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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – Se Tornando Filhos de Deus
Mateus 5:45 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 38 da série
Por Markus DaSilva
Já há muitos séculos Satanás vem continuamente atacando a igreja de Cristo com um dos seus ataques mais bem-sucedidos desde aquele dia infame do seu diálogo com Eva no jardim do Éden. Como sempre, este ataque satânico se baseia em uma mentira. Se no jardim, a serpente enganou os nossos pais com a ilusão de que se fôssemos desobedientes nos tornaríamos como Deus (Gen 3:5), nos nossos dias ele engana a igreja com a mentira de que somos filhos de Deus mesmo na desobediência (João 8:42-44). O objetivo do Diabo é que o Cristão viva em um mundo de ilusão, imaginando que os mandamentos de Jesus não são na realidade mandamentos, mas apenas sugestões, ou conselhos, e que no final ouvindo ou não os alertas que saíram dos lábios do Salvador, todo aquele que se diz cristão herdará a vida eterna. Cristo repetidas vezes nos alertou, no entanto, que apenas aqueles que sacrificam a sua própria vontade pela vontade de Deus alcançarão a graça da salvação: “Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a obedecem” (Luc 11:28). Também nos avisou várias vezes que não existe salvação sem que o amamos e obedecemos às suas palavras: “Se alguém me ama [Gr. αγαπάω (agapáo) v. amar], obedecerá [Gr. τηρέω (tiréo) v. guardar, vigiar, manter, preservar] à minha palavra [λόγος (lógos) s.m. palavra, mensagem, verbo]; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada [μονή (moní) s.f. ficar juntos, estabelecer residência]. Quem não me ama, não obedece às minhas palavras; ora, a palavra que estais ouvindo [Gr. ακούω (akúo) v. ouvir, prestar atenção, entender, considerar] não é minha, mas do Pai [Gr. πατήρ (patír) s.m. Pai] que me enviou [Gr. πέμπω (pémpo) v. enviar, despachar]” (João 14:23-24). Neste estudo da série sobre o Sermão da Montanha, abordaremos em detalhes mais um destes mandamentos de Jesus para se obter a salvação: “Eu, porém, vos digo [Gr. εγώ δε λέγω υμίν (ego de lego imin)]: Amai aos vossos inimigos [Gr. εχθρος (erthrós) adj. inimigo, adversário], e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai [όπως γένησθε υιοί του πατρός υμών (opos guenisthe ui-i tu patrós imon) Lit. para que tornem vocês filhos do Pai seu] que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos” (Mat 5:44-45).
“O alerta de Cristo é bem óbvio para todo aquele que tem ouvidos para ouvir: obedeça e seja considerado por Deus como um dos seus filhos, ou desobedeça e se una ao grande grupo de pessoas que não têm a Deus como Pai.”
A Profundidade Teológica nas Palavras de Jesus
Este mandamento de Jesus sobre como devemos tratar os nossos inimigos possui vários pontos teológicos profundos, mas que exigem discernimento espiritual e um coração inclinado à obediência para que nos sejam de algum proveito: “Sonda-me, ó Deus [Heb. אל (El) Deus], e conhece o meu coração [Heb. לבב (lêiváv) s.m. coração; fig. alma, mente, caráter]; prova-me [Heb. בחן (barran) v. examinar, testar, provar], e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim uma inclinação para o que é errado [Heb. אם דרך עצב (im bérrerk ócsev) Lit. se existe um caminho de ídolos], e guia-me pelo caminho eterno [Heb. בדרך עולם (bê bérrerk olam) no caminho da eternidade]” (Sal 139:23-24).
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A Formula Usada Por Jesus Neste Ensinamento
Jesus começa nos dando o mandamento em si; logo a seguir nos diz o que ocorrerá se formos obedientes ao seu mandamento e por último nos explica o motivo que o mandamento foi dado aos seres humanos. Ou seja, Jesus utiliza da fórmula: ordem – resultado – explicação. Vemos aqui o amor de Jesus por nós, pois Ele poderia muito bem nos ter dado o mandamento sem qualquer esclarecimento, mas provavelmente sabendo da nossa dificuldade em amar os nossos inimigos, na sua bondade nos deu o maior dos incentivos para obedecê-lo e como se não bastasse ainda nos explicou a lógica por detrás das suas palavras. Lidaremos com cada um destes três aspectos do mandamento de Cristo.
