
Segunda Epístola do Apóstolo Paulo aos Coríntios, Capítulo 4 – Bíblia Sagrada Almeida
Nome Original: ΠΡΟΣ ΚΟΡΙΝΘΙΟΥΣ Β
Estudo Teológico e Comentário Bíblico
Por Markus DaSilva, Th.D.
2 Coríntios 4:17 Estudo
TEMA PRINCIPAL DO CAPÍTULO: O apóstolo Paulo continua utilizando de lógica para justificar a sua fé considerando as imperfeições e limitações existentes na vida do ser humano em geral e na sua em particular — somos potes de barro (2Cor 4:7). Ele reconhece que muitas vezes na vida do cristão os eventos parecem não justificar a sua confiança de que Deus está de fato cuidando dele. Os descrentes não conseguem entender o porquê alguém poria toda a sua esperança em um Deus que não se pode ver nem tocar. A visão que habilita o homem a aceitar a Cristo, Paulo argumenta, foi velada para que os infiéis não vejam (2Cor 4:3). Enquanto aquele que crê vive, o descrente perece, cegado pelo deus deste século.
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2 Coríntios 4:1 Estudo
1 Pelo que, tendo este ministério, assim como já alcançamos misericórdia, não desfalecemos;
Paulo estabelece a sua segurança em Cristo, defendendo que o seu ministério existe por iniciativa e misericórdia de Deus. A versão TAR e a NAA — seguindo a gramática da KJV — na forma que traduziu o original, separa a expressão “alcançamos misericórdia” ou “segundo a misericórdia que nos foi dada” [καθως ηλεηθημεν (kathos iliíthimen)] do restante da sentença, dando a entender que Paulo se refere à misericórdia que recebeu de Deus como um todo, mas muitas versões modernas (NVIport, ARC, NVT) preferem unir a sentença e transmitir a ideia de que o apóstolo diz que a existência do seu ministério em particular foi um ato da misericórdia de Deus: “Logo, uma vez que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desanimamos.” [δια τουτο εχοντες την διακονιαν ταυτην καθως ηλεηθημεν].
2 Coríntios 4:2 Estudo
2 pelo contrário, rejeitamos as coisas ocultas, que são vergonhosas, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; mas, pela manifestação da verdade, nós nos recomendamos à consciência de todos os homens diante de Deus.
O apóstolo se defende das acusações de que utilizava de astúcia com o objetivo de transmitir um falso evangelho como se fosse de fato verdadeiro, e de tirar proveito pessoal no seu ministério (2Cor 11:9; 12:13; 12:16). O adjetivo [Gr. πανουργια (panuría)] traduzido como “astúrcia” pela TAR e ARC, como “engano” pela NVI, como “agindo de má fé” pela NTLH e como “métodos dissimulados” pela NVT, transmite a ideia de que os opositores de Paulo o viam como um verdadeiro charlatão procurando tirar proveito pessoal do judaísmo messiânico. Paulo se defende, argumentando que Deus revela a veracidade da sua mensagem na conciência das pessoas honestas [Gr. συνιστωντες εαυτους προς πασαν συνειδησιν ανθρωπων ενωπιον του θεου (synistondes eaftus pros pasan synidisin anthropon enopion tu Theu) Lit. recomendamos a nós à toda consciência dos homens diante de Deus].
2 Coríntios 4:4 Estudo
3 Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, é naqueles que se perdem que está encoberto, 4 nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.
Paulo se Refere ao Evangelho Como: “o Nosso Evangelho”.
O apóstolo Paulo aqui e em outras passagens se refere ao evangelho de Cristo como “o nosso evangelho” ou ainda “o meu evangelho” [Gr. ευαγγελιον ημων (evaguelion imon) Lit. evangelho nosso]: (Rom 2:16; Rom 16:25; 2Tim 2:8). Praticamente todas as Bíblias em português e em inglês traduziram a frase como “o nosso evangelho”, com exceção da NLT e da GNB que optaram por “as boas novas que pregamos”. O que faz mais sentido, considerando que nos dias de Paulo a palavra “evangelho” não estava tão ligada à missão de Jesus como nos nossos dias. No período helenístico (300 a.C. a 300 d.C.) qualquer boa noticia, sobre qualquer assunto, era considerada um evangelho [Gr. ευαγγελιον]. Neste sentido, o apóstolo está apenas se referindo à boa notícia sobre o Messias que ele estava pregando nas várias cidades da região. Uma prova de que na sua época a palavra “evangelho” não possuía a mesma conotação cristológica dos nossos dias é que no versículo seguinte ele menciona o evangelho da glória de Jesus, que é a imagem do Pai [Gr. ευαγγελιου της δοξης του Χριστου (evangueliu tis dokcis tu Christu)]. Ou seja, ele mencionou que os descrentes eram incapazes de ver (ou entender) a boa notícia [Gr. ευαγγελιον] de que Jesus, que a poucos anos atrás estava fisicamente entre eles, era a perfeita imagem de Deus, e trazia consigo a glória do Pai. Neste caso, o apóstolo Paulo utilizou da palavra “evangelho” sem qualquer referência à mensagem que Jesus pregava, o que nos nossos dias é o que normalmente se entende por evangelho.
