O Sermão da Montanha (Sermão do Monte): Estudo Nº 58: Deus e o Dinheiro (Mamom)

Imagem de uma noite estrelada com uma montanha ao fundo. O Sermão da Montanha (Sermão do Monte)

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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – Deus e o Dinheiro (mamom)

Mateus 6:24 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 58 da série

Por Markus DaSilva

Um dos maiores obstáculos que se posiciona entre o cristão e Deus é o dinheiro e o motivo é que ambos competem pela nossa devoção. Certamente que o dinheiro não é a única barreira no nosso caminhar com Cristo, mas a realidade é que, se não existisse o dinheiro, muitos dos pecados que nos prendem a este mundo também não existiriam. Foi por isso que o apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo o alertou: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tim 6:10). Obviamente o apóstolo utilizou de uma hipérbole (exagero intencional), muito comum na literatura da época (Mat 7:3; Mar 10:25; Luc 9:25), mas ainda que o amor ao dinheiro não seja a raiz de absolutamente todos os males que existem no mundo, a realidade é que o desejo descontrolado de possuir dinheiro sempre foi e continua sendo uma das principais razões que o povo de Deus não se entrega por completo ao Senhor e acaba vivendo em desobediência ao maior de todos os mandamentos, segundo o que Jesus nos ensinou: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento’ [Gr. εν όλη τη καρδία σου και εν όλη τη ψυχή σου και εν όλη τη διανοία σου (en oli ti kardía su, ke en oli ti psirrí su, ke en oli ti diania su) Lit. com todo o coração de você, e com toda a alma de você, e com todo o entendimento de você]. Este é o grande e primeiro mandamento” (Mat 22:37-38. Ver também: Luc 10:27; Deut 6:5)

“Jesus é o único ser que pode exigir o que ele quiser de nós, uma vez que não existiríamos se não fosse ele. Jesus é o nosso Criador.”

O Mandamento de Jesus Sobre a Total Dedicação a Deus

Utilizando de uma linguagem figurativa, Jesus agora explica aos discípulos que Deus exige uma completa devoção e não admite que sejamos servos dele e ao mesmo tempo servir a um outro mestre: “Ninguém pode servir a dois Senhores [Gr. κύριος (kírios) s.m. Senhor, proprietário, patrão, mestre, dono]; porque ou há de odiar [Gr. μισέω (miséo) v. odiar, ser odiado, detestar] a um e amar [Gr. αγαπάω (agapáo) v. amar] o outro, ou há de apegar-se [Gr. αντέχω (anderro) v. se apegar] a um e desprezar [Gr. καταφρονέω (kátafroneo) v. desprezar, fazer pouco-caso, ignorar] o outro. Não podeis servir a Deus e a mamom” (Mat 6:24). Notemos que existem três partes neste versículo. Na primeira parte, jesus nos dá um mandamento: não podemos servir simultaneamente a Deus e a qualquer outra pessoa ou coisa neste mundo. Na segunda, Jesus explica o porquê a desobediência ao mandamento é inaceitável para Deus: porque invariavelmente iremos nos apegar (ou amar) a um e desprezar (ou odiar) o outro. E na última parte, jesus aplica o seu mandamento no caso de possessões materiais, já que este era o contexto do momento: “Não podeis servir a Deus e a mamom” [Gr. ου δύνασθε Θεώ δουλεύειν και μαμωνά (u dínaste Theo dúlevin ke mamomá) Lit. não você pode Deus servir e mamom].

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Três Ensinos de Jesus Ligados às Possessões Materiais

Este é o terceiro, dos três alertas relacionados às possessões materiais que Jesus nos deu, mais ou menos no meio do Sermão da Montanha. Todos os três ensinos envolvem uma dicotomia, ou dois pontos opostos, onde teremos que escolher entre a opção que nos manterá aqui nesta terra e posteriormente sermos lançados no fogo do inferno (Mat 25:41) e a opção que nos qualificará para recebermos a graça da salvação e subirmos com Jesus na sua volta para recolher aqueles que o Pai lhe deu (Mat 24:31). No primeiro ensino Jesus nos apresenta a escolha entre um tesouro aqui na terra e um no céu e descarta a opção de mantermos tanto um tesouro aqui neste mundo como também um lá no céu (Mat 6:19-21). No estudo seguinte, a escolha foi o tipo de olhos que desenvolveremos: olhos bons que permitem que apenas a verdadeira luz entre no nosso corpo ou olhos maus que se deixam enganar pelas artimanhas do inimigo e permitem que trevas invadam a nossa mente se passando por luz (Mat 6:22-23); e terminando os três ensinos, Jesus nos alerta quanto a mamom.

