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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – A Regra de Ouro
Mateus 7:12 Estudo Teológico e Comentário Bíblico Nº 70
Por Markus DaSilva
Assim como foi quando estudamos a Oração do Pai Nosso, neste estudo do Sermão da Montanha cobriremos uma das passagens da Bíblia mais admiradas em todo o mundo, o verso popularmente conhecido como “a regra de ouro”: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhe também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas” (Mat 7:12). Este princípio ensinado por Jesus sobre como os seres humanos devem tratar uns aos outros já foi debatido por estudiosos em todos os séculos e em todas as culturas, desde que saiu dos lábios de Cristo em uma montanha em Israel, cerca de dois mil anos atrás. O consenso é que nestas poucas palavras Jesus apresentou a mais perfeita solução para todos os conflitos existentes entre os seres humanos. Todos concordam, que se cada indivíduo neste mundo tratasse o seu semelhante da mesma forma que gostaria de ser tratado, viveríamos em um planeta bem diferente do atual; viveríamos em um local onde a paz e o amor reinariam.
“Tratem os outros, amigos e inimigos, da mesma maneira que desejam ser tratados, e lhes garanto, por experiência própria, que as bênçãos do Senhor fluirão na sua direção como nunca antes.”
Jesus é o Autor da Regra de Ouro. A Existência de Frases Semelhantes em Outras Culturas
Muitos historiadores pesquisando estas palavras de Cristo chegaram à conclusão que antes mesmo de Jesus, outros sábios famosos já haviam usado frases semelhantes; frases que também indicavam que haveria um benefício para a população se as pessoas utilizassem de reciprocidade ao se relacionarem umas com as outras. A diferença entre o que Jesus disse e o que os demais sábios e filósofos da história já haviam dito é que enquanto os outros focavam no aspecto negativo do relacionamento humano, Jesus, como sempre, foi muito mais além e elevou o mandamento ao seu nível prático e supremo, enfatizando o bem que devemos fazer aos outros. Por exemplo, existe um relato de que o famoso rabino Hilel, que viveu entre 110 a.C. a 10 d.C., foi uma vez procurado por um homem gentio que lhe disse que estaria disposto a se converter ao judaísmo na condição de que o rabino recitasse toda a Torá, apoiado em apenas um pé. O rabino então lhe replicou: “Aquilo que não desejas para ti, não desejes ao próximo. Esta é toda a lei, o resto é comentário, vá e aprenda”. Ainda que podemos ver sabedoria nesta frase do rabino e em todas as outras que se conhece, elas se referem ao mal que não se deve fazer aos semelhantes, o que Jesus nos ensinou, no entanto, se refere ao bem que todos desejam receber. O ensino de Cristo é bem superior, pois promove uma atitude ativa (faça o bem) e não passiva (não faça o mal). Se não fizermos mal a um necessitado, não melhoramos em nada a sua situação, apenas não a pioramos. Mas se, porém, lhe fizermos o bem, a sua situação melhorará.
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Amar ao Próximo Como a Nós Mesmos
Devemos lembrar que esta frase de Cristo, todavia, se trata de uma ampliação, ou uma versão um pouco mais detalhada do mandamento de Deus entregue a Moisés no Sinai e que, de acordo com Jesus, é o segundo mais importante de todos os mandamentos: “E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mat 22:39. Ver também: Lev 19:18). Se eu amo o meu irmão com a mesma intensidade que amo a mim mesmo, é certo que desejarei a ele nada menos do que aquilo que gostaria de receber dos outros. Além da semelhança que existe entre estes dois versos também devemos notar que Jesus disse que amar aos outros como nós mesmo é um mandamento tão importante como o amar a Deus sobre todas as coisas. Ou seja, não devemos de forma alguma entender a “regra de ouro” como se fosse apenas um bom conselho, ou apenas uma sugestão, mas sim como um mandamento que deverá ser cumprido da mesma forma que cumprimos o “não matarás”, o “não furtarás”, o “não cometerás adultério”, e todos os outros.
O Uso da Conjunção “Portanto”
Ao iniciar este verso com a conjunção “portanto” [Gr. ουν (un)]: “Portanto, tudo o que vós quereis…” Jesus faz uma conexão com a parte do Sermão da Montanha que lida com a maneira que devemos nos relacionar com os nossos semelhantes (Mat 5:21-22; 27-28; 38-42; 43-44; 7:1), ou mesmo com todo o sermão, considerando que logo a seguir Jesus faz referência à lei e aos profetas mencionado logo no início: “Não imagineis que vim destruir [Gr. καταλύω (katalío) v. destruir, por abaixo, dissolver] a lei ou os profetas; não vim destruir, mas completar [Gr. πληρόω (pliro) v. completar, encher, lotar]. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei nem um jota nem um til, até que tudo seja cumprido [Gr. γίνομαι (guinome) v. cumprir, acabar, encerrar]” (Mat 5:17-18). De fato, o verso deste estudo é o último do Sermão do Monte que lida com a forma correta de tratarmos os nossos irmãos, o que indica ser uma conclusão, ou um fechamento do tema.
