O Sermão da Montanha (Sermão do Monte): Estudo Nº 64: Não Julgueis: Julgando a si Mesmo

Imagem de árvores no outono com várias montanhas ao fundo. O Sermão da Montanha (Sermão do Monte)

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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – Não Julgueis: Julgando a si Mesmo

Mateus 7:3-4 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 64

Por Markus DaSilva, Th.D.

Se existe um tipo de julgamento que sem dúvidas nenhuma recebe a aprovação de Deus é quando julgamos a nós mesmos. Nesta sequência do Sermão da Montanha, julgar a nós mesmo é de fato o que Jesus nos disse que devemos fazer primeiro, antes de acharmos que estamos em posição de julgar aos outros: “Não julgueis [Gr. κρίνω (kríno) v. julgar, condenar, decidir], para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós. E por que vês o cisco no olho do teu irmão [Gr. αδελφός (adelfós) s.m. irmão no físico ou espiritual; fig. companheiro, colega], e não reparas o tronco que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tens o tronco no teu? Hipócrita [Gr. υποκριτής (hipocrités) s.m. hipócritas, atores]! tira primeiro o tronco do teu olho; e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mat 7:1-5). Ou seja, Deus deu aos seres humanos a capacidade de efetuar uma autoanálise, para que assim possamos nos corrigir e viver uma vida que agrada ao nosso Criador. O tronco o qual Jesus menciona nesta hipérbole são os defeitos que muitas vezes carregamos conosco, mas que apesar de possuirmos todos eles, vergonhosamente condenamos o nosso irmão pelos defeitos que ele possui.

“O obreiro que anda em retidão, ainda que lidere um pequeno ministério, possui o Espírito Santo tanto na sua vida como nas suas palavras.”

A Hipérbole do Tronco no Olho

Mais uma vez no sermão da Montanha, Jesus utiliza de uma figura de linguagem conhecida na língua portuguesa como hipérbole, que se trata de um exagero intencional para enfatizar uma ideia ou uma mensagem. Por exemplo: “Estou morrendo de fome!” ou “Ele deve o mundo inteiro!”. Esta é uma forma de expressão popular, e este é exatamente o motivo que Jesus utilizou várias vezes de hipérboles, pois a maioria dos seus seguidores fazia parte da população comum: pescadores, pastores de ovelhas, camponeses… etc. Jesus utilizava frequentemente deste tipo de linguagem: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti…” (Mat 5:29). Obviamente Jesus não estava encorajando as pessoas a se submeterem a uma cirurgia e que literalmente removessem um dos seus olhos; “Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro…” (Luc 9:25). Sabemos muito bem que ninguém ganha o mundo inteiro; e finalmente: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha…” (Mar 10:25). Todos sabem que não existe uma agulha tão grande que um camelo consiga passar pelo seu buraco. Todos estes exemplos são exageros intencionais para que as pessoas se compenetrassem da seriedade das palavras de Cristo.

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Jesus Descreve Uma Cena Bizarra

Neste caso, a hipérbole utilizada envolve um homem se oferecendo para ajudar a um irmão na igreja que ele, ao observar, concluiu estar com um cisco no olho. Ele se aproxima deste irmão e fala algo como: “irmão, pude notar que o amigo coça muito este seu olho e daqui de longe mesmo já constatei que o seu problema se trata de um cisco que você permitiu entrar no seu olho, pois posso vê-lo nitidamente. Venha aqui, se aproxime mais para que eu retire este cisco e você tenha o alívio que tanto procura”. O problema desta cena, disse Jesus, é que o indivíduo que se oferece para esta boa ação, e que argumenta estar com a visão tão aguçada que consegue enxergar o cisco no olho do outro, não observou que também possui um corpo estranho no seu olho que precisa ser removido. Isto por si só já desqualificaria o suposto “bom-samaritano” a se oferecer como um especialista em remover ciscos. Temos, porém, um agravante, pois enquanto o seu irmão aparenta ter um cisco no olho, todos podem observar que no seu caso o objeto no olho não é um cisco, mas sim um tronco, ou uma viga, como diz algumas versões.

O Problema da Hipocrisia no Nosso Coração

Mais uma vez no Sermão da Montanha Jesus utiliza do termo pejorativo: hipócrita: “Hipócrita [Gr. υποκριτής (hipocrités) s.m. hipócritas, atores]! tira primeiro o tronco do teu olho; e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mat 7:1-5). Uma grande diferença neste caso é que enquanto as três vezes anteriores (Mat 6:2,5,16) Jesus se referia aos religiosos das sinagogas, provavelmente aos escribas e fariseus mencionados no início do sermão (Mat 5:20), neste caso, porém, o Senhor dirigiu o alerta aos seus próprios discípulos, ou seja, eu e você.

Um dos problemas da hipocrisia é que frequentemente ela passa despercebida. Deixando de lado os conhecidos charlatões da fé, não é de forma alguma comum alguém na igreja admitir que de fato é um hipócrita, mesmo que isto seja bem óbvio para todos. No caso do homem da hipérbole do tronco no olho, por exemplo, Jesus foi bem claro que ele não sabia que tinha algo tão grande atrapalhando a sua visão. O indivíduo realmente se via em posição de investigar se existia algo de errado com o olho do seu irmão (o julgar) e após determinar que o problema era um cisco (o condenar), também se via capacitado para solucionar o problema e se ofereceu como voluntário para extrair o tal cisco. Vemos então que a hipocrisia entra no nosso coração sem que notemos.

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A Hipocrisia e o Orgulho

A hipocrisia na igreja está ligada ao orgulho. O irmão orgulhoso se vê superior aos outros e junto com esta superioridade imaginária segue a necessidade de manter uma fachada que dê suporte à imagem que ele deseja transmitir. Se ele se orgulha de ser sábio, manterá uma imagem de sábio (Isa 5:21), ainda que de fato não o seja. Se se orgulha de ser santo (Isa 65:5), fará de tudo para que todos o tenham como um exemplo de santidade. Este fazer de tudo, significa que o orgulhoso, se for necessário, não medirá esforços para manter as aparências, ainda que tenha que mentir e viver uma vida de ator. De fato, este é o significado original da palavra hipócrita: um ator.

Já o homem verdadeiramente humilde não corre o risco de se tornar um hipócrita, pois o humilde não procura aparentar aquilo que não é. O homem humilde também comete erros, mas como ele não se preocupa com as aparências, os seus erros são facilmente admitidos, não vendo a necessidade de esconder os seus erros por detrás de uma fachada, como o faz o hipócrita. Deus ama o humilde porque a humildade leva ao reconhecimento de culpa e à dependência da misericórdia do Senhor: “Confessei-te o meu pecado, e a minha iniquidade não escondi. Disse eu: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu pecado. Pelo que todo aquele que teme a Deus ore a ti, a tempo de te poder achar” (Sal 32:5-6).

A Hipocrisia e a Cegueira

Uma característica de todo o pecado, e muito em especial o pecado da hipocrisia, é a sua capacidade de cegar as pessoas. Quanto mais o cristão convive lado a lado com um pecado, menos ele nota a sua presença, até se insensibilizar por completo e não poder enxergar a situação em que se encontra, por mais óbvia que seja. Esta era a situação de um grande número entre os líderes judeus nos dias de Jesus: “Por que não compreendeis a minha linguagem? É porque não podeis ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai” (João 8:43-44). O homem que circulava apontando os ciscos nos olhos dos outros não sabia que possuía um tronco no seu: “e não reparas o tronco que está no teu olho?” (Mat 7:3). O verbo no negativo [Gr. ου κατανοείς (ú catanoís)] foi traduzido como “não reparas” pela (ARA, NTLH, TB2010, BJesp, CSB, ESV, ISV e NRSV); como “não vês” pela (ARC, RVA, RVA2015, NET e DRB); como “não se dá conta” pela (NVIport, LBLA e AMP); e como “não presta atenção” pela (NIV e GNT).

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Quando um Cisco Vira um Tronco

Provavelmente no início, quando o tronco no olho era apenas um cisco, o homem a que Jesus se referiu sentiu um incômodo, mas ignorou, se acostumou, e com o passar do tempo o que lhe incomodava deixou de incomodar. Outro cisco se juntou ao primeiro, e depois outro e outros mais, até que sem perceber já não circulava pela vizinhança com um cisco no olho e sim com uma enorme viga. Esse homem provavelmente possuía mais do que apenas um pecado acariciado. Frequentemente a aceitação de um pecado leva à aceitação de outros pecados relacionados ao primeiro. O homem que possui um olho adúltero eventualmente, se a situação o permitir, cometerá adultério também no físico (Mat 5:28); quem hoje rouba pouco, amanhã roubará muito (Luc 16:10); quem mente uma mentira inocente; logo logo praticará grandes enganos (Col 3:9-10). A chave de não termos um tronco no olho é então a sua remoção enquanto se trata de apenas um pequeno cisco.

Líderes Com Tronco no Olho

A hipérbole do homem com o tronco no olho tem uma aplicação óbvia para todos nós que aceitamos a posição de líder do povo de Deus aqui na terra. O fato de Jesus ter direcionado o alerta aos seus próprios discípulos, já deixa claro que as suas palavras foram dadas como uma instrução para aqueles que mais tarde seriam enviados a todas as nações, tribos, povos e línguas (Apo 7:9). Jesus queria que entendessem que a tarefa de pregar o evangelho do arrependimento e da preparação para o Reino (Mat 4:17), exige uma vida santificada e verdadeiramente dedicada às coisas de Deus. Só pode falar contra pecados o homem que odeia pecados. Só pode instruir contra o erro o homem que procura eliminar o erro na sua própria vida. O líder que possui pecados de estimação não está em condição de liderar a ninguém, mesmo porque no ato de condenar o pecado estará condenando a si mesmo: “tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve cometer adultério, adulteras? (Rom 2:21-22). O que frequentemente ocorre então é que este falso líder acaba se vendo em uma de duas situações possíveis: ou ele prega contra o pecado, mesmo estando em pecado, e se torna um hipócrita ou para não ser acusado de hipocrisia simplesmente não prega contra o pecado. Sem mencionar os casos extremos que estão se tornando cada vez mais comuns nestes últimos dias, onde os líderes ensinam que aquilo que era pecado não é mais: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo!” (Isa 5:20).

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Os Falsos Obreiros

O alerta de Jesus sobre não termos troncos enfiados nos olhos tem a ver também com o mau exemplo e com os escândalos que não deveriam existir entre os seus obreiros. Uma grande preocupação de Jesus era que todos vissem que ele era um homem livre de qualquer pecado: “Quem dentre vós podeis me acusar de pecado? Se digo a verdade, por que não me credes?” (João 8:46), ou seja, há uma conexão entre a retidão, a verdade e o crer. Jesus censurou os líderes judeus porque, mesmo sendo reto e falando a verdade, ainda assim não creram nas suas palavras. A verdade de Cristo quando anunciada por pessoas retas é o suficiente para convencer a todos aqueles a quem o Pai enviou (João 6:44). Devemos eliminar o pecado na nossa própria vida se queremos que a verdade de Jesus atinja o coração do pecador: “Pois eu vos digo que, se a vossa retidão não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mat 5:20). Quando um líder não possui a vida reta que Jesus espera dele, a sua pregação não possui valor salvífico. Ele pode até ser muito famoso e conseguir atrair grandes plateias pelo seu carisma e oratória, mas as suas mensagens não possuem o poder para a salvação que possui as palavras que saem dos lábios do obreiro reto. O obreiro que anda em retidão, ainda que lidere um pequeno ministério, possui o Espírito Santo tanto na sua vida como nas suas palavras. Ele tem a consciência tranquila e dorme em paz, sabendo que nenhuma alma daquelas que o seu Mestre lhe enviar irá se escandalizar por um mau exemplo. Ele não possui troncos no olho e está apto para instruir no caminho que leva à salvação: “Quão formosos sobre os montes são os pés do que anuncia as boas-novas, que proclama a paz, que anuncia coisas boas, que proclama a salvação” (Isa 52:7).

Julgando a si Mesmo

Queridos, devemos julgar a nós mesmos antes de querermos ajudar aos outros. Lembremos, no entanto, que se tivermos na cabeça a ideia já fixada de que estamos bem e de não possuirmos ciscos ou troncos nos olhos, então este autojulgamento nunca ocorrerá, ou ocorrerá, mas sem honestidade. Lembrem-se do que escrevemos mais acima que o homem da hipérbole de Jesus não sabia que possuía um gigantesco corpo estranho no seu olho. Devemos então assumir uma atitude de humildade e com toda a honestidade pedir ao Senhor que nos mostre tudo aquilo que tem bloqueado a nossa visão, ainda que não estejamos a par destes bloqueios, conforme expressou o salmista: “Sonda-me, ó Deus [Heb. אל (El) Deus], e conhece o meu coração [Heb. לבב (lêiváv) s.m. coração; fig. alma, mente, caráter]; prova-me [Heb. בחן (barran) v. examinar, testar, provar], e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim uma inclinação para o que é errado [Heb. אם דרך עצב (im bérrerk ócsev) Lit. se existe um caminho de ídolos], e guia-me pelo caminho eterno [Heb. בדרך עולם (bê bérrerk olam) no caminho da eternidade]” (Sal 139:23-24). Devemos pedir que o Senhor nos mostre aquilo que não vemos, seja por pura ignorância, ou porque na nossa fraqueza permitimos que os pequenos ciscos se transformassem em troncos. Espero te ver no céu.
 

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