A Origem da Palavra Mamom

Muito já se escreveu sobre a origem da palavra mamom [Gr. μαμωνά (mamoná) s.m. riquezas do mundo], inclusive sobre a possibilidade de que durante os dias de Jesus existia um deus com esse nome. Ao que tudo indica, no entanto, o termo é uma transliteração da palavra mamom do hebraico [ממון (mamom)] ou mamona do aramaico [ממונא (mamona)], e era uma palavra neutra na literatura judaica que simplesmente significava, e continua significando no hebraico moderno, dinheiro, fortuna, ou lucro, sem necessariamente indicar algo bom ou ruim. A palavra, a propósito, não se encontra no Velho Testamento e no Novo aparece apenas quatro vezes, todas elas ditas por Jesus. Além dessa vez no Sermão da Montanha, o Senhor também usou [Gr. μαμωνά (mamoná)] três vezes no capítulo 16 do evangelho segundo Lucas; Lucas 16:9, 11, 13. O termo mamom, contudo, está presente em alguns dos Manuscritos do Mar Morto, como também nos Targums [Heb. תרגום (targum)], que são paráfrases em aramaico de vários livros do Velho Testamento escritos tão cedo quanto 500 anos a.C. (Ver Ne 8:8 como uma possível referência aos Targums). Concluindo este ponto, não tem a menor dúvida que o fato de Jesus ter personificado a palavra, se referindo a mamom como um mestre e exortando os discípulos a não se tornarem seus servos, contribuiu para que vários escritores, desde o início do cristianismo até a idade média, especulassem quanto a existência de um deus chamado “mamom” no primeiro século, mas não existe nenhuma evidência histórica para tal afirmação.

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O Dinheiro é Um dos Muitos Ídolos Que Competem Com Deus Pela Nossa Adoração

Antes que alguém leia este estudo e imagine que está livre desse mal porque não é rico, devemos observar que Jesus se referiu ao dinheiro em si, e não à sua quantidade. Isso significa que tanto o mais rico dos cristãos como o mais pobre, corre o risco de ter como senhor o dinheiro. A pessoa pode ter pouco dinheiro guardado e, no entanto, fazer daquele pouco um ídolo e adorar o seu ídolo no sentido de que a sua confiança está depositada no seu dinheiro, quando deveria estar em Deus. Certamente que este é um mal que por vários motivos se vê mais frequentemente entre os ricos (Mat 13:22, Luc 18:25), incluindo o fato de que eles já têm o ídolo formado, enquanto o pobre, por ser pobre, hoje o tem e amanhã não, mas as pessoas pobres não estão de forma alguma livre de cometer este pecado, pois nos dias de escassez ele pode muito bem desejar mais o dinheiro do que a Deus que é a fonte de toda a boa dádiva (Tiago 1:17).

Tudo Aquilo Que Compete Com o Nosso Amor a Jesus Pode Nos Levar à Perdição

O mesmo amor que demonstramos ao Pai também devemos demonstrar ao Filho (João 10:30; 1Jo 2:23). Jesus exige ser amado acima de tudo aquilo que existe neste mundo (Mat 10:37). Exigir um amor nesse nível é algo que apenas os três membros da Trindade podem fazê-lo. Se Jesus fosse apenas um homem como todos os homens, certamente que seria inaceitável que nos fosse exigido amá-lo acima da nossa mãe, pai, filhos e até mesmo acima da nossa própria vida (Luc 14:26). Ou seja, se um indivíduo se aproximasse de nós e usasse do tipo de linguagem que Jesus usou, ainda que fosse ele um grande e famoso líder, não respeitaríamos as suas exigências pois não aceitamos que qualquer ser humano esteja em posição de exigir este tipo de amor. Jesus, porém, não é apenas um ser humano como todos nós, mas também é aquele pelo qual tudo o que foi feito se fez: “Ele estava no princípio [Gr. αρχή (ar-rrí) s.f. primário, princípio, origem, começo; autoridades primárias] com Deus [Gr. θεός (Theós) s.m. Deus]. Todas as coisas foram feitas [Gr. γίνομαι (guínome) v.  tornar-se, surgir, ser feito; aparecer] por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1:1-3). Ou seja, Jesus é o único homem que pode exigir o que ele quiser de nós, uma vez que não existiríamos se não fosse ele. Jesus é o nosso Criador (Col 1:16-17). [Acesse estudo sobre obediência a Jesus]