A Lei e os Profetas Como Argumento
Algo que não deve passar despercebido para todo o sério estudante das Escrituras Sagradas é o fato de Jesus utilizar do Velho Testamento como uma justificativa para obedecermos aos seus mandamentos no Novo: [Gr. ούτος γάρ έστιν ο νόμος και οι προφήται (útos gár éstin o nómos ke i profíte) Lit. porque esta é a lei e os profetas] (Mat 7:12). Colocando de uma maneira mais clara, Jesus nos disse aqui que o motivo que devemos tratar os nossos irmãos como queremos ser tratados, hoje, cerca de 2000 anos depois do Sermão da Montanha, é que no Velho Testamento [Heb. תנ”ך, (Tanakh) Velho Testamento Judeu] está escrito que isso deve ser feito. A implicação desta verdade é que assim como Jesus observava todos os ensinos do Velho Testamento ele também espera que os seus seguidores sigam fazendo o mesmo até o fim dos tempos (1Jo 2:6). Neste caso específico, o subentendido é que basta existir este ensinamento no Antigo Testamento (Lev 19:18) para que tenhamos que obedecê-lo no Novo. Contrário ao que tantos líderes ensinam nesses últimos dias, nunca haverá um tempo em que a lei de Deus será abolida, ou anulada, ou cancelada, ou substituída, conforme Jesus nos disse no evangelho segundo Lucas: “é, porém, mais fácil passar [Gr. παρέλθειν (parelthin)] o céu e a terra do que cair um til da lei” (Luc 16:17).
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O Que Queremos ou o Que Desejamos
Quando consideramos o mandamento de Jesus: “…tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhe também vós a eles” no seu original grego, vemos que o verbo frequentemente traduzido como “querer” [Gr. θέλω (thélo) v. desejar, querer, ter prazer], poderia ser melhor traduzido como “desejar” em vez de querer, neste contexto. A razão é que o verbo “querer” soa mais como uma obrigação legal e impessoal, por exemplo: “eu quero o que me pertence”, enquanto o desejar possui um tom mais pessoal e esperançoso, por exemplo: “desejo ter uma casa própria”. Este foi o mesmo sentido quando Jesus atendeu ao desejo da mulher siro-fenícia: “Então, respondeu Jesus e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como tu desejas [Gr. θέλω (thélo)]. E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã.” (Mat 15:28). Assim como Jesus concedeu à mulher o maior dos seus desejos, assim também devemos considerar aquilo que os nossos irmãos mais desejam receber de nós.
A maioria das versões traduziu [Gr. θέλω (thélo)] como “querer”: “tudo aquilo que vocês querem que os homens façam a vocês…” (NVIport, ARC, NVT, TAR, NAA, ARA, NTLH, TB2010, NKJV, CSB, GNT, ISV, RVA, NVIesp, NTV, LBLA, RVA2015). Algumas como “gostar”: “Aquilo que vocês gostariam que os homens fizessem a vocês…” (KJV, NRSV, NIV, NET); e finalmente umas poucas como “desejar”: “Aquilo que vocês desejam que os homens façam a vocês…” (RSV e ESV).
Quando Estamos em Posição de Fazer o Bem
Antes de continuarmos este estudo, é importante entendermos que via de regra devemos fazer o bem somente na área em que Deus nos colocou em posição de fazermos o bem. Por exemplo, na área de finanças, seria um absurdo um irmão querer ajudar alguém se ele mesmo precisa de ajuda financeira. Jesus não está instruindo que o cristão contraia dívidas para assim eliminar as dívidas do outro. Na área de saúde, também seria um absurdo um irmão enfermo piorar da sua enfermidade porque quis aliviar a enfermidade do outro. Muito embora atos desta natureza soa como algo nobre e santo, e todos nós já lemos ou ouvimos histórias deste tipo, não temos respaldo na Bíblia para tal comportamento, pelo menos não de uma forma cotidiana. Devemos ser bênçãos naquilo que somos abençoados.
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Quando Deus Testa a Nossa Fé: Um Testemunho
Ainda sobre este ponto, de fato existem casos não muito frequentes onde o próprio Deus testa a fé dos seus filhos sujeitando-os a decisões drásticas na área de sacrifício pessoal. Um grande exemplo desta verdade ocorreu com Elias e a viúva pobre de Sarepta, a qual Deus, através do seu mensageiro, lhe ordenou desconsiderar a fome dela e a do filho e cuidar primeiro do alimento do profeta: “Vive o Senhor teu Deus, que não tenho nem um pão, senão somente um punhado de farinha na vasilha, e um pouco de azeite na botija; e eis que estou apanhando uns dois gravetos, para ir prepará-lo para mim e para meu filho, a fim de que o comamos, e morramos. Ao que lhe disse Elias: Não temas; vai, faze como disseste; porém, faze disso primeiro para mim um pão pequeno, e traze-o aqui; depois o farás para ti e para teu filho” (1Re 17:10-13). E em se tratando de exemplos pessoais, eu mesmo, que lhes escrevo, já duas vezes tive a honra de ficar sem nada em obediência ao Senhor (dou este testemunho para que ninguém me acuse de ensinar algo que não vivo (Mat 23:3-4)). Quando ainda era solteiro, movido pelo Espírito Santo, retirei toda a minha economia do banco e entreguei a Deus para a construção de uma igreja, e anos depois, já casado, eu e a minha querida esposa demos tudo o que tínhamos aos pobres, também movidos por Deus. Mas, como já disse, Deus não sujeita os seus filhos a estes tipos de testes com frequência.
