A Graça, a Obediência e a Salvação: Estudo Nº 3: Paulo e a Graça. Os Apóstolos e a Graça

Foto de frente para um bar muito cheio com Estudo Bíblico - A Graça, a Obediência e a Salvação (Parte 3) - Paulo e a Graça. Os apóstolos e a Graça. A salvação é pela graça. Markus DaSilva

Ícone de Baixar Áudio Baixar Áudio | Ícone de Baixar PDF Baixar PDF
Assista este estudo no YouTube Logo para assistir vídeo no YouTube

Estudo bíblico sobre a graça. O que é a graça? Estudo Nº 3: Explicação e significados dos ensinos de Paulo sobre a lei e a graça.

Por Markus DaSilva, Th.D.

Conforme expliquei no estudo anterior, embora Jesus não tenha usado o termo “graça” como “favor imerecido” quando nos ensinou o caminho da salvação, a realidade é que o evangelho de Cristo é o evangelho da graça [Gr. χάρις (rráris) s.f. agrado, graça, favor, valor, mérito], pois a maior demonstração da graça de Deus foi o sacrifício do seu único Filho por todo aquele que Nele crer (João 3:16; Rom 5:8). Graça, como falamos na primeira parte da série, se trata da maravilhosa dádiva da salvação que nos foi concedida simplesmente porque o Pai se agradou de nós, tal qual Jesus nos disse: “Não temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o Reino” (Luc 12:32). A salvação pela graça difere em muito da salvação pela lei cerimonial porque enquanto a graça possui como foco o amor e a bondade de Deus (João 3:16), a lei se concentrava na observância dos rituais simbólicos que apontavam para o Messias. Lei esta que se tornou obsoleta (Mat 5:17) com o nascimento, vida e morte de Jesus, o Cristo (Messias) [Gr. Χριστός (Kristós) s.m. Ungido, Cristo; tit.div. Jesus].

“Muitos têm crido nestes últimos dias que ser salvo pela graça significa que o que fazemos ou deixamos de fazer é irrelevante para Deus.”

No Velho e no Novo Testamentos, Todas as Almas Que se Salvaram Foi Pela Graça

A base da verdadeira graça, a sua maior manifestação, é o amor e a misericórdia de Deus demonstrada no fato do Criador ter enviado o seu Filho unigênito para morrer por nós, seres ingratos e rebeldes: “Porque Deus amou [Gr. αγαπάω (agapáo) v. amar] o mundo [Gr. κόσμος (kósmos) s.m. mundo; fig. habitantes da terra] de tal maneira que deu o seu Filho unigênito [Gr. υιον μονογενή (yion monoguení) Filho único], para que todo aquele que nele crê [Gr. πιστεύω (pistévo) v. crer, confiar, estar persuadido] não se perca [Gr. απόλλυμι (apólimi) v. se perder, arruinar, desperdiçar, destruir, perecer, morrer], mas tenha a vida eterna [Gr. ζωήν αιώνιον (zoin eônion) vida eterna]” (João 3:16). Na cruz, o plano de salvação se completou (João 19:30). Por cerca de quatro mil anos, no entanto, Deus honrou todo o adorador sincero que se apoiava na lei para obter a salvação (Luc 1:6; Luc 2:22; Luc 2:39). Lembremos que não apenas a graça efetuada na cruz, mas também a lei que apontava para a cruz, nos foi dada por Deus. De fato, a graça salvífica de Deus sempre existiu, nunca houve um período da história humana em que Deus não demonstrasse da sua graça para conosco. Se não fosse a graça do Senhor teríamos sido destruídos já há muitos milênios, conforme nos disse o profeta Jeremias: “A bondade [Heb. חסד (rrésed) s.m. bondade, fidelidade, benignidade] do Senhor [Heb. יהוה‎ (Yerrovah) np.div. Jeová] jamais acaba, as suas misericórdias [Heb. רחמים (ra-rramim) s.m. misericórdia, compaixão] não têm fim, é a razão de não sermos consumidos [Heb. תמם (tamm) v. consumir, destruir, completado]; renovam-se a cada manhã. Grande é a sua fidelidade [Heb. אמונה (emuná) s.f. fidelidade, firmeza]” (Lam 3:22-23). Nesse sentido, é errado insinuar que a graça da salvação só nos foi oferecida após a chegada do Messias. Seja no período dos patriarcas, dos profetas, dos apóstolos ou dos nossos dias, nunca houve sequer uma alma que foi salva à parte da graça concedida pelo Pai e manifestada na cruz de Jesus (Apo. 13:8; Heb 9:22; João 3:13-14; Num 21:8; Isa 53:5-7).

