O Sermão da Montanha (Sermão do Monte): Estudo Nº 57: Trevas Como se Fosse Luz

Lindo pôr do sol em uma lagoa com uma pequena árvore ao fundo. O Sermão da Montanha (Sermão do Monte)

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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – Trevas Como se Fosse Luz

Mateus: 6:22-23 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 57 da série

Por Markus DaSilva, Th.D.

O ensino de Jesus que cobriremos neste estudo da série sobre o Sermão da Montanha está no meio de três ensinos interligados e relacionados com possessões materiais. Todos os três ensinos envolvem uma dicotomia, ou dois pontos opostos, onde teremos que escolher entre a opção que nos manterá aqui nesta terra e posteriormente sermos lançados no fogo do inferno (Mat 25:41) e a opção que nos qualificará para recebermos a graça da salvação e subirmos com Jesus na sua volta para recolher aqueles que o Pai lhe deu (Mat 24:31). No primeiro ensino, que abordamos no estudo anterior, Jesus nos apresenta a escolha entre um tesouro aqui na terra e um no céu. No terceiro ensino — que cobriremos no próximo estudo — Jesus nos apresenta a opção do mestre que queremos servir: Mamon ou Deus. Neste presente estudo, utilizando de uma linguagem figurativa, Jesus nos apresenta a escolha do tipo de olhos que queremos desenvolver: olhos bons que não se fixam nos nossos bens e com alegria compartilhamos o que temos com os nossos irmãos, ou olhos maus, onde as riquezas deste mundo nos transformam em pessoas egoístas e corrompem a capacidade da visão de distinguir a luz das trevas: “A lâmpada [Gr. λύχνος (lírnos) s.m. lâmpada, candeia, vela] do corpo [Gr. σώμα (sóma) s.n. corpo; fig. Igreja] são os olhos [Gr. οφθαλμός (oftalmós) s.m. olho; fig. entendimento]; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será trevas. Se, portanto, a luz [Gr. φώς (fós) s.n. luz, brilho] que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas! [Gr. σκότος (skotos) s.n. trevas, escuridão]” (Mat 6:22-23).

“É através das coisas que entram na nossa mente, primariamente pelos olhos, que adquirimos conhecimento, desenvolvemos interesses e estabelecemos prioridades para tudo aquilo que consiste a nossa vida.”

Os Olhos Representam Tudo Aquilo Que Procuramos Nesse Mundo

Antes de entrarmos no estudo mais detalhado da passagem é importante que entendamos a aplicação geral das palavras de Cristo. Quando Jesus nos diz que os olhos são a lâmpada [lírnos] para o corpo [sóma], o significado principal da metáfora deveria ser óbvio para todos. É através das coisas que entram na nossa mente, primariamente pelos olhos, que adquirimos conhecimento, desenvolvemos interesses e estabelecemos prioridades para tudo aquilo que consiste a nossa vida. Enquanto estamos na barriga da nossa mãe, ainda que já vivos, não temos acesso a nenhum tipo de informação que possa nos influenciar para o bem ou para o mal, a nossa alma é neutra quanto ao pecado, uma vez que não existe nada para processar e nem temos ainda a capacidade mental para fazê-lo. Algum tempo depois do nosso nascimento, porém, começamos a nos expor a todos os tipos de influências que guiarão a nossa vida para uma ou outra direção. Se apenas permitimos que o bem entre na nossa mente, então a nossa vida estará cheia do bem, mas se consentimos que o mal entre, então não devemos nos surpreender que o mal esteja sempre presente no nosso viver. Neste sentido, os olhos são a lâmpada e o corpo é a vida; o bem é luz e o mal é trevas.

