A Graça, a Obediência e a Salvação: Estudo Nº 1: Graça: Uma Breve Introdução no Uso da Palavra

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Estudo bíblico sobre a graça. O que é a graça? Estudo Nº 1: Explicação sobre o significado da palavra graça nos originais hebraico e grego.

Por Markus DaSilva, Th.D.

Já faz um tempo que tenho desejado escrever uma série sobre a graça e creio que este é o momento. A graça tem sido um dos pontos do cristianismo mais abusado nesses últimos dias. Parte desse abuso tem a ver com a falta de conhecimento do povo sobre o assunto (Ose 4:6). Conhecimento este que deveria vir dos púlpitos e das escolas bíblicas, mas que infelizmente não ocorre. A outra parte está ligada à nossa propensão natural de resistir às instruções de Deus quando elas nos apontam para um caminho diferente daquele que queremos seguir. Procurarei nesta série, com a ajuda do Senhor, explicar para o benefício dos nossos leitores, o que a Palavra de Deus realmente nos ensina sobre a graça, e no processo, eliminar sérios equívocos quanto a como a graça se aplica ao nosso viver como um povo adquirido, separado e destinado ao Reino de Deus: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2:9).

“A ideia prevalente nos nossos dias de que seremos salvos sem que façamos nada para receber do Senhor a vida eterna não procede das escrituras, mas sim da imaginação do homem carnal.”

A Etimologia da Palavra Graça (Grego e Hebraico)

Primeiro, vamos explorar rapidamente a parte etimológica da palavra graça. Esta é uma daquelas palavras com vários usos, mas todos eles relacionados. Tanto no hebraico [Heb. חן (ren)] como no grego [Gr. χάρις (rráris) s.f. agrado, graça, favor, valor, mérito] da raiz [Gr. χαίρω (rriéro) v.  estar contente], a ideia que parece dominar é a de um favor, ou uma bondade concedida a um ser quando ele agrada ou conquista a boa vontade de um outro ser. Podemos confirmar este correto sentido da palavra “graça” nas Escrituras Sagradas tanto quando o contexto é agradar a um outro ser humano como agradar a Deus.

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Alguns Exemplos do Uso da Palavra Graça Entre Seres Humanos

Ester e o Rei Xerxes: “E sucedeu que, vendo o rei à rainha Ester, que estava em pé no pátio, ela alcançou a sua graça [Heb. חן (ren) s.m. agrado, graça, favor, valor, mérito]; e o rei estendeu para Ester o cetro de ouro que tinha na sua mão. Ester, pois, chegou-se e tocou na ponta do cetro” (Ester 5:2).

Davi e Jônatas: “Respondeu-lhe Davi, com juramento: Teu pai bem sabe que achei graça [Heb. חן (ren)] aos teus olhos” (1Sam 20:3).

Rute e Boaz: “Então ela, inclinando-se e prostrando-se com o rosto em terra, perguntou-lhe: Por que achei eu graça [Heb. חן (ren)] aos teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu estrangeira?” (Rut 2:10).

Os primeiros cristãos e o povo: “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus, e alcançando a simpatia [Gr. χάρις (rráris) s.f. agrado, graça, favor, valor, mérito] de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos” (Atos 2:46-47).

Rei Félix e os Judeus: “Mas passados dois anos, teve Félix por sucessor a Pórcio Festo; e querendo Félix agradar [Gr. χάρις (rráris)] aos judeus, deixou a Paulo preso” (Atos 24:27).

Rei Festo e os Judeus: “Todavia Festo, querendo agradar [Gr. χάρις (rráris)] aos judeus, respondendo a Paulo, disse: Queres subir a Jerusalém e ali ser julgado perante mim acerca destas coisas?” (Atos 25:9).

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Alguns Exemplos do Uso da Palavra Graça Entre Deus e os Seres Humanos e Jesus

Deus e Noé: “E disse o Senhor: Destruirei da face da terra o homem que criei… Noé, porém, achou graça [Heb. חן (ren)] aos olhos do Senhor. …Noé era homem justo e perfeito em suas gerações, e andava com Deus” (Gen 6:8-9).

Deus e Ló: “Eis que agora o teu servo tem achado graça [Heb. חן (ren)] aos teus olhos, e tens engrandecido a tua misericórdia que a mim me fizeste, salvando-me a vida” (Gen 19:19). “…e se livrou ao justo Ló, atribulado pela vida dissoluta daqueles perversos” (2Pe 2:7).

Deus e Moisés: “Disseste também: Conheço-te por teu nome, e achaste graça [Heb. חן (ren)] aos meus olhos” (Exo 33:12-13); “Ora, Moisés era um homem muito humilde, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Num 12:3).

Deus e Maria: “Disse-lhe então o anjo: Não temas, Maria; pois achaste graça [Gr. χάρις (rráris)] diante de Deus” (Luc 1:30).

Deus e os salvos: “para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça [Gr. χάρις (rráris)], pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efe 2:7-8).

Deus e Jesus na sua infância: “E o menino ia crescendo e fortalecendo-se, ficando cheio de sabedoria; e a graça [Gr. χάρις (rráris)] de Deus estava sobre ele” (Luc 2:40).

