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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – As Nossas Preocupações
Mateus 6:34 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 62 da série
Por Markus DaSilva
A dura realidade que todos têm que admitir é que a vida não é fácil. Muitas vezes pensamos que algumas pessoas que conhecemos não enfrentam nenhum problema no seu dia a dia e que para elas a vida é bem fácil, mas lhe garanto que este é um pensamento completamente distante da realidade: a vida é difícil para todos. Obviamente as pessoas não enfrentam os mesmos tipos de problemas, sempre no mesmo instante e na mesma intensidade, pois não fazemos parte de uma gigantesca família de siameses, agarrados e enfrentando as batalhas da vida em conjunto, mas ainda que sempre varie de pessoa para pessoa, o fato é que todos nós temos uma carga a ser carregada. Foi baseado neste fato que Jesus nos disse estas incríveis palavras: “Não vos preocupeis, portanto, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã se preocupará por si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mat 6:34).
“Os demônios exploram a nossa falta de fé e confiança em Deus nos bombardeando com sugestões negativas sobre o mal que nos espera nos dias que virão.”
Jesus Encerra o Ensino Sobre Deus e Mamom
Com este versículo sobre o dia de amanhã, Jesus encerra um outro bloco do Sermão da Montanha. Mais uma vez, o Senhor inicia a frase com uma conjunção, a partícula grega [Gr. ούν (un) conj. portanto, por isso, então], o que significa que o que ele disse está ligado àquilo que acabou de dizer: “buscai primeiro o Reino dos Céus e a sua retidão, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mat 6:33). Ou seja, ao termos o Reino dos Céus como o nosso grande foco no dia de hoje, o dia de amanhã, com todos os problemas que porventura venham a surgir, nem passam pela nossa mente. Estamos tão ocupados com os afazeres do Reino dos Céus no presente, que não temos tempo a perder com problemas do futuro, conforme o próprio Jesus nos deu o exemplo: “Disse-lhes Jesus: A minha comida [Gr. βρώμα (vroma) s.n. comida] é fazer [Gr. ποιέω (pieó) v. fazer, atuar, obedecer, praticar, executar] a vontade [Gr. θέλημα (thélima) s.n. desejo, propósito, vontade] daquele que me enviou, e completar [Gr. τελέω (teléo) v. terminar, completar] a sua obra [Gr. έργον (érgon) s.n. ação, ato, ocupação, obra]” (João 4:34).
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A Seriedade do Reino dos Céus
Quando Jesus disse que a sua comida era fazer a vontade de Deus, ele quis dizer que cuidar das coisas do alto eram mais importantes para ele do que era o comer para se manter vivo aqui na terra. Um dos principais motivos que preocupamos com o amanhã é porque vivemos mais para este mundo do que para o Reino. Ou seja, estamos mais focados nos eventos lá fora e de como cada um deles nos afeta por um breve tempo aqui na terra do que no nosso relacionamento interno com o Pai e de como somos afetados para toda a eternidade: “o Reino de Deus está dentro de vós” (Luc 17:21). Para Jesus o comer, o beber, o dormir, o vestir e tudo aquilo que tem por finalidade nos manter vivos neste mundo presente, eram simples necessidades básicas. Não existia em Cristo a menor preocupação quanto às coisas necessárias para a manutenção do corpo, ele sabia que o seu Pai nunca deixaria de lhe enviar, de algum lugar, o que fosse necessário para mantê-lo vivo e saudável aqui na terra, e por isso estas coisas eram completamente secundárias no seu dia a dia: “porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso” (Mat 6:32).