Dois Verbos Gregos Para a Palavra “Amar”
O Mandamento de amar os nossos inimigos utiliza do conhecido verbo grego “agape”. [αγαπάτε τους εχθρούς υμών (agapate tus erthrus imon) Lit. amem o inimigo de vocês]. Esta é a mais comum das palavras traduzidas como amor e denota um tipo de relacionamento superior à todas as outras palavras relacionadas. Esta diferença é importante, pois define muito bem o que é que Jesus está nos ordenando. O Senhor (na tradução do aramaico para o grego segundo os autores do Novo Testamento), por exemplo, poderia ter usado o verbo [Gr. φιλέω (filéo) v. amar, gostar, aceitar, estar acostumado], mas neste caso a implicação seria que temos que desenvolver uma amizade ou companheirismo com as pessoas que nos odeiam, o que em muitos casos é simplesmente impossível, pois este não é um desfecho que depende apenas de nós. Ainda que estivéssemos dispostos a nos tornar amigos dos nossos inimigos, amizade (fileo) é algo que vai além de um simples querer e geralmente ocorre a partir de afinidades, confiança e requer tempo. Embora não seja impossível, esta é uma evolução improvável em se tratando de pessoas que se consideram inimigas.
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Um Terceiro Termo Grego Para a Palavra “Amar”
Uma outra possível palavra seria [στοργή (storgii)] que é o amor que podemos desenvolver um com o outro similar ao amor entre familiares, especialmente entre pais e filhos, tal qual usada pelo apóstolo Paulo: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal [φιλόστοργοι (filóstorgii) fileo+storge], preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rom 12:10); mas assim como fileo, esta expressão de amor também requer interesse mútuo, e ainda que procuremos este tipo de relacionamento com aqueles que nos querem o mal, a possibilidade de reciprocidade é pequena. Além do que o único tipo de amizade que Deus permite que tenhamos é aquela que contribui para o nosso crescimento espiritual (1Cor 5:11; Tiago 4:4).
A Razão Que Jesus Escolheu o Verbo “Agape” Neste Mandamento
Diferentemente de fileo e storge, no entanto, o verbo agape usado por Jesus neste mandamento, descreve um tipo de amor que pode existir sem que haja um retorno. De fato, quase todas as vezes que lemos na Bíblia sobre o amor incondicional de Deus ou o de Jesus, este é o verbo utilizado: “Como o Pai me amou [ηγάπησεν (igapisen)], assim também eu vos amei [ηγάπησα (igapisa)]; permanecei no meu amor [Gr. αγάπη (agape) s.f. amor]” (João 15:9. ver também João 3:16; Luc 11:42; Rom 5:8; Rom 8:35). O uso de agape faz todo o sentido quando se trata de como devemos amar os nossos inimigos, uma vez que o grande objetivo deste amor não é que ainda aqui nesta terra os nossos inimigos passem a ser nossos amigos (embora um desfecho assim é sempre bem-vindo), mas sim que, assim como o nosso Pai, não exista nenhum desejo mal no nosso coração para com os nossos semelhantes, independentemente de como as pessoas nos consideram (João 13:34-35; Rom 12:18). Se ao demonstrarmos o nosso perdão (Mat 6:14-15) e amor àqueles que nos maltratam, recebemos o mesmo em retorno, ficaremos muito felizes com o resultado, mas, se, porém, continuamos recebendo o mal, ainda assim devemos seguir na nossa decisão em desejar apenas o bem a todos. Foi isso o que o apóstolo Pedro quis dizer quando nos escreveu: “não retribuindo mal [Gr. κακός (kakós) adj. mau, maldade] por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, abençoando [Gr. ευλογέω (evloiéo) v. abençoar, elogiar]; porque para isso fostes chamados, para que recebais bênçãos [Gr. ευλογία (evloguia) s.f. bênção, louvor, gratidão] por herança [Gr. κληρονομέω (klironomo) v. herdar, ser herdeiro]” (1Pe 3:9). Lembremos que Jesus nunca desejou qualquer mal a ninguém, no entanto sabemos muito bem que muitos não só desejaram, mas também praticaram todo o tipo de mal contra Jesus: “Ele não cometeu pecado [Gr. αμαρτία (amartía) s.f. pecado, erro, ofensa], nem na sua boca se achou engano; sendo injuriado, não injuriava, e quando sofria [Gr. πάσχω (pásrro) v. sofrer, receber sofrimento] não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (1Pe 2:22-23).
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O Resultado de Ser ou Não Ser Obediente a Este Mandamento de Jesus
Após nos dar o mandamento, Jesus então nos diz o porquê temos que obedecer às suas palavras: “para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mat 5:45). O uso da conjunção “para que” [Gr. όπως (opos)] e do verbo “tornar” [Gr. γίνομαι (guínome) v. tornar-se, surgir, ser feito; aparecer] é de suma importância, pois desta forma sabemos o resultado que obterão tanto aqueles que recebem como aqueles que rejeitam o seu mandamento. Ou seja, o alerta de Cristo é bem óbvio para todo aquele que tem ouvidos para ouvir: obedeça e seja considerado por Deus como um dos seus filhos, ou desobedeça e se una ao grande grupo de pessoas que não têm a Deus como Pai (João 8:42).
A Explicação Errada das Palavras de Jesus
Notemos aqui a importância do verbo “tornar” [Gr. γίνομαι (guinomé)] nessas palavras de Jesus. Muitos dos nossos líderes mundanos, para que as pessoas não levem a sério o mandamento de Jesus, explicam este verso como se o Senhor estivesse apenas dizendo que devemos imitar a Deus, da mesma forma que os nossos filhos à vezes nos imitam. Ou que devemos agir “assim como” Deus age. Ou seja, como sempre, eles querem insinuar que a pessoa é filha de Deus e está salva, obedecendo ou não essas palavras de Jesus. Esta interpretação, no entanto, não possui o menor respaldo bíblico e demonstra claramente o intuito maléfico de levar o cristão a desconsiderar os ensinos do nosso querido Salvador: “E por que me chamam de Senhor [Gr. κύριος (kírios) s.m. senhor, proprietário, patrão, mestre, dono; tit.div. Jesus], Senhor, e não fazem [Gr. ποιέω (pieó) v. fazer, atuar, obedecer, praticar, executar] o que lhes digo?” (Luc 6:46).
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Como Nos Tornamos Filhos de Deus
Quando o verbo “guinomé” é usado no sentido de agir como alguém age, ou de seguir o exemplo de uma pessoa, então é obrigatório o uso do advérbio [ως (os)] que significa palavras do tipo: semelhante a, como, assim como, tal qual, da mesma forma que, etc. Um bom exemplo da expressão foi quando Jesus comparou a si mesmo com os seus discípulos: “Basta ao discípulo ser como seu mestre [γένηται ως (guenité os) ser como], e ao servo como seu senhor” (Mat 10:25). Aqui sim, Jesus ensinou que devemos agir como Ele age porque somos seus discípulos, mas definitivamente este não foi o caso quando nos deu o mandamento de amar os nossos inimigos para que nos tornemos filhos de Deus: [όπως γένησθε υιοί του πατρός υμών (opos guenisthe ui-i tu patrós imon) Lit. para que tornem vocês filhos do Pai seu]. Esta verdade se torna ainda mais óbvia quando logo a seguir Jesus associa a nossa obediência com a recompensa que receberemos: “Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa [Gr. μισθός (misthós) s.m. recompensa, pagamento, salário] tereis? não fazem os publicanos também o mesmo?” (Mat 5:46). Que recompensa é esta senão a de se tornar filhos de Deus e herdar o Reino dos Céus? Se Jesus estivesse apenas informando aos seus ouvintes que deveriam seguir o exemplo de Deus, já que eram seus filhos, então não haveria nenhuma menção de recompensa associada à obediência, pois qual é o valor de ser recompensado com algo que você já possui?