Deus e Jesus em toda a sua vida como homem: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça [Gr. χάρις (rráris)] e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai” (João 1:14).

A Palavra Graça Está Ligada ao Ato de Agradar a Alguém

Como se pode ver nesses poucos exemplos, o uso da palavra graça está muito ligado ao fato de haver algo em quem precisa de um bem que agrada àquele que está em posição de conceder o bem. O receptor é aquele que pode se beneficiar caso a graça seja concedida. O doador da graça concede a graça porque se agrada de alguma coisa presente no receptor. Então fica obvio que do ponto de vista do doador, a pessoa é merecedora, ou conquistou o bem que deseja, ou precisa, ou busca. Ainda que às vezes o receptor do bem não perceba que fez algo que justificasse o bem recebido. Vemos este comportamento no caso de Rute e Boaz: “Então ela, inclinando-se e prostrando-se com o rosto em terra, perguntou-lhe: Por que achei eu graça aos teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu estrangeira?” (Rut 2:10).

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Casos em Que Existe um Interesse Pessoal Por Parte do Doador

Da parte do doador da graça, em alguns casos podemos ver também o interesse próprio. No caso de graça entre seres humanos, esta verdade é bem óbvia, como no caso de Boaz que obviamente se interessou romanticamente por Rute. O mesmo com o Rei Xerxes que certamente considerava a sua esposa atrativa e não queria matá-la. No caso do uso da palavra se referindo ao rei Félix e Festo, é ainda mais óbvio que existia um interesse político: “e querendo Félix agradar [Gr. χάρις (rráris)] aos judeus, deixou a Paulo preso” (Atos 24:27). Na mente desse líder romano, haveria algo de valor (graça) para com os judeus se ele mantivesse Paulo na cadeia. A ideia popular de que graça significa favor imerecido não faz o menor sentido em nenhum destes exemplos no uso da palavra no original, tanto hebraico como grego.

Sendo Onipotente, Deus Não Possui Necessidades

Quando se trata da graça que vem de Deus, no entanto, esta ideia de interesse perde o seu sentido por completo. Não podemos falar de interesse próprio porque como ser onipotente, Deus não possui nenhuma necessidade para que a possamos preencher. Temos que simplesmente reconhecer a nossa incapacidade de compreender o porquê Deus faz o que faz com os seus escolhidos. Sabemos, porém, que todos os casos em que a graça foi estendida por parte do Senhor envolveu pessoas que conquistaram, ou agradaram a Deus de alguma forma. Uma verdade facilmente observável nos casos de Noé, Jó, Moisés, etc.

Quem Não Agrada a Deus Não é Alcançado Pela Graça

Quando consideramos o contexto de cada caso, podemos ver também que aqueles que não agradam a Deus não recebem da sua graça. Deus não salvou a nenhum no dilúvio, senão a Noé e família. O mesmo ocorreu em Sodoma e Gomorra com Ló. Esta verdade põe abaixo a ideia de que a graça é estendida àqueles que não a merece (favor imerecido), pois, se fosse este o caso todas estas pessoas que a Bíblia menciona ter alcançado a graça de Deus seriam pessoas com um histórico claramente sem merecimento. Noé teria sido igual ou pior que a população da terra e não um “homem justo e perfeito” como a Bíblia menciona. O mesmo podemos dizer de Ló, Moisés, Jó, Maria e demais. Todos eles, segundo a Palavra, possuíam um viver exemplar e este foi o motivo que Deus estendeu-lhes a graça. Aos olhos de Deus eles o agradaram e assim foram merecedores da sua proteção e bênçãos: “O Senhor firma os passos de um homem, quando a conduta deste o agrada” (Sal 37:23).

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Quando Lucas nos diz que Jesus crescia em sabedoria e que a graça de Deus estava sobre ele (Luc 2:40), obviamente, não está dizendo que Deus estava colocando sobre Jesus, favores que o seu Filho não merecia, pois, sabemos que Jesus “não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pe 2:22). Jesus certamente mais do que mereceu a graça de Deus. Algo que sabemos, sem sombras de dúvidas, é que em tudo ele “agradou” ao Pai: “E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado” (João 8:29).

Uma Melhor Definição Para a Palavra Graça

Podemos ver assim, que um favor recebido porque “agradou” ou “conquistou” tem muito mais a ver com graça do que “favor imerecido”. Outro exemplo que se vê claramente que a ideia de favor imerecido não é uma boa definição é quando ambos, Pedro e Tiago, citam o provérbio: “Deus se opõe [Gr. αντιτάσσω (anditásso) v. ser hostil, se opor] aos orgulhosos [Gr. υπερήφανος (iperífanos) adj. arrogante, orgulhoso], mas dará graça [Gr. χάρις (rráris) s.f. agrado, graça, favor, valor, mérito] aos humildes [Gr. ταπεινός (tapinós) adj. humilde, despretensioso, simples]” (1Pe 5:5; Tiago 4:6; Prov 3:34). Como pode Deus conceder um “favor imerecido” àquele que já é humilde ou despretensioso ou simples? Não é exatamente pelo fato dele ter algo que agrada a Deus, neste caso a humildade, que o Senhor está lhe concedendo a graça? Conforme nos disse Tiago: “Humilhai-vos [Gr. ταπεινόω (tapinóo) v. ser humilde, despretensioso, simples] perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tiago 4:10). Se for para ser imerecido o orgulhoso é que deveria receber da graça de Deus, pois para o orgulhoso seria “mais imerecido” do que para o humilde.

