. Todos os profetas pregam sobre o perdão de pecados, mas apenas os verdadeiros também pregam sobre as suas consequências. Todos os profetas pregam sobre a vida eterna, mas apenas os verdadeiros também pregam sobre a morte eterna. Algo em comum entre os profetas de Deus na Bíblia, eram as suas mensagens desagradáveis de se ouvir. Eles pregavam as verdades de Deus, por mais que ofendesse os seus ouvintes, e por isso com frequência enfrentavam o ódio dos líderes e da população. Jesus nos alertou sobre esta verdade: “Mas antes de todas essas coisas vos hão de prender e perseguir, entregando-vos às assembleias e aos cárceres, e conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome” (Luc 21:12).

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Lobo em Pele de Cordeiro

Queridos, além deste estudo, ainda temos dois mais para lidarmos com este tema tão importante, sobretudo para estes últimos dias que estamos vivendo. Cada vez mais podemos observar a destruição que os falsos mensageiros de Deus estão causando entre o povo cristão. De fato, exatamente como Jesus nos alertou, muitos lobos devoradores conseguiram se infiltrar entre os seguidores de Cristo se passando por inocentes cordeiros. Eles possuem ótimas aparências, e trazem consigo as melhores referências e credenciais; suas reuniões consistem de lindos e agradáveis louvores; possuem um vocabulário perfeito, uma oratória invejável e uma presença de palco inigualável; suas palavras são doces e elevam a alma a tal ponto que a plateia se sente como se o próprio céu descesse sobre o local. Tudo lindo e comovente por fora, mas por dentro são lobos devoradores. Estão levando milhões de almas à perdição por não pregarem as verdades do evangelho de Cristo: “Todo aquele que se desvia [Gr. παραβαίνω (paraveno) v. desviar, ultrapassar, ignorar, transgredir] e não permanece nos ensinos de Cristo, não tem a Deus. Quem permanece nos ensinos de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2Jo 1:9-10).

Paz, Paz, Quando Não Há Paz

Uma das mensagens mais marcantes na Bíblia sobre os falsos profetas e os danos que causam entre o povo de Deus foi transmitida pelo próprio Deus ao profeta Jeremias: “Também se ocupam em curar superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jer 6:14). Amados, do que adianta ouvir coisas agradáveis na terra passageira se elas não nos levam ao céu eterno? Qual é o valor de palavras doces quando as que de fato precisamos são das amargas? Em que nos ajuda a mensagem de homens se a única que possui a verdade é a de Cristo? “Eis que uma nuvem brilhante [Gr. φωτεινός (fotinós) adj. cheio de luz, brilhante] os cobriu [Gr. επισκιάζω (episkiázo) v. lançar sombra, obscurecer]; e dela saiu uma voz [Gr. φωνή (foní) s.f. voz, som] que dizia: Este é o meu Filho amado [Gr. υιός μου ο αγαπητός (yiós mu o agapitós) Lit. Filho meu, o amado], em quem me deleito [Gr. ευδοκέω (idokéo) v. estar satisfeito com, se deleitar em, ter prazer em]; escutem [Gr. ακούω (akúo) v. ouvir, prestar atenção, entender, considerar] o que ele diz!” (Mat 17:5. Ver também: João 12:48-50). Este é o dia, esta é a hora de abandonarmos por completo todos os ensinos dos falsos profetas que infestaram as nossas igrejas com os seus falsos evangelhos. Evangelhos de criação humana: sem arrependimento de pecado, sem consequências do erro, sem sacrifício pessoal e sem qualquer base nas palavras de Cristo. Este é o evangelho do anticristo. Espero te ver no céu.
 

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