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O Sermão da Montanha (Sermão do Monte) – Fazer o Bem a Quem Nos Faz o Mal
Mateus 5:46 e Mateus 5:47 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 39 da série
Por Markus DaSilva
Continuando a explicação sobre o mandamento de que temos que amar [Gr. αγαπάω (agapáo) v. amar] os nossos inimigos para que assim nos tornemos filhos de Deus (Mat 5:44-45), Jesus procura eliminar qualquer dúvida que tenhamos em relação à dificuldade desta ordem. O Senhor está bem a par de que o que Ele nos manda fazer vai contrário à nossa natureza, mas mesmo sendo algo que não queremos fazer, Jesus espera a nossa obediência. Cristo então compara os seus discípulos com os dois grupos de pessoas mais impopulares entre os judeus da época: os publicanos e os gentios: “Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa [Gr. μισθός (misthós) s.m. recompensa, pagamento, salário] tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo?” (Mat 5:46-47).
“É importante que entendamos exatamente o que Jesus pede de nós: amor expressado nas nossas ações, e não restrito aos nossos sentimentos.”
Quem Eram os Publicanos Nos Dias de Jesus
Querer bem às pessoas que nos querem o bem é algo comum, sem ter nada de especial nisso. Na realidade, qualquer um, mesmo aqueles que não têm o menor temor de Deus, por natureza gostam daqueles que gostam deles. Esse é o motivo que Jesus comparou os seus ouvintes com publicanos e gentios. Publicano ou [Lat. publicanus] no latim e [Gr. τελώνης (telones)] no grego, era o título oficial dos coletores de impostos nas várias nações invadidas pelo império romano. Eles também eram responsáveis pela administração dos muitos projetos públicos do império, mas para a população em geral, a coleta de impostos era o que mais marcava a profissão. As autoridades romanas tinham por costume empregar cidadãos naturais dos próprios países invadidos para a função de publicanos. Os publicanos judeus, eram odiados por todo o Israel, pois os consideravam como traidores do seu próprio povo: colaboradores do inimigo. Os judeus entendiam que só mesmo alguém do mais baixo escalão aceitaria a profissão de publicano. Este ódio do povo pode ser claramente observado quando censuraram Jesus por ter ido comer na casa de Zaqueu, um conhecido chefe de publicanos: “Ao verem isso, todos murmuravam, dizendo: Entrou para ser hóspede de um homem pecador [Gr. αμαρτωλός (amartolós) adv. pecador, mundano, rebelde, malvado]” (Luc 19:7).
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Quem Eram os Gentios Nos Dias de Jesus
O outro grupo de pessoas que Jesus usou como referência era os gentios. Estes eram todos os indivíduos que não eram judeus por nascimento ou por conversão ao judaísmo. Sendo que mesmo os convertidos, não eram vistos com os mesmos olhos que um judeu nascido de pai e mãe judeus. Ainda no grupo dos gentios, podia-se incluir os samaritanos, que embora historicamente eram os judeus da antiga Samaria, ou Reino do Norte, com o passar dos séculos se misturaram tanto com os povos vizinhos, e assimilaram tanto as suas religiões e costumes, que para muitos eram considerados piores que alguém que não possuía nenhum vínculo com Israel (João 4:9; 8:48).
Um bom exemplo de como os judeus viam os gentios, nos foi dado pelo próprio Jesus, ao demonstrar a sua compaixão para com a mulher gentia, siro-fenícia, que lhe implorou para expulsar um demônio da sua filha: “Então veio ela e, adorando-o, disse: Senhor, socorre-me. Ele, porém, respondeu: não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos [Gr. κυναριον (kinárion) cachorrinho]. Ao que ela disse: sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então respondeu Jesus, e disse-lhe: mulher, grande é a tua fé [Gr. πιστις (pístis) fé, crença, confiança, fidelidade]! Seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã” (Mat 15:25-28).
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O Que Existia de Comum Entre os Publicanos e Gentios
Jesus identificou algo comum entre as pessoas que faziam parte desses dois grupos detestados pelos discípulos: eles tratavam bem os seus amigos. Utilizando dessa observação, Jesus estipulou então um padrão muito mais alto para todos nós que dizemos ser seus seguidores. Se eles, sendo pessoas consideradas de baixo escalão, agem amavelmente apenas com os seus amigos, somos então ordenados a ser amáveis também com os nossos inimigos. Lucas, no seu evangelho, foi mais generalizado ao juntar estes dois grupos e chamá-los simplesmente de “pecadores”: “Se amardes [Gr. αγαπάω (agapáo) v. amar] os que vos amam, que mérito [Gr. χάρις (rráris) s.f. mérito, graça, favor, crédito, agrado, bondade] há nisso? Até os pecadores [Gr. αμαρτωλός (amartolós) adv. pecador, mundano, rebelde, malvado] amam os que os amam” (Luc 6:32). É importante que entendamos exatamente o que Jesus pede de nós: amor expressado nas nossas ações, e não restrito aos nossos sentimentos.
