O Sermão da Montanha (Sermão do Monte): Estudo Nº 60: As Nossas Preocupações: As Nossas Necessidades

Gramas secas com uma montanha ao fundo. O Sermão da Montanha (Sermão do Monte)

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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – As Nossas Preocupações

Mateus 6:25-32 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 60 da série

Por Markus DaSilva, Th.D.

No estudo mais recente desta série sobre o Sermão da Montanha, mencionamos que neste bloco dos ensinos de Jesus, o objetivo é que passemos a viver como servos de Deus e não do dinheiro, ou mamom [Gr. μαμωνάς (mamonás) s.m. dinheiro, riquezas], que foi a expressão no aramaico usada por Cristo. Mais especificamente, Jesus nos disse que se de fato escolhemos servir a Deus, então não podemos mais nos preocupar com o amanhã: “Portanto, não vos preocupeis, dizendo: Que comeremos? Ou: Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? (Pois a todas estas coisas os descrentes procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso” (Mat 6:31-32). Mais uma vez, notemos que Jesus utiliza de uma conjunção (portanto), neste caso uma partícula grega [Gr. ούν (un) conj. portanto, por isso], significando que a decisão de não se preocupar com o amanhã é o que Deus espera de nós se de fato servimos a ele e não ao dinheiro.

“Pensamos e agimos como se a nossa vida pessoal se trata de algo muito insignificante para que Deus tenha sequer conhecimento.”

A Futilidade das Nossas Preocupações

Para enfatizar ainda mais o seu alerta de que a preocupação é algo inadmissível e sem sentido para quem de fato serve a Deus, Jesus, neste bloco do Sermão da Montanha, utiliza de três ilustrações: os pássaros, as flores e o nosso tempo de vida: “1ª) Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem colhem, nem guardam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? 2ª) Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode adicionar que seja meio metro (um côvado) na medida da sua vida? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? 3ª) Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem tecem; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?” (Mat 6:26-32).

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O Homem, as Aves e as Flores

Em se tratando das aves e das flores, a primeira e a terceira ilustração no verso acima, Jesus nos chama a atenção para estas duas outras criaturas de Deus, sobre como apesar de serem seres irracionais e incapazes de sentimentos humanos (como a preocupação e a ansiedade), ainda assim seguem vivendo muito bem e cumprindo a sua função dentro dos parâmetros estabelecidos por Deus para estes tipos de seres. Ou seja, Jesus está nos dizendo que a preocupação com o amanhã é algo completamente desnecessário para o bem-estar dos fiéis servos de Deus da mesma forma que o é para os pássaros e flores. Assim como seria considerado ridículo e até mesmo cômico para uma flor passar o dia todo ansiosa se amanhã ela continuará tão bonita e perfumada como no dia de hoje, o indivíduo que verdadeiramente serve a Deus está se colocando em posição semelhante ao ter dúvidas se será ou não suprido com as suas necessidades nos dias que virão: “se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé [Gr. oλιγόπιστος (oligópistos) s.f. de pouca fé, que confia pouco]?” (Mat 6:30).

Aprendendo Com Pássaros e Lírios

Estas palavras de Jesus são incríveis, pois revelam algo ao nosso respeito que poucos sabem. Geralmente pensamos que somos superiores às outras criaturas de Deus em todos os sentidos, mas aqui Jesus nos disse que quando se trata de se beneficiar dos cuidados do nosso Criador, os animais, e até mesmo as plantas, estão em posição superior à raça humana. Os animais e as plantas simplesmente seguem vivendo um dia por vez, alheios e imperturbados quanto ao que lhes esperam no dia seguinte, não se preocupam se haverá o alimento necessário, se estará chovendo ou fazendo sol, simplesmente descansam no fato de que no presente estão bem, e o Criador honra a passividade destes simples seres, fornecendo tudo aquilo que precisam enquanto durar a vida que foi estipulada para cada um deles. Assim também devemos viver, nos diz Jesus.

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Deus é o Mantenedor das Suas Criaturas

Algo que devemos também lembrar, e que esquecemos, é que todos, homens, animais e plantas, obtemos a nossa existência da mesma fonte: Deus: Pai, Filho e Espírito Santo: “Ele estava no princípio [Gr. αρχή (ar-rrí) s.f. primário, princípio, origem, começo; autoridades primárias] com Deus [Gr. θεός (Theós) s.m. Deus]. Todas as coisas foram feitas [Gr. γίνομαι (guínome) v.  tornar-se, surgir, ser feito; aparecer] por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1:1-3. Ver também: Gen 1:1-2). Todas as criaturas de Deus, criadas para viver no universo visível, possuem em comum a dependência do Criador. Quando Jesus nos compara com os animais e as plantas, esta é uma comparação baseada na verdade de que temos em comum, não só o mesmo Criador como também o mesmo mantenedor, que é Deus: “Tu, só tu, és Senhor; tu fizeste o céu e o céu dos céus, junto a todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela existe, os mares e tudo quanto neles há, e tu os conservas a todos, e o exército do céu te adora” (Ne 9:6). Esse ponto é importante, porque embora reconhecemos sem problemas que Deus criou todos os seres terrestres tão somente porque quis e através da sua palavra, temos a ideia errada de que no caso dos homens, devido a sermos seres conscientes, a nossa manutenção depende de nós e não do Criador, e por isso nos preocupamos com o amanhã, meditando desnecessariamente se teremos ou não tudo aquilo que precisamos para viver. Ou seja, agimos como se precisássemos de Deus apenas para nos criar, mas não para nós manter.