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Uma Passagem Difícil de Traduzir

Desde os primeiros séculos do cristianismo, este trecho do Sermão da Montanha tem causado dificuldades para os estudiosos dos evangelhos. Parte da dificuldade tem a ver com duas palavras no grego, usadas tanto no evangelho de Mateus como no seu paralelo em Lucas (Luc 11:34-35). A palavra traduzida por praticamente todas as versões da Bíblia como “bons” ou “saudáveis” [Gr. άπλους (ápius) adj.] na realidade significa simples, sem dobras, ou descomplicado, mas quando Jesus compara os “olhos bons” com os “olhos maus” a palavra usada para “maus” não é o oposto de “simples”, que seria “complexo ou dobro” [Gr. δίπλους (díplius) adj.], mas sim [Gr. πονηρός (ponirós) adj. mal, maligno, imoral] que realmente quer dizer “mau”. Neste caso a maioria dos tradutores optaram por usar o adjetivo “bom”, ainda que de fato não seja o significado comum do grego [ápius] para assim criar um melhor contraste para o adjetivo “mau” [ponirós]. Ou seja, se a tradução fosse literal ela ficaria: [εάν ουν ο οφθαλμός σου απλούς… εάν δε ο οφθαλμός σου πονηρός… (en un i o oftalmós su ápius… en di o oftalmós su ponirós) Lit. se os teus olhos forem simples… se os teus olhos forem maus]. Resumindo este ponto, os tradutores não encontraram nos manuscritos originais o contraste linguístico que esperavam encontrar na frase, que sao: [Gr. άπλους (ápius) simples] – [Gr. δίπλους (díplius) complexo] ou então [Gr. άγαθος (ágathos) bom] – [Gr. πονηρός (ponirós) mau].

Jesus Não Nos Alerta Apenas Contra a Mesquinhez

Devo esclarecer, todavia, que a tradução “olhos maus” possui o respaldo das Escrituras. No judaísmo, a expressão possuir um “olho mau” se referia à pessoa avarenta, não liberal com os seus bens, conforme podemos confirmar em várias passagens: “Guarda-te, que não haja pensamento vil no teu coração e venhas a dizer: vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão; e que o teu olho não seja mau para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado” (Deut 15:9). “Não comas do pão do ‘olho mau’, nem cobices as suas deliciosas refeições” (Prov 23:6). “Aquele que tem um olho mau corre atrás das riquezas; e não sabe que há de vir sobre ele a pobreza” (Prov 28:22). Conforme já mencionado no segundo parágrafo desse estudo, é muito improvável, no entanto, que Jesus nos exortou apenas contra a mesquinhez nesta passagem, pois a conclusão sugere uma advertência muito mais séria e abrangente: “Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas!” (Mat 6:23).

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As Trevas na Mente do Cristão Agindo Como se Fosse Luz

Um ponto importante nessas palavras de Jesus é a afirmação paradoxal de que a aparente luz que se encontra na mente da pessoa pode ser de fato trevas. Essas fortes palavras revelam a sutileza de Satanás nos seus ataques envolvendo o engano e ao mesmo tempo revela a nossa propensão em aceitar e defender o certo pelo errado e o errado pelo certo, conforme nos alertou o profeta: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e astutos em seu próprio conceito!” (Isa 5:20-21). Infelizmente nesses últimos dias muitas das nossas igrejas estão ensinando um evangelho que promove as trevas como se fosse luz, nos dando a impressão de que esses líderes nunca leram, ou, o mais provável, simplesmente ignoram o alerta de Cristo.