Fazer o Bem em Tudo
Não devemos limitar este mandamento de Jesus. Em todas as áreas, seja em coisas pequenas ou grandes, devemos tratar os nossos irmãos assim como desejaríamos ser tratados. Mencionei que algo grande — como no meu testemunho acima — ocorre raramente, mas, por outro lado, quase todos os dias somos testados no cumprimento deste mandamento em situações simples. Hoje de manhã, por exemplo, eu e minha esposa tivemos a oportunidade de segurar a porta de entrada do condomínio para uma senhora que vinha correndo do estacionamento e que não tinha a sua chave. Poderíamos tê-la ignorado e seguir caminhando até o nosso carro, mas se o fizéssemos não estaríamos cumprindo o mandamento de Cristo. Vocês sabem do que estou falando, estas coisas acontecem o tempo todo: um assento no ônibus ou na igreja, uma vaga no estacionamento, uma troca de pneu, um guarda-chuva aberto, um ouvido atencioso, uma palavra de encorajamento, etc. São nestas pequenas coisas que demonstramos ser verdadeiros seguidores de Jesus (João 13:34; Efe 4:32; Rom 12:9-10).
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Fazer o Bem a Quem Não Merece
Um dos grandes desafios em todos os mandamentos de Jesus ligados ao nosso relacionamento com os outros seres humanos é que as suas ordens [Gr. εντολή (endolí) s.f. ordem, comando, regra, mandamento] não se limitam aos nossos amigos: “Se amardes [Gr. αγαπάω (agapáo) amar] os que vos amam, que mérito [Gr. χάρις (rráris) s.f. agrado, graça, favor, valor, mérito] há nisso? Até os pecadores [Gr. αμαρτωλός (amartolós) pecador, mundano] amam os que os amam” (Luc 6:32). Ou seja, ao nos dizer que devemos desejar aos outros o mesmo que desejamos a nós mesmos, Jesus nos diz que devemos ter esta atitude de amor e compaixão até com aqueles que segundo o nosso entendimento não merecem nada de bom. Aliás, é quando revidamos o mal com o bem e o ódio com o amor, que estamos obedecendo a este mandamento de Jesus no seu sentido mais elevado: “Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mat 5:44-45). [όπως γένησθε υιοί του πατρός υμών (opos guenisthe ui-i tu patrós imon) Lit. para que tornem vocês filhos do Pai seu].
As Oportunidades Que Deus Nos dá
Irmãos, algo muito importante sobre tudo isso o que foi escrito acima é que não devemos de forma alguma entender este mandamento de Cristo como uma obrigação desagradável e difícil de pôr em prática, mas sim como oportunidades que Deus nos dá para crescermos em intimidade com ele (Efe 2:10), pois é disto que o mandamento realmente se trata. Se acostumarmos a nossa mente a identificar cada ocasião em que podemos ajudar ao próximo como uma seção de treinamento vinda de Deus, assumiremos a atitude correta, o obedeceremos, e como consequência rapidamente veremos uma mudança positiva no nosso relacionamento com o Pai.
As Bênçãos Decorrentes de Fazermos o Bem
Queridos, esta regra de ouro que Jesus nos deu é corretamente chamada de ouro. Quando se diz que algo vale ouro, o significado é que existe muito valor neste algo, já que ouro é o símbolo universal de tudo aquilo que tem um alto valor. Além deste mandamento de Jesus, quando obedecido, possuir um alto valor aos olhos de Deus, ele também possui um altíssimo valor para nós, não somente no nosso crescimento espiritual, mas também no recebimento das bênçãos de Deus. Todos nós queremos ser abençoados por Deus em todas as áreas da nossa vida, seja na saúde, nas finanças, nos relacionamentos, nos nossos sonhos… e tudo mais, e uma maneira garantida de sermos abençoados é quando abençoamos aos outros. Tratem os outros, amigos e inimigos, da mesma maneira que desejam ser tratados, e lhes garanto, por experiência própria, que as bênçãos do Senhor fluirão na sua direção como nunca antes, e no final, herdarão a vida eterna: “Amai [Gr. αγαπάω (agapáo) v. amar], porém a vossos inimigos [Gr. εχθρός (erthrós) adj. inimigo, adversário], fazei bem e emprestai a eles, nunca desanimados; e grande será a vossa recompensa [Gr. μισθός (misthós) s.m. recompensa, pagamento, salário], e sereis chamados filhos do Altíssimo; porque ele é bondoso até para com os ingratos e maus [Gr. πονηρός (ponirós) adj. mal, maligno, imoral]” (Luc 6:35). Espero te ver no céu.
Acesse o esboço completo do Sermão da Montanha
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