2 Coríntios 4:7 Estudo
5 Pois não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor; e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus que ordenou que das trevas brilhasse a luz, brilhou em nossos corações, para a dar iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
Utilizando de uma analogia, o apóstolo Paulo descreve aqui uma das mais exatas descrições da situação de todo o verdadeiro cristão neste mundo em trevas: “somos vasos de barro contendo o mais valiosos dos tesouros”. Refletindo as palavras do profeta Isaías, o apóstolos procura lembrar a igreja de Corinto que a mensagem do evangelho é infinitamente superior ao ser humano que a proclama. Isto é tanto um motivo para honra como também para humilhação. Somos honrados por Deus que confiou a simples seres humanos, e não aos perfeitos anjos, a tarefa de levar a mensagem da salvação para este mundo perdido. Por outro lado, somos humilhados quando reconhecemos as nossas inaptidões para uma tarefa de tamanha importância: “Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos” (Isa 64:8).
O próprio Jesus também por várias vezes expressou a verdade de que somos seres fracos: “o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26:41). Constantemente Jesus precisou nos alertar quanto ao indescritível poder que está ao nosso alcance, mas que devido à nossa falta de fé passamos desnecessariamente por todos os tipos de preocupações e sofrimentos: “E ele lhes diz: Por que temeis, homens de pequena fé? Então, levantou-se e repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se grande calmaria” (Mateus 8:26. Ver também: Mateus 6:30; 14:31; 16:8; 17:20). Jesus, porém, nos garantiu que sabendo que somos apenas vasos de barro, não nos abandonaria nesta imensa tarefa de carregar em nós este tesouro que é o evangelho da salvação: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28:20).
8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados; 9 perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; 10 trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos; 11 pois nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. 12 De modo que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13 Ora, temos o mesmo espírito de fé, conforme está escrito: Cri, por isso falei; também nós cremos, por isso também falamos, 14 sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará a nós com Jesus, e nos apresentará convosco. 15 Pois tudo é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de Deus. 16 Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.
17 Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória;
το γαρ παραυτικα ελαφρον της θλιψεως ημων καθ υπερβολην εις υπερβολην αιωνιον βαρος δοξης κατεργαζεται ημιν | ||||
το | γαρ | παραυτικα | ελαφρον | της |
o | para | atual | facilidade | da |
θλιψεως | ημων | καθ | υπερβολην | εις |
aflição | nossa | para | com fartura | para |
υπερβολην | αιωνιον | βαρος | δοξης | κατεργαζεται |
com fartura | um eterno | peso | de glória | resulta |
ημιν | ||||
para nós |
Vivemos em território ocupado pelo inimigo. Um dos grandes erros entre os cristãos é deduzir que os sofrimentos que passam na vida não possuem uma razão de ser. Eles podem até não articular o que pensam assim de uma forma tão clara, mas a realidade é que na forma que vivem e naquilo que falam, pode-se claramente perceber que não estão a par de que todo o mal que lhes sobrevêm são ocorrências normais entre aqueles que vivem no meio de um conflito.
O motivo que o apóstolo Paulo precisou mencionar que existe uma glória eterna que nos aguarda e que esta glória está ligada às nossas tribulações, ou sofrimentos, é exatamente porque muitos entre nós esquecem quem somos e onde estamos no momento vivendo, e por isso se sujeitam a todos os tipos de desânimo, ansiedade e depressão. Se estivessem conscientes de que são soldados em um campo de batalha, então já esperariam por tribulações e procurariam não apenas evitá-las, mas mais importante, assumiriam uma atitude ofensiva contra o inimigo: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes permanecer firmes contra as ciladas do Diabo; pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniqüidade nas regiões celestes” (Efe 6:11-12).
18 não atentando nós nas coisas que se veem, mas sim nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, enquanto as que se não veem são eternas.
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