Milhões de estudos teológicos enviados totalmente sem custo. Se inscreva neste link: Página de Inscrição.

A Obsessão de Paulo Pelas Leis Cerimoniais e Tradições dos Anciãos

Mas, falemos de Paulo. Até a sua experiência na estrada para Damasco, o apóstolo Paulo não entendia nada disso. Como o fiel fariseu que era, Saulo — o seu nome em hebraico [Heb. שאול (Shall)] transliterado no grego [Gr. Σαύλος] — cria que a única coisa que Deus estava interessado era na estrita observância das leis cerimoniais, nos rituais do templo, e na eliminação de tudo aquilo que fosse uma ameaça à tradição judaica. Ele era grandemente orgulhoso das obras da carne: “Se algum outro julga poder confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus, …segundo a justiça que há na lei, irrepreensível” (Fil 3:4-6). Somente após ter tido uma visão em que Cristo lhe perguntou o motivo que era perseguido foi que Paulo se tocou quanto às atrocidades que até então cometia contra os seguidores de Jesus achando que estava agradando a Deus: “Saulo porém, assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão” (Atos 8:3).

O Autoexílio de Paulo na Arábia

Após ter tido a sua visão, ser perdoado por tudo o que fez, e ter recebido as boas vindas entre os cristãos (Atos 9:17), Paulo passou três anos na região da Arábia e Damasco (Gal 1:17-18). Este provavelmente foi o período que Paulo orou, meditou, pesquisou e desenvolveu toda a teologia que viria a pregar para os gentios, incluindo a doutrina que até então praticamente ninguém pregava e que se tornaria o seu tema central: a salvação obtida pela misericórdia (Tito 3:5) e pela graça de Deus através do sacrifício expiatório na cruz e completa obediência como um fiel escravo [Gr. δούλος (dúlos) s.m. escravo, servo, cativo] de Jesus (Rom 1:1; Tit 1:1), não através da observância dos rituais, regulamentos e cerimônias religiosas que os líderes judeus ensinavam nos seus dias, e que ele próprio até alguns anos atrás também cria e ensinava.

O Zelo de Paulo Pelo Farisaísmo

Nenhum outro escritor do Novo Testamento pregou sobre a graça da salvação com a frequência e ardor que Paulo pregou, isso porque nenhum deles teve um passado semelhante ao dele. Pedro, João, Tiago e Judas eram judeus assim como Paulo e também estavam bem a par do sistema religioso farisaico, mas Paulo estava completamente imerso no farisaísmo. Ele foi muito mais além do que o mero conhecimento e partiu para a defesa sem reservas da sua religião ao ponto de estar disposto a causar enorme sofrimento físico e emocional a todos aqueles que questionavam a sua fé.

Quer que oremos por você? Visite a Página de Oração.

Mesmo Após se Tornar um Judeu Messiânico, Paulo se Considerava Fariseu

De fato, devo mencionar aqui que Paulo sempre se considerou um fariseu. É um engano imaginar que após o seu encontro em visão com Jesus ele deixou de se ver como fariseu. Afinal, naqueles dias os cristãos não se viam como uma religião autônoma, mas se consideravam como judeus messiânicos. Ou seja, judeus que viam em Jesus o cumprimento das profecias do Velho Testamento sobre o esperado Messias. Esta verdade sobre o apóstolo pode ser facilmente comprovada no seu discurso frente o sinédrio no ano 57 d.C., pouco tempo antes do seu envio e posterior martírio em Roma: “Varões irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus; é por causa da esperança da ressurreição dos mortos que estou sendo julgado” (Atos 23:6). Notemos o uso do verbo “ser” no presente do indicativo [εγω Φαρισαίος είμι (ego farisaíos imi) Lit. eu um fariseu sou].