O Ataque de Satanás e dos Anticristos aos Mandamentos de Jesus
Notemos que ao descrever o comportamento normal entre os “pecadores” para ilustrar o seu mandamento de amar os nossos inimigos, Jesus utilizou de uma variação do verbo fazer [Gr. ποιέω (pieó) v. fazer, atuar, obedecer, praticar, executar] e não do verbo desejar [Gr. θέλω (thélo) v. desejar, querer, ter prazer] ou do verbo sentir [φρονέω (frôneo) v. sentir, pensar]: “E se fizerdes bem [Gr. αγαθοποιέω (agathopiéo) v. fazer o bem, beneficiar] aos que vos fazem bem, que mérito [Gr. χάρις (rráris) s.f. agrado, graça, favor, valor, mérito] há nisso? Também os pecadores fazem [Gr. ποιέω (pieó)] o mesmo” (Lucas 6:33). Este é um ponto fundamental, pois o Diabo frequentemente confunde o cristão com a ideia de que Deus nos pede para simplesmente mudar os nossos sentimentos em relação às pessoas; como se mudar os nossos desejos e sentimentos fosse algo simples de fazer. Este ataque funciona muito bem, porque cria frustração, desânimo e desenvolve a falsa ideia de que Jesus nos pede por algo impossível de ser feito, o que é exatamente o principal objetivo de Satanás. Um grande número de falsos mestres, verdadeiros anticristos, na realidade, já abraçaram esta mentira da serpente e pregam com todo o fervor que de fato todos os mandamentos de Jesus no Sermão da Montanha são impossíveis de serem obedecidos, e nos foram dados tão somente para que reconheçamos as nossas fraquezas. Este linguajar poético, pode soar muito lindo aos nossos ouvidos e fornece excelente material para compositores de louvores, mas não possui nenhum respaldo no evangelho de Cristo. O Senhor não possui o hábito de pedir aquilo que não temos como lhe dar. Foi isso o que o apóstolo João quis dizer quando escreveu: “Porque este é o amor [Gr. αγάπη (agape) s.f. amor] de Deus, que guardemos [Gr. τηρέω (tiréo) v. guardar, vigiar, manter, preservar] os seus mandamentos [Gr. εντολή (endolí) s.f. ordem, comando, regra, mandamento]; e os seus mandamentos não são pesados [Gr. βαρύς (varús) adj. pesado, difícil, laborioso]” . (1Jo 5:3 ver também Mat 11:30; Deut 30:10-14).
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Não Temos Como Controlar os Nossos Desejos, Mas Podemos Agir Contrário a Eles
Conforme já escrevemos em um outro estudo, não temos como controlar os nossos desejos, ou o coração, de uma forma direta. Gostaríamos de ter, mas isso é algo que está fora do nosso alcance. Essa é uma realidade que Deus sabe muito bem, afinal foi Ele mesmo quem nos fez assim. O que quero dizer com isso é que não possuímos um interruptor interno que nos basta ligar para começarmos a amar alguém. E estando a par desse fato, o Senhor não nos pede para simplesmente sentir amor pelos nossos inimigos, mas sim para agir em função do amor. Isto sim, é algo que todos podem fazer e ninguém pode se desculpar dizendo ser impossível: “fazei [Gr. ποιέω (pieó) v. fazer, atuar, obedecer, praticar, executar] o bem aos que vos odeiam!” (Lucas 6:27). Todo o verdadeiro amor é demonstrado nos nossos atos e não nos nossos sentimentos. Quem de fato possui o dom de amar faz o bem às pessoas mesmo quando não está com vontade. Acredite queridos, Jesus não estava com vontade de morrer por mim e por você, mas o fez por amor (João 15:13; Mat 26:39). E o próprio Deus certamente que não estava com vontade de sacrificar o seu único filho por mim e por você, mas o fez porque nos ama (João 3:16). Quando começamos a fazer o bem aos nossos inimigos, tão somente pela fé em Cristo e em obediência à sua palavra, o Senhor fará nascer o amor no nosso coração. É quando fazemos o bem — algo físico — que tornamos possível o amor — algo espiritual — no nosso coração. Devo aqui também mencionar, que às vezes não temos como fazer o bem de uma forma física aos nossos inimigos, mas certamente devemos orar, pedindo que o Senhor os abençoe com todos os tipos de bênçãos; e certamente uma forma de fazer o bem é não fazendo o mal.
Ainda Que Não Desejamos, Devemos Retribuir o Mal Com o Bem: Um Testemunho
Quando alguém nos faz o mal, a nossa inclinação natural é retribuir tanto no coração como nos nossos atos. Devemos lutar contra os dois, mas como já expliquei acima, ainda que a batalha que se trava no coração seja uma difícil de vencer, não podemos falar o mesmo daquilo que se passa no físico. Não devemos de forma alguma permitir que o nosso ódio pelo inimigo se manifeste também nas nossas ações, pois Deus não permite que façamos nós mesmo qualquer tipo de justiça, mas sim que confiemos naquele que conhece a todos e que sabe de coisas que não sabemos. Algo que já pude observar na minha própria vida como um seguidor de Cristo é que frequentemente o Senhor providencia situações em que temos a oportunidade de recusar a fazer mal aos nossos inimigos. Algum tempo atrás, uma supervisora que me causou grande sofrimento, estava para cometer um sério erro na empresa e somente eu percebi o seu engano; nem ela mesmo sabia. Se eu ficasse calado, no dia seguinte ela se veria em uma situação difícil. Satanás me apresentou muitos motivos “bons e lógicos” do porquê eu deveria ficar calado e não me intrometer na história. O Espírito Santo, porém, me dizia que aquela era uma oportunidade que o Senhor estava me dando para ser obediente ao mandamento de Jesus e fazer o bem a quem nos odeia. Uma batalha então travou-se na minha mente sobre a qual das vozes eu deveria dar ouvidos. Louvado seja Deus, que, contrário à minha vontade, preferi a voz do Senhor à voz da serpente e imediatamente, sem dar mais oportunidades ao Diabo, enviei uma mensagem para ela informando da minha descoberta. Ela, muito assustada, me agradeceu e, sem perder um segundo, corrigiu o erro. Infelizmente, como quase sempre ocorre quando fazemos o bem às pessoas más, tenho que mencionar aqui que, apesar do seu agradecimento, ela continuou sendo um espinho na carne para mim, me causando grande sofrimento.
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Uma Investigação de Paternidade Feita Pelo Próprio Deus
Queridos, no estudo anterior desta série sobre o Sermão da Montanha, abordamos as palavras de Jesus sobre como nos tornamos filhos de Deus. O Senhor foi mais do que claro que é através da estrita obediência aos seus mandamentos que somos miraculosamente transformados de meras criaturas para membros da sua família: “Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mat 5:44-45). [όπως γένησθε υιοί του πατρός υμών (opos guenisthe ui-i tu patrós imon) Lit. para que tornem vocês filhos do Pai seu]. Não existe nada de especial em nós se tratarmos as pessoas da forma que achamos que elas merecem. Como Jesus disse: “Também os pecadores fazem o mesmo” (Lucas 6:33). Ou seja, o que o Senhor está nos dizendo é que deve existir em nós uma conscientização contínua da nossa situação de filhos de Deus neste mundo em trevas. Todos os dias, assim que acordamos, devemos lembrar que não somos meras criaturas desperdiçando os nossos rápidos anos aqui neste vale de lágrimas. Se simplesmente vivermos a nossa vida de acordo com aquilo que o nosso coração pecaminoso deseja, viveremos como qualquer um vive. Esta é a diferença entre pecadores e pecadores. Todos os santos são pecadores, mas nem todos os pecadores são santos. O pecador santificado ouve a Deus, odeia, e luta contra a sua carne. O pecador ímpio ignora a Deus, ama, e procura o que a carne deseja (Rom 3:23). O que a carne deseja é retornar bem por bem e mal por mal, mas aqueles que nos chamou para sermos filhos do Altíssimo (João 1:12), nos deu um mandamento que nos eleva acima da carne e confirma quem de fato é o nosso Pai. Ao obedecermos aos mandamentos de Jesus, estamos ouvindo e aceitando a voz do Espírito Santo (João 14:26) que foi prometido aos seus fiéis seguidores: “pois todos os que são guiados [Gr. άγω (agó) v. guiar, conduzir, ir, partir] pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus [Gr. υιοί Θεού (yí Theú) filhos de Deus]” (Rom 8:13-14). Espero te ver no céu.
Acesse o esboço completo do Sermão da Montanha
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