O Que o Cristão Pode Fazer Para Estar Livre das Trevas

Na mesma passagem em Lucas, onde o tom é bem mais positivo do que em Mateus, Jesus nos instrui a fazermos uma autoanálise e certificarmos que a luz que existe em nós é de fato luz e não trevas: “Vê, então, que a luz que há em ti não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo estiver iluminado, sem ter parte alguma em trevas, será inteiramente claro, como quando a lâmpada te clareia com o seu brilho” (Luc 11:35-36). A única forma de separarmos a luz das trevas é através da completa obediência às palavras de Jesus, que é o único mensageiro direto do Pai: “Eis que uma nuvem brilhante [Gr. φωτεινός (fotinós) adj. cheio de luz, brilhante] os cobriu [Gr. επισκιάζω (episkiázo) v. lançar sombra, obscurecer]; e dela saiu uma voz [Gr. φωνή (foní) s.f. voz, som] que dizia: Este é o meu Filho amado [Gr. υιός μου ο αγαπητός (yiós mu o agapitós) Lit. Filho meu, o amado], em quem me deleito [Gr. ευδοκέω (idokéo) v. estar satisfeito com, se deleitar em, ter prazer em]; escutem [Gr. ακούω (akúo) v. ouvir, prestar atenção, entender, considerar] o que ele diz!” (Mat 17:5. Ver também: João 12:48-50. Comparar com Exo 20:19). O Cristão deverá entender, conforme lemos na abertura do Livro de Hebreus que se antigamente o Pai se comunicou conosco de várias maneiras, nestes últimos dias a sua comunicação é feita tão somente através do Filho: “Quem me rejeita [Gr. αθετέω (athetéo) v. rejeitar, desprezar, ignorar], e não recebe as minhas palavras [Gr. ρήμα (rima) s.n. palavra, ensino, mensagem, instrução], já tem quem o julgue [Gr. κρίνω (krino) v. julgar, condenar, decidir]; a palavra [λόγος (lógos) s.m. palavra, ensino, verbo; tit.div. Jesus] que tenho pregado, essa o julgará no último dia [Gr. τη εσχάτη ημέρα (ti esrráti iméra) exp.idio. o último dia, fim do mundo]. Porque eu não falei [Gr. λαλέω (laléo) v. falar, conversar, declarar] por mim mesmo; mas o Pai [Gr. πατήρ (patír) s.m. Pai], que me enviou [Gr. πέμπω (pémpo) v. enviar, despachar], esse me deu ordem [Gr. εντολή (endolí) s.f. ordem, comando, regra, mandamento] quanto ao que dizer e como falar. E sei que a sua ordem [endoli] é vida eterna [Gr. ζωήν αιώνιον (zoin eônion) s.f. vida; adj. eterna]. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me disse [Gr. είπον (ipon) v. falar, dizer, ordenar]” (João 12:48-50). Frequentemente o cristão se deixa levar pelas mensagens que massageiam o seu ego; pelas mensagens que lhe dá permissão para continuar se beneficiando dos prazeres da carne sem que haja consequências eternas pelos seus atos carnais (2Cor 5:10). Ele não percebe que essas mensagens não possuem o respaldo das palavras de Jesus, que continuamente nos exortou a um completo abandono de tudo aquilo que pertence a este mundo presente: “Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia [Gr. αποτάσσω (apotásso) v. dar adeus, abandonar, se despedir] a tudo [Gr. πας (pas) adj. tudo, de todo o tipo] quanto possui [Gr. υπάρχω (ipar-rro) v. ter, ser, possuir], não tem como ser meu discípulo [Gr. μαθητής (mathitís) s.m. aprendiz, discípulo, aluno, seguidor]” (Luc 14:33). O cristão que deseja ficar livre de todas as trevas, deverá então manter os seus ouvidos atentos e não aceitar nenhuma mensagem que não possui o completo respaldo das palavras de Jesus registrado nos quatro evangelhos. Qualquer instrução que não bater com aquilo que Jesus nos ensinou, deverá ser imediatamente descartada e considerada trevas, por mais agradável que nos pareça: “porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas; não durmamos, pois, como os demais, antes vigiemos e sejamos sóbrios” (1Tes 5:5-6)

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O Nível de Trevas na Vida das Pessoas

Notemos que Jesus enfatiza o nível de trevas que ocorre na vida da pessoa que permite que os seus olhos se tornem um conduto do mal: “quão grande são tais trevas” (Mat 6:23). O uso do pronome grego “quão grande” [Gr. τό σκότος πόσον (to skotos pósson) quão grandes são as trevas], nos mostra que existem graus de trevas na vida das pessoas, caso contrário seria apenas “a luz em ti são trevas”. Este é um ensino muito profundo, pois se refere à capacidade que o ser humano tem de enganar a si mesmo ao ponto de verdadeiramente crer que possui luz em si, quando não possui nenhuma luz, mas sim imensas trevas. Realmente, se pararmos para pensar, teremos que concordar que a maldade, a ingratidão, a rebeldia e a escuridão que observamos entre os seres humanos varia de pessoa para pessoa. Jesus está nos dizendo então que a pessoa que se deixa enganar e recebe as trevas como se fosse luz, possui um altíssimo nível de trevas. A razão deste forte aviso é que quando esse cristão abre a boca para dar um testemunho ou pregar uma mensagem, ele estará pregando uma mensagem de condenação, mas crendo que está pregando salvação. São pessoas assim que no juízo final ouvirão com pavor e incredulidade as terríveis palavras mencionadas no encerramento do Sermão da Montanha: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor [Gr. κύριος (kírios) s.m. Senhor, proprietário, patrão, mestre, dono], Senhor, não profetizamos [Gr. προφητεύω (profitévo) v. profetizar] nós em teu nome [Gr. όνομα (ónoma) s.n. nome]? E em teu nome não expulsamos demônios [Gr. δαιμόνιον (demônion) s.n. demônios, ministros do mau]? E em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente [Gr. ομολογέω (amologéo) v. declarar, confessar, reconhecer]: Nunca vos conheci [Gr. γινώσκω (guinósko) v. conhecer, saber; fig. ter relação sexual]; apartai-vos [Gr. αποχωρέω (aporroréo) v.  partir, sair, ir embora] de mim, vós que praticais a desobediência à lei [Gr. εργαζόμενοι την ανομίαν (ergazómene tin anomían) Lit. aqueles atuando sem lei]” (Mat 7:22-23. Ver também 1Jo 2:19). Observem as três características desse grupo de pessoas que não entrarão no Reino: 1ª) São cristãos 2ª) Esperavam ser bem-vindos no Reino e 3ª) Não obedeciam à lei de Deus: “vós que praticais a desobediência à lei”. [Gr. εργαζόμενοι την ανομίαν]. Ou seja, ainda que ele creia que possui um ministério para bênçãos, se ele não se apegar tão somente nas palavras de Jesus para a sua mensagem, ignorando todos os ensinos de homem, ele poderá levar muitos à perdição e acabar ele próprio condenado por Cristo.

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Devemos Filtrar Tudo o Que Entra na Nossa Mente

Queridos, na passagem em Lucas mencionada mais acima vemos que Jesus nos anima a ter uma vida onde toda a luz que possuímos seja de fato luz: “Se, pois, todo o teu corpo estiver iluminado, sem ter parte alguma em trevas, será inteiramente claro, como quando a lâmpada te clareia com o seu brilho” (Luc 11:36). Com estas palavras em mente deveremos filtrar tudo aquilo ao qual somos expostos no dia a dia, para que não sejamos influenciados por nenhuma trevas que tenta se passar por luz: “E não é de se admirar, porque o próprio Satanás [Gr. Σατανάς (satanás) s.m.np. Satanás, adversário, príncipe do mal] se disfarça em anjo de luz [Gr. αγγελον φωτός  (agelon fotós) anjo de luz]. Portanto, não é para ficar surpreso que os seus obreiros [Gr. διακονος (diákonos) servo, obreiro, diácono] tentam passar por obreiros de retidão [Gr. δικαιοσύνη (dikiosíne) s.f. retidão, justiça]” (2Cor 11:14-15).

A Única Maneira de Mantermos o Corpo Livre das Trevas

Deixe-me deixar bem claro, irmãos, que nenhum de nós conseguirá fechar todas as trevas que desejam entrar na nossa mente se não nos apegarmos às palavras de Jesus. Quando digo nos apegar às palavras de Jesus, quero dizer uma obediência na íntegra (João 14:23-24). Ou seja, tudo aquilo que Jesus nos ensinou nos evangelhos teremos que obedecer e qualquer um que procurar nos passar qualquer ensino, este terá que ser primeiramente filtrado pelas palavras de Cristo antes de aceitarmos como verdade, pois, se não agirmos desta forma é certo que permitiremos que trevas entrem na nossa vida como se fosse luz. Não podemos confiar na nossa capacidade de separar o certo do errado, apenas o Senhor pode fazer isso por nós. A Bíblia está repleta de exemplos de pessoas que acharam que sabiam o que era melhor para eles e baseado nesse entendimento agiram contrário às palavras de Deus, recebendo nos seus corpos as consequências dos seus erros, muitos deles sofrerão a morte eterna por sua rebeldia. Espero te ver no céu.
 

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