A Diferença Entre o Antigo e o Novo Paulo

Para Paulo e demais discípulos de Cristo, pertencer a uma determinada seita dentro do judaísmo seria o equivalente a um cristão dos nossos dias se identificar com uma específica denominação (batista, católico, assembleiano, adventista, presbiteriano, etc.). Após a sua aceitação de Jesus como o Messias, a missão de Paulo foi utilizar do seu profundo conhecimento do judaísmo (Atos 22:2-3) para combater a todos os ensinos, rituais, cerimônias e tradições legalísticas, especialmente a circuncisão, que alguns, intencionalmente ou não, queriam introduzir na fé messiânica cristã; pessoas estas os quais Paulo se referia como os judaizantes [Gr. Ιουδαίζω (iudeizo) v. viver como os judeus] (Gal 2:14). Paulo defendia que o que Deus realmente quer dos seus filhos não é a observância de rituais e tradições, mas sim um viver inteiramente voltado para Ele e separado do mundo (Col 3:2-3). Paulo também deixava bem claro que o judeu messiânico não estava isento de guardar os mandamentos de Deus, mas estava isento sim de seguir observando os rituais e tradições não mais relevantes após o sacrifício na cruz: “a circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus [Gr. εντολών Θεού (endolón Theú) ordens de Deus] (1Cor 7:19). Enquanto o antigo Paulo procurava obter o Reino de Deus através do sangue de bois, cordeiros e pombos — leis cerimoniais — o novo Paulo corretamente ensinava que na nova aliança iniciada por Jesus em vez de sacrifícios de animais, devemos ser sacrifícios vivos (Rom 12:1).

O Entendimento Errado da Frase de Paulo em Efésios

A maior surpresa de Paulo foi ver que apesar de ser um perseguidor de Cristo, e quando ainda confiava nas suas obras farisaicas, Deus se agradou dele, estendeu-lhe a graça, concedeu-lhe o dom da fé, e o chamou para ser o missionário entre os gentios. Paulo nunca se esqueceu da misericórdia que Deus demonstrou a ele. No seu entendimento, se existisse alguém que não merecia a graça da salvação este alguém era ele: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o principal” (1Tim 1:15). Foi também dentro deste entendimento que o nosso irmão Paulo escreveu: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efe 2:8-9). Ou seja, a salvação que vem pela fé em Cristo (João 3:16), é um dom de Deus. Paulo sabia muito bem que se Jesus não tivesse tomado a iniciativa de alertá-lo quanto ao caminho errado em que se encontrava (Atos 9:3-5), ele seguiria no erro até o fim e não teria a fé necessária para crer em Jesus e alcançar a graça da salvação. Quando Paulo disse que a salvação através da fé é dom de Deus e que não vem de obras, ele de forma alguma quis insinuar que o homem não precisa obedecer a Deus para ser salvo, conforme muitos dizem que foi isto o que ele disse. Paulo neste verso simplesmente reflete a sua história como um fariseu que confiava na capacidade das leis cerimonias e rituais legalistas do farisaísmo para satisfazer a retidão [Gr. δικαιοσύνη (dikiosíne) s.f. retidão, justiça] exigida por Deus. O Senhor precisou intervir, abrindo os seus olhos, literal (Atos 9:18) e espiritualmente (Atos 26:17-18), para que ele visse a situação em que se encontrava. A graça que nos é oferecida nos expõe à realidade da nossa condição de prisioneiros de todos os tipos de enganos e nos oferece a liberdade.

Gostaria de jejuar conosco?
Visite a Página de Jejum.
Próximo jejum: sexta-feira, 5 de abril de 2024

Paulo e a Eleição da Graça

Para o apóstolo Paulo, a graça da salvação e a predestinação (ou eleição) fazem parte do mesmo processo divino no qual o homem pecador consegue obter o perdão dos seus pecados e a restauração do seu relacionamento com Deus através do sacrifício expiatório de Jesus. A salvação, quando considerada dentro do domínio, ou perspectiva de Deus, está acima da capacidade do homem de decidir para um lado ou para o outro. A graça da salvação, nos diz Paulo, é algo que ocorre muito antes de qualquer homem nascer, e portanto, é independente da obra que ele faz ou deixa de fazer, conforme ele explica na sua carta aos Romanos: “Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça [Gr. εκλογήν χάριτος (ekloyín rráritos) eleição da graça]. Mas, se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra. Pois quê? O que Israel busca, isso não o alcançou; mas os eleitos [Gr. εκλογή (ekloyín) s.f. eleito, escolhido] alcançaram [Gr. επιτυγχάνω (epitinrráno) v. receber, alcançar, obter]; e os outros foram endurecidos [Gr. πωρόω (poróo) v. endurecer, insensibilizar]” (Rom 11:5-7. Ver também: Rom 9:17-18).