Alongar a Vida ou a Estatura? Uma Dificuldade de Tradução

A outra ilustração que Jesus utilizou para mostrar a futilidade que é nos preocuparmos com o amanhã, refere-se à incapacidade de aumentarmos o nosso tempo de vida: “Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode adicionar que seja meio metro [Gr. πήχυς (nírrus) s.m. côvado, cúbito, aprox. 0,5 m.] ao seu tempo de vida (à sua estatura [Gr. ηλικία (ilikía) s.f. estatura, maturidade]?” (Mat 6:27). Esta é uma passagem que dá muita dificuldade aos tradutores porque Jesus utilizou de uma expressão da época que se fosse traduzida literalmente pode dar a entender que as pessoas em vão se preocupam em adicionar pelo menos meio metro na sua estatura, o que obviamente não faz sentido por ser um valor demasiadamente longo (meio metro) dentro do contexto. A palavra traduzida como estatura, no entanto, também significa longevidade, mas aí se deparam com o problema de associar uma medida de distância (côvado ou 0,5 m.) com uma referência ao tempo de vida. Uma solução foi utilizar de expressões figurativas e assim combinar [Gr. πήχυς (nírrus)] com [Gr. ηλικία (ilikía)]; algo como: “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode aumentar que seja meio metro ao curso da sua vida?”, ou então ignorar a medida de distância (côvado) e utilizar uma referência ao tempo (uma hora, um momento, etc.); (NVIport, NVT, NAA, NVIesp, LBLA, CSB, NET, ISV, NLT, NIV, ESV, RSV). Exceções para a ARC, TB2010, RVA, KJV, NKJV, TAR e DRB, que optaram por manter o original grego, algo como: “…pode acrescentar um côvado à sua estatura?”, sendo que uma boa parte destas traduções da Bíblia utiliza de notas de rodapé para fornecer uma tradução alternativa aos leitores.

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Somos Diferentes dos Descrentes

Notemos que Jesus faz uma observação em parênteses neste alerta contra as nossas preocupações se amanhã teremos aquilo que necessitamos para viver: “Pois a todas estas coisas os descrentes [Gr. έθνος (éthnos) s.n. gentios, descrentes, pagãos, nação]  procuram” (Mat 6:32). Este é um outro ponto importante nesta passagem, pois, podemos sentir a insatisfação e tristeza nas palavras de Jesus. O Senhor ficava e continua ficando decepcionado com a nossa falta de fé, nele e no Pai. Na realidade, por várias vezes Jesus se admirou quando presenciava os seus discípulos agindo como se não tivessem um Deus que cuida deles (Mat 8.26; Mat 16.8). Ele simplesmente não conseguia acreditar na tamanha falta de confiança existente entre nós, os seus seguidores. Ao nos lembrar que aqueles que não servem a Deus também se preocupam e procuram garantir que não passarão nenhuma falta nos dias que virão, Jesus quer dizer que ele espera algo diferente de nós. Ou seja, para o descrente faz sentido a preocupação com o amanhã, pois não contam com o cuidado de Deus. O indivíduo que não teme a Deus, entende que se alguém suprirá as necessidades dele e da sua família todos os dias que ainda lhes restam na vida, esse alguém é ele mesmo, e portanto corretamente se preocupam e maquinam na mente o que podem fazer para garantir um futuro confortável: “Disse então o homem rico: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma [Gr. ψυχή (psirrí) s.f. alma, vida, mente, individualidade]: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e alegra-te. Mas Deus lhe disse: Insensato [Gr. άφρων (áfron) adj. idiota, insensato, tolo, estúpido] , esta noite te pedirão [Gr. απαιτέω (apaitéo) v. exigir, pedir de volta, cobrar] a tua alma; e o que tens preparado, para quem ficará?” (Luc 12:18-20).

A atitude deste homem descrito na parábola reflete corretamente a mentalidade do ímpio. Ele é um insensato, segundo Jesus, porque não reconhece que a qualquer momento Deus retirará o sopro da vida que lhe foi dado (Ec 12:7) e toda a sua preocupação com o amanhã terá sido algo completamente inútil. Ele não irá usufruir em nada aquilo que ajuntou para o futuro. Deus espera que sejamos diferentes. Deus espera que coloquemos toda a nossa dependência nele; na sua bondade e na sua misericórdia, e não nas nossas habilidades. Este é um ato de fé, e que explicaremos como é feito mais abaixo.