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Servir a Dois Mestres

Voltando àquilo que falamos no início deste estudo, lembremos que Jesus nos deu o mandamento de ter apenas a Deus como nosso Senhor, seguido de uma explicação. Obviamente, sendo Jesus um com o Pai (João 10:3) e o único porta-voz diretamente autorizado por Deus (Mat 17:5), Ele não tinha a obrigação de nos explicar nada, mas na sua misericórdia e paciência conosco, e não querendo que nenhum daqueles que o Pai lhe deu se perca (João 17:12), resolveu nos instruir quanto à razão do mandamento: “porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de apegar-se a um e desprezar o outro”. Observemos aqui dois níveis de servidão, o primeiro se trata de uma entrega por completo, onde Deus será amado ou odiado. O segundo se trata também de uma entrega, mas não no mesmo nível que a primeira, onde a pessoa ou se apega a Deus ou então o deixa de lado. O que Jesus nos ensina aqui é que independentemente do nosso nível de relacionamento com Deus, é impossível ter a Ele e a qualquer outra coisa como o nosso senhor. Explicaremos este ponto a seguir.

Os Diferentes Graus de Intimidade Entre os Seguidores de Jesus

Nem todo o cristão possui o mesmo tipo de intimidade com Deus; esta é uma verdade facilmente comprovada nas Escrituras. Por acaso todos viveram isolados e se vestiram de pele, ou apenas João Batista? Por acaso todos subiram ao monte com Cristo, ou apenas Pedro, Tiago e João? Por acaso várias pessoas cederam os seus túmulos para o corpo do nosso querido Mestre, ou a apenas José de Arimateia foi dado esse privilégio? No entanto Jesus amou e continua amando a todos os seus seguidores. Sabemos muito bem que muitos além dos seus apóstolos morarão com Jesus no lar que nos foi preparado (João 14:3). Ao separar os salvos utilizando das palavras amar [Gr. αγαπάω (agapáo) v. amar] e apegar [Gr. αντέχω (anderro) v. se apegar] neste mandamento, Jesus quis dizer que todo o genuíno cristão, seja ele muito íntimo de Deus, ou não, apenas receberá a graça da salvação se Deus for o único Senhor da sua vida. Ou seja, pode até haver diferentes graus de intimidade com Deus entre os salvos, mas todos eles possuem apenas ao Senhor como Deus.

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O Livre Arbítrio Nos Dado Por Deus

Explorando mais profundamente essas palavras de Jesus, infelizmente concluímos que a mesma pessoa com a capacidade de amar a Deus também poderá usar dessa capacidade para odiá-lo; e aquela com capacidade para se apegar a Deus também poderá usar dessa capacidade para desprezá-lo e é por isso que Jesus usou essa combinação, amar/odiar e apegar/desprezar. Ou seja, Deus capacita a pessoa, mas não força o relacionamento, permitindo à própria pessoa decidir quem ou o que receberá a sua devoção, se a Deus ou a algum outro senhor da sua escolha. Jesus apenas nos alerta que uma escolha terá que ser feita, se a ele, muito bem, se a um outro, também muito bem, o que não será aceito será um servo com dois senhores: “Mas, se vos parece mal o servirdes [Heb. עבד (avad) v. servir, trabalhar] ao Senhor [Heb. יהוה‎ (Yerrovah) np.div. Jeová], escolhei [Heb. בחר (barrar) v. escolher] hoje a quem haveis de servir; se aos deuses [Heb. אלהים (Elohim) s.m. sent.prim. Deus; sent.sec. deuses, seres celestes] a quem serviram vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa [Heb. בית (ba-it) s.m. casa, lar, família] serviremos ao Senhor” (Jos 24:15). Espero te ver no céu.
 

Acesse o esboço completo do Sermão da Montanha

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