Paulo e a Predestinação dos Cristãos

Ou seja, o apóstolo, citando a experiência de Elias e os profetas de Baal (1Re 19:10,14,18),  se refere aos cristãos dos seus dias como um grupo de pessoas que sobrou (remanescente) dentre os judeus e que foram eleitos, ou predestinados por Deus para aceitarem a Cristo, antes que fossem capaz de fazerem qualquer obra, já que ainda nem haviam nascidos (Rom 9:11). Neste caso, seria impossível alguém praticar obras agradáveis a Deus sem que fizesse parte deste remanescente pré-separado por Deus (a eleição da graça). Os judeus que não aceitaram a Cristo, diz Paulo, não aceitaram porque foram endurecidos pelo próprio Deus (não fizeram parte da eleição da graça) e as suas obras não contribuem em nada para se salvarem. Os eleitos, porém, não só podem como devem praticar as obras agradáveis a Deus, pois como parte dos escolhidos [Gr. εκλογή (ekloyín)] estas boas obras foram também preparadas de antemão por Deus: “Porque somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus já antes preparou [Gr. προετοιμάζω (proetimázo) v. preparar de antemão] para que andássemos nelas” (Efe 2:10).

Paulo, a Graça e a Predestinação

O que devemos sempre ter em mente, é que quando o apóstolo Paulo, nas suas várias cartas às igrejas, relaciona a salvação com a predestinação (Rom 8:29, 30; Efe 1:5,11) ou a salvação com a graça (Efe 1:7; 2:5; 2:8) ele está lidando com a salvação dentro do domínio de Deus e não do homem. Para Deus, que é onisciente e onipotente, e que existe fora do tempo, é óbvio que absolutamente nada pode ocorrer sem que haja o seu conhecimento, permissão e desejo, uma vez que se ocorresse alguma coisa (como a perdição de alguém) contrário aos desejos de Deus, ele já não poderia ser considerado onipotente. Neste sentido em que Paulo utiliza do termo, só alcança a graça quem Deus quer que alcance, e o homem é incapaz de mudar a sua situação: “Portanto, Deus tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece” (Rom 9:18).

É por isso que frequentemente Paulo afirma que somos salvos pela graça e não por aquilo que fazemos. Paulo quer dizer que se a pessoa não foi predestinada por Deus para ser salva, então nada daquilo que faça (as obras da lei) mudará o que Deus já estipulou. Esta é uma verdade fácil de se confirmar bastando ler o que Paulo disse sobre a sua própria decisão de seguir a Cristo: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou [Gr. αφορίζω (aforízo) v. separar], e me chamou pela sua graça [Gr. χάρις (rráris) s.f. agrado, graça, favor, valor, mérito], revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, não consultei carne e sangue” (Gal 1:15-16). Este entendimento de Paulo pode ser também confirmado quando ele escreveu a Timóteo se referindo ao chamado de todos os ministros do evangelho: “participa comigo dos sofrimentos do evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito [Gr. πρόθεσις (próthesis) s.f. propósito, desejo, plano] e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos [Gr. προ χρόνων αιωνίων (pro kronon eônion) Lit. antes dos tempos sem começo ou fim]” (2Tim 1:7).

O Apóstolo Paulo Exorta Que Todos Obedeçam a Deus

Quando Paulo deixa o domínio que pertence a Deus apenas com Deus e se afasta do tema da predestinação, ele então não faz qualquer menção da futilidade que são as boas obras, mas sim exorta que todos a pratiquem e se afastem dos pecados: “Ninguém vos engane [Gr. απατάω (apatáo) v. enganar, iludir] com palavras vãs [Gr. κενός (kenós) adj. vazio, vão, sem conteúdo]; porque por estas coisas vem a ira [Gr. οργή (oryí) s.f. sent.prim. ira, raiva, indignação; sent.sec. punição, justiça] de Deus sobre os filhos da desobediência [Gr. υιούς της απειθείας (yiús tis apithías) filhos da desobediência]” (Efe 5:6). A razão disso é óbvia: já que não somos Deus, já que não temos completo acesso ao passado e muito menos ao futuro, e nem somos seres onipotentes, devemos assumir uma posição de completa obediência aos mandamentos do Senhor se queremos garantir a nossa presença entre os escolhidos do Senhor: “a circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus [Gr. εντολών Θεού (endolón Theú) ordens de Deus] (1Cor 7:19); “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rom 12.2).