Duas Profecias, Dois Homens, Dois Reinos
Além de Jesus, o Messias, os profetas do Velho Testamento mencionaram apenas dois seres humanos que fariam parte do Novo Testamento: aquele que prepararia o caminho para Jesus: João Batista (Isa 40:3-5; Mal 3:1) e aquele que trairia a Jesus: Judas Iscariotes (Sal 41:9; Zac 11:12-13). Este segundo homem, Judas, foi um homem cujo foco era o reino presente; se preocupava com a sua situação no amanhã, e este foi o motivo que fez o que fez: “Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os principais sacerdotes, e disse: Que me dareis para que eu o vos entregue? E eles lhe pesaram trinta moedas de prata. E desde então buscava ele oportunidade para o entregar” (Mat 26:14-16). Já o primeiro homem, João Batista, tinha como foco o Reino dos Céus. De fato, João, desconsiderava por completo tudo aquilo que este mundo atual pode oferecer, ao ponto de optar por passar os seus dias isolado, meditando e se concentrando na missão que Deus lhe confiou: “Naqueles dias apareceu João, o Batista, pregando no deserto da Judeia, dizendo: Arrependei-vos [Gr. μετανοέω [metanoeo] v. arrepender, converter, mudar de pensamento], porque é chegado o reino dos céus [Gr. βασίλειο των ουρανών (vasílio ton uranón) exp.idio. Reino dos Céus]. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto; preparai o caminho do Senhor [Gr. κύριος (kírios) s.m. senhor, proprietário, patrão, mestre, dono; tit.div. Jesus], endireitai as suas veredas. Ora, João usava uma veste de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre” (Mat 3:1-4).
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O Entendimento Limitado Sobre o Reino dos Céus
Quando lemos e ouvimos a respeito do Reino dos Céus o que normalmente entendemos é simplesmente que este será o local que viveremos quando deixarmos o mundo atual. À primeira vista temos a ideia de que este Reino dos Céus do qual Jesus tanto falava é apenas um sinônimo de céu. Uma forma mais elaborada de se referir à nossa morada permanente, seja no céu ou na nova terra (Apo 21:1; Isa 65:17), onde voltaremos à época em que existiam reis, príncipes, cortes, súditos e demais componentes de um reinado, sendo que a única diferença é que em vez de termos seres humanos sentados no trono, teremos o próprio Deus e Jesus, conforme nos disse o apóstolo João: “e houve no céu grandes vozes, que diziam: O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Apo 11:15). Ou seja, muitos entendem que o Reino dos Céus faz referência a uma situação futura, ainda distante, sem conexão com a nossa situação atual e por isso se preocupam com as necessidades do presente. Sim, todos sabem muito bem que no céu tudo é perfeito; sabem que lá nada de mal ocorre aos seus residentes; sabem que lá tudo é de graça; sabem que lá ninguém fica doente. Tudo lindo e maravilhoso, mas isso é lá e não aqui. Aqui, muitos pensam, é outra conversa. Aqui é cada um por si; aqui é só luta após luta; sofrimento após sofrimento; aqui é cobra engolindo cobra… e por isso se preocupam com o amanhã.
O Entendimento Completo Sobre o Reino dos Céus
Notemos qual era a mensagem de João Batista a respeito do Reino: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mat 3:2). O verbo muito bem traduzido como “é chegado” pela ARC, TAR, KJV, ESV, RSV, NLT [Gr. εγγίζω (eguízo)] está no presente do indicativo, e infelizmente foi traduzido como “está próximo” ou similar pela maioria das demais traduções, tanto no português, espanhol, como no inglês (NVIport, NVIesp, LBLA, RVA, NIV, NVT, NJB, NAA, ARA, NTLH). A expressão “está próximo” é demasiadamente vaga, e não possui o peso correto daquilo que o Batista queria dizer quando relacionava a chegada do Messias com o Reino dos Céus. Jesus já havia nascido e portando o Reino dos Céus já havia chegado em forma humana (Isa 9:6-7). Quando optamos em viver para o Reino, não estamos tomando uma decisão que apenas nos afetará no futuro, depois do juízo final, quando finalmente chegarmos ao nosso lar permanente com Jesus (João 14:3), mas sim no presente. O Reino dos Céus já chegou e nós, que aceitamos a Jesus como o nosso Rei e Senhor; nós que vivemos em obediência aos seus mandamentos (João 14:15; 1Jo 3:22), recebemos a proteção do Rei hoje mesmo. A parte futura do Reino dos Céus será maravilhosa, ninguém duvida disso, mas igualmente maravilhosa é a certeza de que Jesus já reina na nossa vida e, portanto, não temos a menor necessidade de permitir qualquer tipo de preocupação na nossa mente. De fato, nos preocupar com o amanhã é uma atitude ofensiva aos olhos de Deus, pois é o mesmo que dizer que não confiamos por completo no seu cuidado para conosco: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem colhem, nem guardam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?” (Mat 6:26).
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O Dia de Amanhã Se Preocupa Por si Mesmo
Jesus segue este ensinamento utilizando de uma expressão antropomórfica. Ele se referiu ao dia de amanhã como se fosse uma pessoa que está sempre se preocupando com as coisas: “porque o dia de amanhã se preocupará por si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mat 6:34). Basicamente, a ideia é que em todos os dias surgem problemas. Alguns dias são pequenas chateações, fáceis de resolver ou ignorar, enquanto outros dias trazem consigo grandes dificuldades que requer a nossa atenção. Simples ou sérios, pequenos ou grandes, sabemos muito bem que raramente temos dias em que absolutamente tudo é uma maravilha, não neste mundo. Jesus então nos instrui a reconhecer essa informação como um fato imutável e não perder tempo meditando naquilo que não temos como alterar. Preocupando ou não, o amanhã terá os seus problemas, então que o amanhã nos deixe em paz e se preocupe consigo mesmo. Quanto a nós, nos limitaremos a lidar com os problemas do dia de hoje, à medida que surgirem.
Os Problemas Que Nunca Surgirão
Um outro aspecto importante do que Jesus nos ensina sobre não nos preocuparmos com o amanhã é que uma boa parte das nossas preocupações com o futuro tem a ver com problemas que nunca surgirão. Embora não temos evidências na Bíblia que Satanás e os seus anjos caídos conseguem ler pensamentos, não temos dúvidas que o inimigo conhece muito bem as nossas fraquezas simplesmente observando as nossas conversas e atitudes. Os demônios exploram a nossa falta de fé e confiança em Deus (1Pe 5:8) nos bombardeando com sugestões negativas sobre o mal que nos espera nos dias que virão. Porque eles mesmos não têm paz de dia ou de noite, os demônios não querem de forma alguma que tenhamos paz aqui neste mundo e a maneira que conseguem roubar a nossa paz é através das suas mentiras de que coisas horríveis estão para nos acontecer muito em breve, a menos que façamos alguma coisa. Essas mentiras envolvem todas as áreas da nossa vida: saúde, finanças, relacionamentos… etc..
As Sugestões Enganosas de Satanás: Um Testemunho
Quando escrevo sobre preocupações com problemas que nunca irão surgir, me recordo de uma reunião anual de avaliação com a minha supervisora tempos atrás em que o inimigo já estava trabalhando na minha mente com as suas mentiras por vários dias antes da data marcada. A reunião, detalhe por detalhe, era encenada continuamente na minha cabeça, e em cada uma destas exibições teatrais o final só piorava. Na minha fraqueza, eu procurava argumentos que pudessem amenizar o horrível desfecho que já era praticamente garantido: seria despedido em completa vergonha e humilhação. Quando finalmente entrei naquele escritório, o nervo estava à flor da pele. Sentei-me e ela me deu um papel para assinar. Eu nem conseguia ler direito, tamanho o temor que me assolava. Estava para assinar quando ela insistiu que eu lesse, foi quando vi que o documento consistia todo de elogios. Terminada a avaliação, ela me parabenizou, me revelando confidencialmente que eu era o seu melhor funcionário e que o meu aumento salarial era o maior do departamento.
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Treinando a Mente
Escrevendo à igreja de Roma, o apóstolo Paulo exortou os cristãos a permitirem que Deus transformasse a sua mente para que assim a perfeita vontade de Deus fosse feita: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos [Gr. μεταμορφόω (metamorfóo) v. transformar, mudar] pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rom 12:2). O verbo usado por Paulo e traduzido como “transformar” é a raiz da conhecida palavra “metamorfose”. No contexto de preocupações infundadas, as palavras de Paulo nos ensinam que devemos rejeitar este tipo de ataque para que assim a nossa mente se acostume a não perder tempo com as sugestões mentirosas dos demônios. O “não vos conformeis a este mundo” nos ensina que a contínua preocupação com o amanhã não faz parte da vida daqueles que já vivem o Reino dos Céus nos dado em Cristo (Mat 25:34), mas sim daqueles que não tem a Deus como Pai e portanto são órfãos espirituais: “pois a todas estas coisas os gentios [Gr. έθνος (éthnos) s.n. gentios, descrentes, pagãos, nação] procuram” (Mat 6:32). Ou seja, se aceitarmos passivamente todo o temor, toda a preocupação por coisas que ainda não aconteceram que o inimigo quer enfiar na nossa mente, estaremos o tempo todo em uma luta espiritual e nunca poderemos gozar da paz que Jesus quer nos dá ainda aqui nesta terra: “Deixo-vos a paz [Gr. ειρήνη (iríni) s.f. paz, seguro, livre de preocupação], a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo [Gr. κόσμος (kósmos) s.m. mundo; fig. habitantes da terra, estilo de vida ímpio] a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27).
Quando a Preocupação Tem Fundamento
Não poderia terminar este estudo sem mencionar que de fato existem situações na vida quando temos toda a razão de nos sentir apreensivos com os eventos que estão ocorrendo ou que estão para ocorrer. Agora mesmo conversava com a minha esposa sobre um parente que se encontra em estado muito grave no hospital e a família teme pelo pior. Em um outro caso, recebemos recentemente um pedido de oração de uma jovem que está para fazer uma prova cujo bom resultado resultará no emprego que tanto busca. Em ainda outro caso, pai e mãe estão considerando mudar do Brasil para a Europa para ficar com a filha que precisa deles. Diferentemente do meu testemunho que escrevi dois parágrafos acima, todos estes casos são reais e não invenções do inimigo. Com estas palavras no Sermão da Montanha, é óbvio que Jesus não está censurando o tipo de preocupação que todas estas pessoas mencionadas estão passando. Existe espaço na vida do verdadeiro cristão para uma certa dose de preocupação, mas com moderação e desde que sabemos se tratar de fatos.
A Atuação de Deus em Todos os Nossos Problemas
Queridos, independentemente do tipo de preocupação que surgem na nossa mente, se baseadas em fatos ou simplesmente sugestões mentirosas de Satanás, devemos considerar todas elas como fazendo parte da grande batalha espiritual que todos enfrentamos: “pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes” (Efe 6:12). Se esquecermos deste importantíssimo detalhe começaremos a maquinar soluções meramente físicas que no final não contribui, nem para uma real solução, e o pior, nem para o nosso crescimento na fé. Se, no entanto, considerarmos as fontes das nossas preocupações dentro do contexto da batalha espiritual, naturalmente procuraremos em Deus, e não em nós mesmos por uma solução: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te apoies no teu próprio entendimento” (Prov 3:5).
Quando Jesus nos disse que no mundo teríamos aflições (João 16:33), ele falou bem sério e quis dizer exatamente o que disse: neste mundo teremos aflições. Mas neste mesmo verso ele também nos disse que devemos nos animar porque ele já venceu o mundo. O verbo vencer [Gr. νικάω (nikáo) v. vencer, prevalecer, conquistar, triunfar] utilizado por João, além dos vários significados que indicam que este mundo, seu príncipe (João 14:30) e seus amantes já perderam a batalha, também possui o seu substantivo [Gr. το νίκος (to níkos)] que significa: “esmagadora superioridade”. Ou seja, os sofrimentos deste mundo e as preocupações que os seguem, não se aproximam nem de longe do poder que existe no nome do nosso querido Jesus. Imploro que todos vocês exercitem a sua fé, e não aceitem com tanta facilidade o medo de que coisas ruins nos ocorrerão amanhã. Deixem que o amanhã se preocupe consigo mesmo. Espero te ver no céu.
Acesse o esboço completo do Sermão da Montanha
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