A Preocupação do Apóstolo Paulo

Escrevendo à igreja de Roma, Paulo antecipou que muitos aproveitariam dos seus comentários sobre a graça para o abuso, e que chegariam à conclusão errada que, já que nada temos que fazer para merecer ou conquistar os favores de Deus, seria mais vantajoso desconsiderar as palavras do Senhor e continuar se apegando aos prazeres do mundo, pois, assim o fazendo não haveria nenhum mérito em nós e receberíamos mais da graça de Deus: “Que diremos, então? Permaneceremos no pecado, para que a graça [favores imerecidos?] aumente? De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rom 6:1-2). Infelizmente, o alerta de Paulo não foi o suficiente e até hoje milhões de cristãos interpretam erroneamente os seus escritos e deduzem que a obediência aos mandamentos do Senhor não é necessária para a salvação. Exatamente como o apóstolo Pedro comentou: “o nosso amado irmão Paulo vos escreveu… nos quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2Pe 3:14-16).

O Uso da Palavra Misericórdia Como Favor Imerecido

Existe outra palavra corretamente usada como um benefício prestado a alguém sem que haja necessariamente nenhum merecimento por parte do recipiente, que é a palavra misericórdia (demonstrar compaixão, ou poupar de um castigo). No hebraico temos: [Heb. חמלה (hemlá)] e também: [Heb. חמל (ramal)] e no grego temos [Gr. ελεέω (eléo)]. Para não tomar muito espaço, aqui estão apenas dois exemplos de uso no hebraico e dois no grego (ambos de Paulo).

Deus e Israel: “Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; no seu amor, e na sua compaixão [Heb. חמלה (remlá)] ele os remiu; e os tomou, e os carregou todos os dias da antiguidade” (Isa 63:9).

A Filha de faraó e Moisés: “E abrindo-a, viu a criança, e eis que o menino chorava; então ela teve compaixão [Heb. חמל (ramal)] dele, e disse: Este é um dos filhos dos hebreus” (Exo 2:6).

Deus e o ser humano: “Pois, assim como vós outrora fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia [Gr. ελεέω (eléo)] pela desobediência deles” (Rom 11:30).

Deus e os escolhidos: “não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia [Gr. έλεος (éleos)], nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo” (Tito 3:5).

O Erro Fatal de se Confiar no Homem e Não nas Escrituras

Queridos, tenho muito o que lhes escrever sobre a graça e o Senhor permitindo assim o farei. Deixe-me concluir esta primeira parte os exortando a se apegarem à Palavra de Deus e não aos ensinos de homens, pois, é confiando em homens que muitos se perderão (Jer 17:5). A ideia prevalente nos nossos dias de que seremos salvos sem que façamos nada para receber do Senhor a vida eterna não procede das escrituras, mas sim da imaginação do homem carnal. Não procede e nem faz o menor sentido, pois, qual seria a lógica de termos em mãos as instruções de Deus (2Tim 3:16) se o Senhor não espera obediência para nos dar a salvação? “E nisto sabemos que o conhecemos [Gr. γινώσκω (guinósko) v. conhecer, saber; fig. ter relação sexual]; se guardamos [Gr. τηρέω (tiréo) v. guardar, vigiar, manter, preservar] os seus mandamentos [Gr. εντολή (endolí) s.f. ordem, comando, regra, mandamento]. Aquele que diz: eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso [Gr. Ψεύστης (pséfstis) s.m. mentiroso, falso], e nele não está a verdade [Gr. αλήθεια (álithia) s.f. verdade, dependência, integridade]; mas aquele que guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado [Gr. τελειόω (telióo) v. completar, tornar perfeito, atingir o objetivo] o amor de Deus [Gr. αγάπη του Θεού (agápe tu Theú) amor de Deus]” (1Jo 2:3-5). Espero te ver no céu.
 

Antes de terminar, para que não haja nenhum mal-entendido, deixe-me fazer duas perguntas e respondê-las.

Pergunta: Somos salvos pelas nossas boas obras?
Resposta: Não, categoricamente não (Rom 3:23). Somos salvos pelo sangue de Jesus derramado na cruz (Heb 9:22; João 3:14-16; Num 21:8; Isa 53:5). Sem o sacrifício de Jesus, o mais santo dos santos entre os homens segue rumo à morte eterna.

Pergunta: Precisamos fazer algo para sermos salvos?
Resposta: Sim, precisamos crer e obedecer. Não existe salvação para quem não crê (João 3:16) e para quem não obedece (Heb 5:9; 1Jo 5:3; João 3:36; João 14:15). Sem a obediência às palavras de Jesus, o mais religioso dos cristãos é um falso discípulo e também segue rumo à morte eterna.

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