A Liberdade Rejeitada Pelos Líderes Judeus

Antes do seu encontro em visão com Cristo, nos dias dos apóstolos, Jesus ofereceu a todos os judeus, incluindo Paulo e demais fariseus, a liberdade que acompanha a graça da salvação, mas eles questionavam a validade da oferta e se consideravam pessoas já livres por causa da sua descendência: “Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” (João 8:33). Assim como a grande maioria dos seres humanos, o antigo Saulo e seus amigos, se consideravam livres quando de fato se encontravam no mais profundo e escuro dos calabouços: o do pecado. A resposta de Jesus foi direto ao ponto: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36). Este “verdadeiramente” de Jesus significa que aquele que é salvo pela graça se encontra não em uma liberdade parcial ou temporária ou com qualquer outro tipo de limitação, mas sim uma liberdade que nos permite ver o mundo como ele é de fato e viver a vida como ela é de fato. A liberdade das garras do pecado que o sistema sacrificial, com os seus símbolos e cerimônias, oferecia era limitada e temporária pois se tratava de sombras (Col 2:17) da verdadeira liberdade que apenas o sangue do Cordeiro de Deus poderia propiciar: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36).

A Diferença Entre a Graça e a Misericórdia: Um Exemplo

Paulo continuamente se maravilhava com a bondade que Deus estendeu a ele quando ainda estava dentro do legalismo farisaico: “Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Rom 5:8). Graça é um ato de bondade estendido a alguém. Misericórdia também é um ato de bondade, mas difere da graça na sua motivação. Nas muitas passagens bíblicas já mencionadas na primeira parte desta série, vemos que graça é uma bondade concedida porque o doador agradou por algum motivo da pessoa que precisava do ato de bondade: “Deus livrou-me, porque tinha prazer em mim” (Sal 18:19), como disse o Rei Davi. Já a misericórdia se estende a qualquer um. Um exemplo do que quero explicar seria quando damos uma esmola a uma pedinte no sinal vermelho. Esse seria um ato de misericórdia, e não de graça, já que ajudamos não porque ela nos agradou em algo, mas simplesmente porque tivemos compaixão. Todo o homem, salvo ou não, se beneficia da misericórdia de Deus a cada segundo da sua vida (Lam 3:22-23); mas poucos são os que lhe agrada e alcançam a sua graça. Vemos isso claramente no dilúvio, com Noé (Gen 6:8); e em Sodoma e Gomorra, com Ló (Gen 19:19).

Já recebe os nossos estudos teológicos gratuitos? Visite a Página de Inscrição.

O Ensino Anti-Bíblico de Que Deus Não se Importa Com o Pecado

Irmãos, muitos têm crido nestes últimos dias que ser salvo pela graça significa que o que fazem ou deixam de fazer é irrelevante para Deus e que herdarão a vida eterna com ou sem a obediência aos seus mandamentos. As pessoas que defendem esta ideia completamente contrária às Escrituras, geralmente se baseiam em um entendimento convenientemente distorcido dos ensinos do Apóstolo Paulo sobre a graça da salvação. Digo “convenientemente” porque o que de fato procuram é um respaldo na Bíblia para um evangelho fácil e sem sacrifício pessoal (2Tim 4:3). Qualquer um que ler as cartas de Paulo sem tendenciosidades e analisar o que ele ensinou como um todo, perceberá facilmente que Paulo jamais ensinaria algo contrário à obediência às palavras de Cristo, pois se assim o fizesse seria um anticristo (1Jo 2:18) e um falso apóstolo (Apo 2:2), já que ninguém que se posiciona como um ministro do evangelho de Cristo seria inspirado pelo Espírito Santo se pregasse um evangelho que difere daquilo que Cristo pregou (João 14:26). Não existe graça para os que recusam a obedecer a Cristo: “E por que me chamam de Senhor [Gr. κύριος (kírios) s.m. senhor, proprietário, patrão, mestre, dono; tit.div. Jesus], Senhor, e não fazem [Gr. ποιέω (pieó) v. fazer, atuar, obedecer, praticar, executar] o que lhes digo?” (Luc 6:46). Espero te ver no céu.
 

Nesta série: