O Sermão da Montanha (Sermão do Monte): Estudo Nº 55: Os Nossos Jejuns

Cabana nas montanhas com vários montes cobertos de neve ao fundo. O Sermão da Montanha (Sermão do Monte).

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O Sermão da Montanha (O Sermão do Monte) – Os Nossos Jejuns

Mateus 6:16-18 Estudo Bíblico e Comentário Bíblico Nº 55 da série

Por Markus DaSilva, Th.D.

Estamos um pouco além da metade do mais longo discurso de Jesus que é o conhecido Sermão da Montanha. Conforme falamos bem no início desta longa série, esse discurso — que na realidade é mais um guia de instrução do que um discurso ou sermão — não foi para a multidão de curiosos e caça-milagres que sempre seguia a Cristo, mas somente para os seus discípulos [Gr. μαθητής (mathitís) s.m. aprendiz, discípulo, aluno], conforme nos disse Mateus: “Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo se assentado, aproximaram-se os seus discípulos, e ele se pôs a ensiná-los” (Mat 5:1-2). Possivelmente muitas outras pessoas ouviram o que Jesus dizia aos discípulos, mas os ensinos eram claramente direcionados, não aos curiosos e descrentes que frequentemente o cercavam, mas àqueles que já o haviam aceitado como Mestre e Senhor: “Vós me chamais Mestre [Gr. διδάσκαλος (didáskalos) s.m. mestre, doutor, professor] e Senhor [Gr. κύριος (kírios) s.m. Senhor, proprietário, patrão, mestre, dono]; e dizeis bem, porque eu o sou” (João 13:13). Esta é uma verdade bem fácil de ser confirmada bastando apenas observar o alto nível de dedicação que se vê nas suas instruções (Mat 5:22; 28; 32; 39; 42; 48). Jesus sabia muito bem que somente aqueles que verdadeiramente criam nele como o Salvador enviado do Pai estariam dispostos a obedecer aos seus mandamentos e dessa forma obter a vida eterna: “vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna [Gr. ζωήν αιώνιον (zoin eônion) exp.idio. vida eterna], e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10:26-28).

“Jesus foi bem claro que o jejum pessoal é uma interação íntima entre o homem carente e o Pai que é a fonte de tudo aquilo que precisamos.”

Para Quem e Porquê Nos Foi Dado o Sermão da Montanha

O Sermão da Montanha foi dado para um grupo seleto que temia a Deus e ao seu Messias (João 8:42), mas que devido aos séculos de instruções erradas que recebiam dos seus falsos mestres, precisavam ouvir de Jesus qual era a maneira correta de viver para agradar a Deus. Logo após ensiná-los a orar, o Senhor então se volta para um outro ato de devoção a Deus que é o jejum: “Quando jejuardes, não vos mostreis tristes como os hipócritas [Gr. υποκριτής (ipocrités) s.m. hipócritas, atores] ; porque eles desfiguram os seus rostos, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não mostrar aos homens que estás jejuando, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mat 6:16-18). Observemos o uso da conjunção no grego [Gr. όταν (otan) quando] logo no início da passagem: [όταν δε νηστεύητε μή γίνεσθε ώσπερ οι υποκριται (ótan de nistévite mí guínesthe ósper i ipokrité) Lit. quando e vocês jejuarem não sejam como os hipócritas]. Ou seja, ao iniciar o mandamento nos dizendo “quando jejuardes”, a implicação é a de que o Senhor espera que os seus discípulos irão jejuar. Se jejuar não fosse algo que Jesus esperasse como um ato de devoção regular dos seus seguidores, incluindo todos nós, ele começaria a sentença com a partícula condicional se [Gr. εαν (ian) se, caso]: “Se jejuardes”, mas não, Ele começou com: “Quando jejuardes” [Gr. οταν (otan) quando].

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O Jejum Entre os Fariseus, João Batista e os Discípulos de Cristo

Embora sabemos muito bem que Cristo jejuava individualmente (Mat 4:2), ao que tudo indica, no entanto, Ele e os seus discípulos não jejuavam coletivamente, como os fariseus e até mesmo João Batista e os seus discípulos o faziam: “Então vieram ter com ele os discípulos de João, perguntando: Por que é que nós e os fariseus jejuamos, mas os teus discípulos não jejuam [Gr. νηστεύω (nistevo) v. jejuar]?” (Mat 9:14). De fato, como estamos abordando nesse estudo, os fariseus jejuavam regularmente. Segundo os historiadores, os fariseus, por tradição, tinham como costume jejuar duas vezes por semana (Luc 18:12): na quinta-feira, o dia em que Moisés subiu ao Sinai, e na segunda-feira, o dia em que ele desceu do monte. Quanto a João Batista, a Bíblia não nos dá nenhum detalhe sobre o tipo de jejum que praticava acompanhado dos seus discípulos, mas se ficaram incomodados com o fato de que Jesus e os seus discípulos não jejuavam, o mais provável é que eles consideravam o jejum como algo muito importante no seu relacionamento com Deus e gostariam de saber se o Messias estaria porventura cancelando a prática do jejum. Jesus, porém, não disse nada negativo sobre o jejum, mas simplesmente explicou que os anos que passava na terra junto com os seus amigos (João 15:15), eram anos felizes, e seria inapropriado jejuar no momento, mas que logo chegaria o tempo em que Ele teria que se retirar temporariamente, e aí então jejuariam: “podem porventura ficar tristes os convidados de um casamento enquanto o noivo [Gr. νυμφίος (ninfíos) s.m. noivo] está com eles? Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo, e então hão de jejuar” (Mat 9:15).