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O Nosso Pai Sabe Que Precisamos Destas Coisas

Após se mostrar decepcionado com a nossa falta de fé, Jesus nos lembra que embora afirmamos que somos servos de Deus, estamos na realidade agindo como aqueles que nem sequer creem nele. Ou seja, existe uma contradição entre as nossas palavras e o nosso viver. Com a boca dizemos que servimos a um Deus todo-poderoso, todo bondoso e que temos a ele como Pai, mas na nossa mente e no nosso comportamento, questionamos se amanhã teremos comida, roupa, moradia, cuidados médicos, etc. Dentro deste patético e lastimoso quadro, Jesus então nos diz algo que deveria ser óbvio, mas que muitos de nós se comportam como se não soubessem: “vosso Pai celestial sabe [Gr. οίδα (ida) v. saber, conhecer, entender] que precisais de tudo isso” (Mat 6:32). Em outras palavras, existe na nossa mente uma ideia sobre Deus que não reflete quem ele é de fato. Frequentemente pensamos e agimos como se Deus fosse apenas o soberano do universo e que devido à sua alta posição o seu interesse se limita aos assuntos mais sérios. Pensamos e agimos como se a nossa vida pessoal se trata de algo muito insignificante para que Deus tenha sequer conhecimento.

Como Interagimos Com Deus

Este entendimento errado sobre Deus resulta da nossa falta de fé, o que nos leva a imaginar que Deus interage com as suas criaturas da mesma forma que os líderes na terra interagem com a população geral. De fato, os seres humanos que ocupam os altos cargos nos governos, devido a serem eles mesmos seres humanos e sujeitos às limitações de todos os seres criados, por necessidade são forçados a concentrar os seus interesses nas pessoas e naquilo que resultará no benefício geral da nação que governam. Em nenhum país um cidadão comum tem como se encontrar com o presidente para um diálogo face a face. Aliás, geralmente nem mesmo com os ministros ou demais membros do alto-escalão do governo. Ainda que inconsciente, a nossa tendência é nos relacionar com Deus da mesma forma que relacionamos com o presidente (ou posição equivalente) do país em que vivemos. Eu sei que nas nossas orações chamamos a Deus de Pai e alguns se referem a ele até como “Aba” ou “paizinho”, mas a questão levantada por Jesus não é o nome que usamos, mas sim a maneira que nos comportamos.

A Verdadeira Fé é a Fé Que Confia

A fé que professamos ter, se for sem confiança, não é fé, mas apenas palavras vãs. Esta é uma verdade que se aplica até mesmo entre os seres humanos. Todos nós que temos filhos ficaríamos tristes se notássemos que eles agem conosco da mesma forma que agem com os estranhos. Por natureza, não apenas os seres humanos, mas até mesmo a maioria dos animais, podem confiar totalmente nos seus pais. Sabemos que se algum dia, por algum motivo, precisarmos do auxílio de alguém, podemos nos recorrer aos nossos pais, cientes que jamais nos negariam qualquer ajuda dentro do que podem oferecer. Mais tarde, em um outro estudo do Sermão da Montanha, veremos que Jesus utiliza dessa mesma comparação: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhes pedirem?” (Mat 7:11).

Jesus Deseja Que Cresçamos na Fé

Queridos, quando Jesus nos chama a atenção quanto à preocupação com o amanhã, o objetivo da “bronca” é que nos corrijamos e passemos a nos beneficiar de uma forte fé, da mesma forma que ele mesmo se beneficiava continuamente da perfeita fé em Deus quando estava aqui conosco. A maior de todas as razões que tantos cristãos não possuem a fé que gostariam de possuir é porque não vivem uma vida de total obediência aos mandamentos de Jesus. Quanto mais obedecemos mais firme e inabalável se torna a nossa fé. Da mesma forma, quem muito crê, muito obedece. Jesus, o nosso maior exemplo, possuía uma fé perfeita porque a sua obediência ao Pai também era perfeita: “Disse-lhes Jesus: A minha comida [Gr. βρώμα (vroma) s.n. comida] é fazer [Gr. ποιέω (pieó) v. fazer, atuar, obedecer, praticar, executar] a vontade [Gr. θέλημα (thélima) s.n. desejo, propósito, vontade] daquele que me enviou, e completar [Gr. τελέω (teléo) v. terminar, completar] a sua obra [Gr. έργον (érgon) s.n. ação, ato, ocupação, obra] ” (João 4:34); e em outro lugar: “E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado [Gr. αρεστός (arestós) adj.  agradável, prazeroso]” (João 8:29). Esta, amados, é uma verdade maravilhosa, pois é uma verdade que salva; é maravilhosa pois é prática; não é um conceito teórico de difícil compreensão ou aplicação. Este conhecimento nos permite aumentar a nossa fé e como consequência aceitar como fato que Deus cuida de nós não só no hoje como no amanhã. Se vivermos em obediência aos mandamentos do Senhor, não existe a menor razão para a preocupação, pois sempre receberemos dele tudo aquilo que pedimos. Foi isso o que o apóstolo João quis dizer quando nos escreveu: “e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos [Gr. εντολή (endolí) s.f. ordem, comando, regra, mandamento], e fazemos o que lhe é agradável” (1Jo 3:22). Espero te ver no céu.
 

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