A Lei de Deus: Estudo Nº 14: A Circuncisão e os Cristãos

Nébula com o texto sobre a circuncisão para os gentios

A CIRCUNCISÃO E OS CRISTÃOS.

Por Markus DaSilva, Th.D.

Se há um mandamento de Deus que é considerado abolido por Jesus por praticamente todas as igrejas, esse é a circuncisão. Provavelmente, este é o mandamento do Senhor que possui o maior consenso entre todas as denominações cristãs existentes há séculos. O consenso é tão grande que até mesmo antigos rivais doutrinários, como a igreja católica e as protestantes (assembleia, adventista, batista, presbiteriana, congregação, etc.), incluindo as consideradas seitas, como os mórmons e os testemunhos de Jeová, todos defendem que este mandamento foi cancelado na cruz.

Existem duas razões principais para este entendimento ser tão popular entre os cristãos, apesar de Jesus nunca ter ensinado tal doutrina e de todos os apóstolos e discípulos de Jesus estarem em obediência a este mandamento, incluindo Paulo, cujos escritos os líderes usam para “liberar” os “estrangeiros” dessa exigência do próprio Deus. Isso ocorre mesmo sem haver nenhuma profecia no Antigo Testamento sugerindo que, com a vinda do Messias, o povo de Deus, judeus ou gentios, estariam isentos de obedecer a este mandamento do Senhor. Ou seja, apesar da circuncisão sempre ter sido exigida, desde Abraão, para que o homem faça parte do povo que Deus separou para ser salvo, seja ele descendente de Abraão ou não.

Ninguém era admitido como parte da comunidade santa (separada dos outros povos) se não se submetesse à circuncisão. A circuncisão era o sinal físico da aliança entre Deus e o povo privilegiado. Novamente, este pacto não era limitado ao tempo ou aos descendentes biológicos de Abraão, mas também incluía todos os estrangeiros, para serem oficialmente incluídos na comunidade e serem considerados iguais perante Deus. O Senhor foi claro: “Isso se aplica não apenas aos membros de sua família, mas também aos servos nascidos em sua casa e aos servos estrangeiros que você comprou. Quer sejam nascidos em sua casa, quer os tenha comprado, todos devem ser circuncidados. Terão no corpo o sinal da minha aliança sem fim” (Gênesis 17:12-13).

Se de fato os gentios fossem isentos deste sinal físico para fazer parte do povo separado, não haveria motivo para Deus exigir naquela época, mas não depois da vinda do Messias. Para que isso fosse verdade, teria que haver tal informação nas profecias e Jesus teria que nos dizer que isso ocorreria após a sua ascensão. No entanto, nenhuma das menções na Tanach sobre a inclusão dos gentios ao povo de Deus menciona que eles estariam isentos de qualquer mandamento, incluindo a circuncisão, só porque não eram descendentes biológicos de Abraão: “Ele diz: Você fará mais que restaurar o povo de Israel para mim; eu o farei luz para os gentios, e você levará minha salvação aos confins da terra” (Isaías 49:6).

As Duas Razões da Desobediência

A primeira razão é a dificuldade de cumprir esse mandamento. Em termos gerais, este é realmente um mandamento inconveniente de se cumprir. Sempre foi e continua sendo. Mesmo com os avanços médicos, o cristão que decidir cumprir este mandamento terá que procurar um profissional, pagar uma quantia do próprio bolso (geralmente planos de saúde não cobrem), passar pela cirurgia em si, lidar com as inconveniências pós-cirúrgicas, além do estigma associado, causando a oposição da família, amigos e igreja. O homem tem que estar realmente decidido a cumprir este mandamento do Senhor para ir adiante, caso contrário, ele facilmente desistirá. Incentivo para desistir não falta. Sei disso porque tive que passar por tudo isso aos 63 anos, quando fui circuncidado em obediência ao mandamento.

A segunda razão, e certamente a principal, é que a igreja não possui o correto conceito de delegação ou autorização divina. Esta falta de entendimento foi explorada logo de início pelo diabo quando, poucas décadas após a ascensão de Jesus, começaram as disputas pelo poder entre os líderes das igrejas, culminando com a conclusão absurda de que Deus delegou a Pedro e a seus supostos sucessores a autoridade para fazer qualquer mudança que quisessem na Lei de Deus. Esta aberração não se limitou à circuncisão, mas a vários outros mandamentos contidos na Tanach (Antigo Testamento) que o próprio Jesus e os seus seguidores sempre obedeceram. Inspirada pelo diabo, a igreja desconsiderou que qualquer delegação de autoridade sobre a santa Lei de Deus teria que vir do próprio Deus, através dos seus profetas da Tanach ou através do seu Messias. É inconcebível que simples seres humanos deleguem a si mesmos autoridade para mudar algo tão precioso para Deus como a sua Lei.

Nenhum profeta do Senhor e tampouco Jesus nos alertou que o Pai, após o Messias, daria a qualquer grupo ou ser humano o poder ou a inspiração para anular, abolir, mudar ou atualizar sequer o menor dos seus mandamentos, muito pelo contrário, o Senhor foi claro que isso seria um pecado sério: “Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos mandamentos do Senhor, o seu Deus, que eu lhes ordeno” (Deuteronômio 4:2). Outro ponto importante é a perda da individualidade no relacionamento entre a criatura e o seu Criador. A função da igreja nunca foi a de ser intermediária entre Deus e o homem, mas logo no início da era cristã ela assumiu esse papel. Em vez de cada convertido, guiado pelo Espírito Santo, se relacionar com o Pai e o Filho individualmente, todos começaram a depender totalmente dos seus líderes para lhes dizer o que o Senhor permite ou proíbe. Este sério problema ocorreu em grande parte porque até a reforma do século 16, o acesso às Escrituras era um privilégio eclesiástico e de fato era especificamente proibido que o homem comum lesse a Bíblia por si mesmo, sob a justificativa de que ele não tinha condição de entendê-la sem a interpretação do clérigo.

Cinco séculos se passaram, e apesar de agora todos terem acesso às Escrituras, o povo continua sendo guiado exclusivamente por aquilo que os seus líderes ensinam, certo ou errado, sendo incapazes de aprender e agir por si mesmos quanto ao que Deus exige de cada indivíduo. Os mesmos ensinos errados sobre os santos e eternos mandamentos de Deus que ocorriam antes da reforma continuam sendo transferidos de geração a geração pelos seminários de todas as denominações. Pelo que estou a par, não existe sequer uma entidade cristã que ensina aos futuros líderes o que Jesus ensinou, que nenhum mandamento de Deus perdeu a validade após a chegada do Messias: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um j ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mat 5:18-19).

Continuação do texto em produção…