Os Discípulos de Jesus Não Precisavam Jejuar

Quase sempre jejuamos durante um período triste na nossa vida ou então porque nos falta algo e precisamos que o Senhor atente para as nossas necessidades, ou para as necessidades dos nossos queridos. Os anos que Jesus passou com os seus discípulos, todavia, foram anos felizes e certamente não havia nada que os seus seguidores necessitassem que Jesus não o suprisse: “quando vos mandei sem bolsa de viagem, sacola, ou sandálias, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles responderam: Nada” (Luc 22:35). Além das necessidades físicas que Jesus não permitiu que faltasse aos seus discípulos, lembremos também que a Bíblia não menciona sequer um milagre de cura entre os seguidores de Jesus durante todo o seu ministério. Isso é um grande indício de que nem mesmo enfermidades ou acidentes os atingiram, por causa da presença física do Senhor: “Enquanto eu estava com eles, eu os guardava [Gr. τηρέω (tiréo) v. guardar, vigiar, manter, preservar] no teu nome [Gr. όνομα (ónoma) s.n. nome] que me deste; e os conservei, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que se cumprisse as Escrituras [Gr. γραφή (grafí) s.f. Escritura Sagrada, escritos em geral]” (João 17:12).

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A Necessidade do Jejum Após a Ascensão de Cristo

Os anos que se seguiriam após o retorno de Jesus para o Pai, todavia, seriam diferentes. Uma vez que o nosso amado protetor não mais se encontrasse fisicamente conosco, não mais estaríamos completamente protegidos de todo o mal e o jejum passaria a ser necessário: “Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo, e então hão de jejuar” (Mat 9:15). Jesus confirmou essa verdade durante uma das últimas orações que fez ao Pai, pouco antes da sua crucificação: “Eu lhes dei a tua palavra [λόγος (logos) s.m. palavra, mensagem, verbo]; e o mundo [Gr. κόσμος (kósmos) s.m. mundo; fig. habitantes da terra, estilo de vida ímpio] os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço [Gr. ειρωτάω (irotáo) v. pedir, questionar]  que os tires [Gr. αίρω (éro) v. tirar, levantar, levar embora] do mundo, mas que os guardes [Gr. τηρέω (tiréo) v. guardar, vigiar, manter, preservar] do mal [Gr. πονηρός (poniros) adj. mal, maligno, imoral]. Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo” (João 17:14-16). Ou seja, ao se distanciar fisicamente dos seus queridos irmãos, Jesus sabia que a situação mudaria para eles, e de fato mudou (Atos 4:3-22; 5:17-42; 8:3; 9:2; 12:1-5; 13:44-51). Já que o Senhor não poderia levá-los imediatamente para a casa do Pai, Jesus pede que Deus os proteja: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do mal” (João 17:15).

A Motivação Errada dos Fariseus

Na passagem do Sermão da Montanha que abordamos neste estudo, Jesus nos alerta quanto a não imitarmos o mau exemplo dos fariseus em relação ao jejum. Lembremos que nos estudos anteriores já fomos alertados quando à hipocrisia dos fariseus em relação às suas ofertas (Mat 6:2) e em relação às suas orações (Mat 6:5), sendo assim não é de se surpreender que o Senhor nos alerte também quanto à maneira que jejuavam. O aviso foi o de que ao jejuarmos devemos fazê-lo para ser visto por Deus e não por uma audiência. Os fariseus tinham como costume utilizar de vários meios para que ficasse óbvio para todos os que os vissem soubessem que estavam jejuando. O intuito, certamente, era passar para o povo a ideia de que eram pessoas santas e assim recebessem a aprovação da congregação.

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Próximo jejum: sexta-feira, 5 de abril de 2024

Um Uso Diferente de Dois Verbos Gregos no Evangelho Segundo Mateus

Uma característica linguística nesse relato de Mateus, foi o uso dos verbos [Gr. αφανίζω (afanizo)] que significa desaparecer ou destruir e [Gr. φαίνω (fíno)], que significa brilhar (Ver: Mat 6:19, 20; Atos 13:41; Tiago 4:14). A passagem, no entanto, não diz que os fariseus queriam desaparecer e que ninguém notasse a sua presença, ou ser discretos quando jejuavam, mas exatamente o contrário. Jesus nos diz que eles “desapareciam ou se destruíam” para se destacarem. Estudioso e especialistas em Grego, sem saber o que fazer com essa frase de Jesus, deduziram então que esta era uma expressão da época usada para indicar alguém que se escondia por detrás de uma fachada (desaparecendo), mas com o objetivo de chamar a atenção; não pelo que realmente eram, mas pelo que aparentavam ser. Os tradutores de Bíblias decidiram então traduzir (afanizusin) como desfiguram: [Gr. αφανιζουσιν γάρ τα πρόσωπα αυτών, όπως φανώσιν τοις ανθρώποις νηστεύοντες (afanizusin gár ta prósopa aftón, ópos fanósin tis anthrópis nistévontes) Lit. eles desaparecem para o rosto deles para que eles brilhem para os homens estão jejuando].

O Jejum Como um Sacrifício Pessoal

Por séculos, nós, o povo de Deus, utilizamos do jejum lado a lado com a oração como um meio de demonstrar ao Criador a necessidade que temos da sua intervenção em todos os problemas que diariamente enfrentamos. Diferentemente da oração, o jejum é um ato de sacrifício. Todos os tipos de jejuns estão ligados ao sacrifício pessoal. Aliás, este é o tipo de sacrifício mais pessoal que alguém pode oferecer ao Senhor, uma vez que os efeitos são sentidos na própria mente, no próprio corpo e no próprio espírito.

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O Sacrifício do Jejum Comparado Com os Sacrifícios Materiais

Comparemos o jejum com as ofertas materiais, por exemplo. Salvo algumas exceções (Mar 12:43-44; 2Cor 8:3), quando alguém oferece a Deus um sacrifício material, ele geralmente não passará por necessidade como consequência do seu ato, ou seja, o impacto da oferta quase sempre não é sentido a nível pessoal. A pessoa não vai passar frio ou ter fome porque sacrificou algo de valor material a Deus, pois o Senhor nos prometeu que tal coisa não ocorreria (Prov 3:9-10). Na realidade, as promessas de Deus para sacrifícios materiais são todas de retornos superiores ao que foi sacrificado, como todos nós sabemos muito bem. Verdade esta que infelizmente tem sido usada e abusada por tantos exploradores da fé nestes últimos dias. Mas no caso do jejum, não existe outra forma de fazê-lo sem que o cristão sinta no corpo, literalmente, o resultado da sua oferta. Além do que, diferentemente de um sacrifício material (Mal 3:10), e até mesmo da oração (Mat 21:22), não existe nenhuma promessa específica de que Deus sempre nos dará aquilo que procuramos obter com o nosso jejum, uma verdade que podemos verificar facilmente com o exemplo de Davi e Bate-Seba quando ele perdeu o filho, mesmo após jejuar (2Sam 12:16-18). O fato de Deus não nos prometer que teremos o resultado que queremos obter se jejuarmos, torna o jejum algo muito precioso para Deus. Ou seja, quando jejuamos estamos fazendo um sacrifício sem qualquer promessa de que receberemos algo em retorno, mas assim mesmo o fazemos. Jejuamos apenas confiando na misericórdia de Deus. [Acesse mais informação sobre o jejum na série sobre a batalha espiritual]

A Correta Motivação Quando Jejuamos

O Jejum, assim como todos os nossos atos de adoração e devoção a Deus, só possui qualquer valor se a motivação for correta. Neste trecho do Sermão da Montanha, Jesus foi bem claro que o jejum pessoal é uma interação íntima entre o homem carente e o Pai que é a fonte de tudo aquilo que precisamos. Se o cristão decidir transformar o jejum em uma espécie de show, chamando a atenção para si mesmo e desnecessariamente alertar às pessoas que está ou que irá jejuar, ele então caiu no erro o qual Jesus nos alertou.

Dois Pontos Importantes no Alerta de Jesus Sobre o Jejum

Queridos, encerrando este estudo, devo aqui mencionar dois pontos importantes sobre este alerta de Jesus para que não haja nenhum mal entendimento. Primeiramente, Jesus não está dizendo que se alguém descobrir que estamos jejuando o jejum não tem mais valor para Deus, ou que caímos em algum pecado, certamente que não. O alerta se refere à pessoa que faz questão que os outros saibam do que está fazendo para se aparentar alguém consagrado. O outro ponto, é que Jesus não está se referindo ao jejum coletivo. É óbvio que quando um líder organiza um jejum na sua igreja, este jejum terá o conhecimento de todos e será muito difícil para os participantes se manterem incógnitos durante o evento. Mesmo porque geralmente os jejuns em grupo envolvem outras atividades, como reuniões de oração, estudos da Palavra e ministrações doutrinárias. O alerta de Jesus, devo também mencionar, é tão somente para o nosso próprio bem. O intuito é que façamos o nosso jejum de tal forma que ele seja completamente aceito pelo Senhor e que recebemos do nosso Pai aquilo que tanto precisamos. Espero te ver no céu.
 

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