Jesus Explica o Porquê Temos Que Amar os Nossos Inimigos
E finalmente, Jesus na sua paciência conosco, nos dá uma explicação do porquê Deus apenas nos aceita como filhos se amarmos aqueles que no nosso entendimento não merecem o nosso amor: “porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos” (Mat 5:45). Estas são palavras de um conteúdo teológico profundo onde podemos observar vários dos atributos divinos na prática, incluindo o seu amor e justiça. Os rápidos anos que passamos aqui neste vale de lágrimas, não são anos onde o amor e a justiça de Deus reinam. Esta é a razão que Jesus nos instruiu a orar ao Pai pedindo que o seu reino venha até a nós e que a sua vontade seja feita aqui na terra da mesma forma que ela é atualmente feita no Céu (Mat 6:10).
Nunca Devemos Nos Iludir Com a Ideia de Que Somos Melhores do Que os Outros
Queridos, se Deus não fosse amoroso e paciente como Ele o é (1Jo 4:8; Isa 30:18; Rom 2:4), o ser humano não seguiria vivendo como vive, ignorando as suas Palavras e praticando todo o tipo de mal que pratica em um total desrespeito com a sua santa lei; um abuso descarado do livre arbítrio que nos foi dado. É somente por causa da sua bondade imensurável que ainda não fomos completamente eliminados do universo: “O Senhor não atrasa as suas promessas, ainda que alguns acham que ele atrase; porém é paciente convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a se arrepender [Gr. μετανοέω [metanoeo] v. arrepender, converter, mudar de pensamento]” (2Pe 3:9). Quando procuramos amar aqueles que nos maltratam, não devolvendo mal por mal, estamos tão somente agindo como Deus age conosco. Nunca devemos nos iludir com a ideia de que somos melhores do que os outros (Lucas 18:11-14). Não é coincidência que todos nós possuímos um histórico que nos causa vergonha, agora que fomos lavados pelo sangue de Cristo e vivemos em obediência aos seus mandamentos. Se o Senhor tivesse nos julgado e condenado nos dias de rebeldia, nenhum de nós estaria vivo para falar do seu amor e pregar o evangelho da salvação (Lam 3:22-23). Da mesma forma, quando alguém nos causa dor; quando alguém nos magoa com todos os tipos de mágoas, devemos lembrar que um dia fomos nós que magoamos o nosso Deus. Não somos tão diferentes dos nossos inimigos como às vezes imaginamos.
Não Compete a Nós Assumir uma Atitude de Juiz
Devemos também ter em mente que haverá um dia, e já se aproxima rapidamente, em que a justiça divina será feita. Naquele dia, todos aqueles que persistiram no mal enquanto vivos receberão como recompensa o mal e todos aqueles que insistiram no bem receberão o bem: “os que tiverem feito [Gr. ποιέω (pieó) v. fazer, atuar, obedecer, praticar, executar] o bem [Gr. αγαθός (agathós) adj. bem, bom], para a ressurreição da vida [Gr. ανάστασιν ζωής (anastasin zois) exp.idio. resurreição da vida], e os que tiverem praticado o mal [Gr. φαύλος (flávos) adj. mau, perverso], para a ressurreição do juízo [Gr. ανάστασιν κρίσεως (anástasin kríseos) exp.idio. ressurreição do julgamento]” (João 5:29. Ver também: Mar 9:43-45; Luc 13:28). Não compete a nós, todavia, assumir uma posição de Juiz e desejar que as pessoas paguem aqui mesmo pelo mal que nos causa. Aqui está a fé; aqui está a sabedoria; aqui está a maturidade; aqui está a confiança de que existe um Deus no Céu que tudo vê e que recompensa com amor e justiça a todos nós. Espero te ver no céu.
Acesse o esboço completo do Sermão da Montanha
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